Guerra e dinheiro escondido: ele refez viagem entre EUA e Brasil por terra
Em 1987, após passar um tempo morando na Califórnia, o surfista brasileiro Adrian Kojin (@adriankojin e @panamericansoul2022) resolveu voltar para o seu país. Ele tinha, na época, 24 anos.
O retorno, porém, não seria feito de avião: Adrian decidiu vir dos Estados Unidos para o Brasil de moto, em uma época em que, diferentemente de hoje, jornadas por terra entre as Américas não eram nada comuns.
Seu objetivo era explorar com calma os diferentes países que existem nessa rota e, logicamente, parar em praias com boas ondas no caminho.
"Coloquei um suporte para minha prancha na moto. Minha ideia era unir minha paixão por viagens com meu amor pelo surfe. E surfei em diversos lugares durante o trajeto, sempre em busca da onda perfeita", diz ele.
Uma viagem assim era muito diferente naquela época. Não havia internet, celulares ou informações detalhadas dos lugares. E quase nenhum estabelecimento aceitava cartão de crédito. Viajei com US$ 2.000 em dinheiro vivo escondidos na minha bota e na moto.
A América Latina, por sua vez, era uma região com áreas muito perigosas (talvez mais do que hoje).
"Antes de sair dos Estados Unidos, muita gente me disse que o percurso seria arriscado. Havia, por exemplo, uma guerra civil [em El Salvador] e a Colômbia vivia a época do Pablo Escobar. Me falaram que minha moto seria roubada na Colômbia".
Adrian, entretanto, conseguiu curtir uma jornada sem ver sua vida em perigo.
"Minha prancha foi meu passaporte para cruzar todos esses territórios em segurança. Todo mundo sabe que surfistas são do bem. E isso me ajudou", afirma.
Até chegar ao Brasil, ele ficou na estrada por 8 meses, passando por 14 países e acampando em lugares paradisíacos por diversas noites ao longo do caminho, como praias do México e Costa Rica.
Era uma época em que havia muitas praias desertas em locais como o México e países da América Central. Bem mais do que há hoje. Era muito tranquilo e seguro montar uma barraca de camping nesses lugares.
E a jornada não se concentrou apenas em praias: no percurso, Adrian também cruzou regiões de deserto, zonas de selva e áreas montanhosas da América do Sul.
Uma nova viagem
Depois de voltar ao Brasil, Adrian teve filhos e trabalhou como jornalista cobrindo o mundo do surfe.
E em 2022, com 59 anos de idade e 35 anos após sua aventura de moto pelas Américas, ele quis refazer a viagem, indo por terra, novamente, da Califórnia ao Brasil.
Desta vez, porém, o roteiro seria realizado com um veículo diferente: nos Estados Unidos, ele comprou uma minivan e, nela, achou espaço para colocar três pranchas, além de um colchão para poder dormir dentro do veículo e equipamentos para cozinhar.
Em agosto do ano passado, ele saiu da Califórnia e começou a descer rumo à América do Sul, parando, de novo, em lindas praias com ótimas ondas.
Quando deu entrevista a Nossa, o brasileiro estava no litoral da Costa Rica.
E, de acordo com suas previsões, este novo roteiro deve durar entre oito e nove meses. A chegada deve acontecer na cidade de Santos (SP), lugar onde Adrian teve seu primeiro contato com o mar, quando criança.
"Estou revisitando algumas praias que conheci na primeira viagem. Mas algumas delas, neste meio-tempo, foram descobertas por surfistas do mundo inteiro e estão lotadas hoje em dia", conta ele.
"E também quero descobrir novas praias que não visitei naquela época, como locais na costa do Pacífico, em países da América do Sul como o Peru".
Reencontros
Os reencontros, entretanto, não são apenas com faixas de areia banhadas por altas ondas.
Na viagem, Adrian está conseguindo rever pessoas com as quais fez amizade durante a viagem nos anos 1980.
Tive sorte de fazer muitos amigos na primeira viagem, ao parar nas praias. E é emocionante reencontrá-los após 35 anos. As ondas passam, mas as amizades ficam.
A jornada, por outro lado, tem sido enriquecida com elementos novos.
O filho de Adrian, por exemplo, foi visitá-lo quando ele estava no México, para que os dois pudessem surfar juntos no litoral do país.
"Na minha primeira viagem, meu filho ainda não tinha nascido. E foi incrível poder surfar com ele agora. Em uma noite de lua cheia, fomos pegar ondas em uma praia deserta, só nós dois. Foi mágico", relata.
O brasileiro está produzindo um livro e um documentário sobre a nova viagem, que devem ser lançados depois que ele chegar ao Brasil.
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