Receita de robô é boa? Provamos hambúrguer do ChatGPT - e faltou humanidade
A plataforma de inteligência artificial ChatGPT, lançada em dezembro, está "causando" em várias áreas: até na gastronomia.
Ela já foi responsável por ajudar um homem a recuperar dinheiro nos Estados Unidos e apoiar um juiz a escrever uma sentença na Colômbia. Agora, virou autora de uma receita de hambúrguer vendido em uma rede de lanches de São Paulo.
Instigada pelos dotes culinários da inteligência artificial, decidi provar o hambúrguer.
E, sim, o ChatGPT é capaz de criar receitas possíveis de serem reproduzidas em qualquer cozinha. Mas...há uma certa humanidade que o robô não conseguiu alcançar.
O "ChatGPT Burger", criado pela Now Burger, está no cardápio vegano da empresa. O pedido entregue por delivery veio quentinho, enrolado em um papel e se parecia bastante com a foto do cardápio, também criada por inteligência artificial.
A Now Burger se dispôs a fazer um hambúrguer fiel à receita criada pelo ChatGPT. Então, quando o sanduíche foi entregue, continha todos os ingredientes da receita.
A peça de hambúrguer é feita de batata doce, feijão preto e grão de bico. O lanche ainda contém cebola roxa e molho barbecue.
"Uma opção deliciosa e saudável para os clientes que buscam uma alimentação consciente e saborosa", diz texto de descrição do produto, também criado pela inteligência artificial.
A qualidade dos produtos era evidente, mas, na primeira mordida, deu para perceber que o ChatGPT deixou de lado algo importante em qualquer alimento vegano. Cadê as plantas?
O hambúrguer recheado apenas com cebola e molho não empolga tanto quanto aqueles repletos de salada.
O robô parece ter focado na diversidade apenas para o próprio hambúrguer, mas esqueceu que, em volta dele, existe um mundo de possibilidades.
Pessoas veganas estão acostumadas com hortaliças, legumes e verduras na alimentação. Quanto mais colorido o prato, mais chances de satisfazer os olhos — e agradar o estômago.
Além disso, a cebola e o hambúrguer pareciam viver em um "casamento arranjado", meio fake. De um lado, o hambúrguer solitário e, do outro, a cebola isolada. A sensação é a de que eles ficam unidos apenas pela pressão do pão. Faltou aquele toque de humanidade e paixão.
A receita criada pelo ChatGPT é prática e cumpre o que propõe: alimentar. Mas, como era de se esperar de um robô, não tem a alegria que existe na comida do cotidiano.
Experimentação
A Now Burger está na ativa desde 2014 e há três anos investe no mercado vegano. A ideia de testar o "ChatGPT Burger" veio na onda da popularização da plataforma.
"Eu queria criar uma receita nova e pensei: deixa eu ver se ele é bom mesmo. Então, coloquei assim na conversa: 'Poderia criar uma receita de hambúrguer vegano barata, inédita, surpreendentemente revolucionária'", conta Milton Costa, 46, responsável pelo estabelecimento.
A primeira opção, segundo Costa, não era tão boa e ele fez um novo pedido por outra receita "mais ousada".
"Alguns pontos da sugestão do ChatGPT eu não concordei e fui conversando com ele como se fosse uma pessoa. Até perguntei se poderia colocar o nome dele no produto", afirma.
Acho que ele não sabia que eu estava fazendo o hambúrguer para uma lanchonete e colocou insumos que sei que não funcionam, como berinjela, que fica mole e não é todo mundo gosta. Fui comentando isso com ele e saiu, então, essa receita
O "ChatGPT Burger" está há três meses no cardápio e, segundo Costa, começou com boas vendas — mas as receitas feitas por humanos continuam sendo as mais queridas.
"Não é um dos mais vendidos porque os outros fazem mais sucesso", diz. No cardápio, a empresa tem diversas opções de sanduíches veganos — e a grande maioria delas são repletas de plantas.
O ChatGPT
A versão do ChatGPT disponível desde dezembro do ano passado foi alimentada com dados até 2021 e usa uma base estática de informações. No entanto, não há muita clareza sobre as fontes utilizadas. O site, de forma oficial, também alerta que o robô não tem compromisso com a realidade.
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