Rabanadas molhadinhas são tradição de Páscoa na Espanha: prove as Torrijas
Ao contrário de boa parte dos brasileiros, que associam rabanadas a Natal, todo espanhol pensa nelas especialmente na Páscoa. As rabanadas espanholas — chamadas torrijas, em castelhano — são um dos quitutes mais típicos da Semana Santa em todo o país, e especialmente presentes em quase todo almoço familiar no domingo de Páscoa.
O clássico pão molhado em leite e ovos antes de ser frito na Espanha geralmente ganha alguns ingredientes diferentes do Brasil (tradicionalmente, vinho, mel, melaço ou açúcar e canela) e é bem mais úmida e molinha por dentro que a nossa, graças a ficar bastante tempo "de molho" no leite.
Consumida majoritariamente na Semana Santa no país todo, a torrija virou também uma das sobremesas favoritas dos madrilenhos o ano todo e anda vivendo uma verdadeira febre em Madri.
A paixão pelas torrijas por ali é tão grande e generalizada atualmente que diversos cafés, restaurantes e docerias passaram a servir a sobremesa o ano todo — e com as preparações e acompanhamentos mais variados.
Origem francesa, sabor espanhol
A palavra torrija vem do verbo "torrar", já que originalmente era preparada tostada ao forno e não frita.
As primeiras referências históricas às torrijas espanholas estão em uma obra do século 1, quando um cozinheiro romano compilou algumas receitas da época. Na receita em questão, a rabanada espanhola ainda não levava ovos e era chamada simplesmente de "aliter dulcia" (prato doce).
Foi só no século 15 que as torrijas apareceram largamente na Espanha, documentadas em diversas obras do pré-Renascimento dos Reis Católicos.
Nos escritos do poeta Juan del Encina, por exemplo, as sobremesas já aparecem chamadas de "torrejas" (essa grafia ainda é usada em alguns cantos do país) e preparadas da maneira tradicional seguida até hoje.
Mas a origem do doce veio provavelmente da vizinha França (não à toa, os americanos chamam rabanadas de french toast). Os primeiros registros do consumo desta iguaria pelos franceses — ali chamada de pain perdu até hoje — datam ainda do século 14.
O reaproveitamento dos pães nesta sobremesa cheia de energia — calcula-se que tenha mais de 250 calorias por fatia, dependendo da preparação — teria aos poucos atravessado fronteiras.
As torrijas são hoje consideradas as sobremesas mais típicas e antigas da gastronomia espanhola; e acredita-se que a tradição nacional de comê-las na Semana Santa e na Páscoa na Espanha veio da proibição, por ser um país católico, de comer carne neste período antigamente.
É provável que, na tentativa de criar receitas para substituir a carne desses dias, com baixo custo mas mantendo em alta a energia dos comensais para viver e trabalhar normalmente, os espanhóis reaproveitassem em torrijas o pão que sobrava no dia a dia, antes que se tornasse muito duro para consumo.
Hoje, as torrijas clássicas continuam sendo preparadas com pão de diversos tipos, leite, ovos, açúcar ou mel, canela e fritas em azeite.
Em muitas cidades e povoados, são molhadas em vinho também. Mas existem ainda torrijas cobertas de chocolate, preparadas com horchata, veganas e servidas até com pipoca.
Clique na imagem abaixo e veja como fazer a versão clássica.
Febre madrilenha: de todo tipo, o ano todo
Dados recentes da ACYRE, uma associação local de cozinheiros e doceiros, mostram que, na capital espanhola, são consumidas mais de 10 milhões de torrijas por ano.
Essa recente febre madrilenha tem resultado em estabelecimentos servindo essa sobremesa durante o ano todo e não apenas na Páscoa, como acontece no restante do país.
Das versões mais simples em pequenos bares e cafés da cidade, a partir de 2,50 euros a unidade, às mais gourmet, que podem passar dos 20 euros em restaurantes badalados, Madri vem declarando sua paixão pelas suas rabanadas com cada vez mais intensidade.
Os mais puristas, como o tradicional restaurante espanhol Casa Felisa, instalado dentro do URSO Hotel, ainda preparam a torrija da maneira clássica e a servem quentinha com uma bola de sorvete de creme (8 euros).
Mas surgiu também uma onda de cafeterias e docerias preparando torrijas com ingredientes por vezes bastante inusitados.
A rede Viena Capellanes criou uma torrija de chocolate com crunch de framboesas, creme inglês e assada no forno (5 euros) que ganhou o prêmio de torrija mais inovadora de Madri em 2023 pela Asempas (Asociación de Pasteleros de Madrid).
A pasteleria Mallorca, verdadeira instituição madrilenha, prepara torrijas de croissants banhados em infusão de baunilha de Madagascar (6,50 euros). O Café Comercial, tradicional ponto de encontro madrilenho, serve torrija caramelizada sobre arroz con leche, outra tradicional sobremesa espanhola (8 euros).
A Pan.Delirio transformou a tradicional rosca de Reis, consumida na Espanha toda no Dia de Reis, em uma torrija artesanal banhada em infusão de limão, mel, canela e baunilha que é servida assada, com açúcar e canela polvilhados (7 euros).
Mais exótico, o bistrô-padaria The Omar, do chef Manuel Villalba, criou torrijas de brioches banhados em leite e merengue, creme inglês, toffee de amendoim salgado e cobertas por pipocas caramelizadas e amêndoas tostadas (5 a 7 euros).
Já o badalado BiBo Madrid, restaurante do chef Dani García, decidiu oferecer a iguaria de diversas maneiras em seu cardápio: a versão clássica (9 euros), a banhada em chocolate branco e acompanhada de frutas vermelhas, coco e melaço (12 euros) e ainda uma proposta mais ousada e alcoólica, preparada com chocolate branco e acompanhada do coquetel Bramble Cobbler, à base de gin (21 euros).
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