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Leonardo Da Vinci teria usado um ovo para pintar a Mona Lisa; entenda

A Mona Lisa no Museu do Louvre, em Paris, na França Imagem: Divulgação/Musée du Louvre

De Nossa

10/04/2023 04h00

A Mona Lisa, uma das obras mais icônicas de toda a História da Arte e motivo pelo qual milhões de turistas peregrinam até o Museu do Louvre em Paris todos os anos, teria sido pintada com um ovo. A conclusão é de um estudo conduzido por um consórcio interuniversitário de pesquisadores da Universidade de Pisa, na Itália, do Instituto de Tecnologia de Karlsruhe e do Doerner Institut, ambos na Alemanha.

Em artigo publicado nesta terça (4) na revista científica Nature Communications, os especialistas apontam que os resíduos de proteínas há muito encontrados na tela não eram resultado de contaminação ao longo dos séculos, mas de uma técnica intencional usada por artistas europeus dos séculos 16, 17 e 18.

"Nossos resultados demonstram que, mesmo com uma pequena quantidade de gema de ovo, você consegue atingir uma mudança incrível das propriedades da tinta a óleo, demonstrando como poderia ter sido benéfica aos artistas", explicou uma das autoras, Ophélie Ranquet, à CNN americana.

Ela ressalta que há registros de poucas fontes sobre a prática e nenhum trabalho científico havia sido feito antes para investigar o assunto profundamente, mas enxerga efeitos duradouros das gemas de ovo nos trabalhos mais disputados de museus, que vão muito além da estética.

Mona Lisa de Da Vinci Imagem: Reprodução

O ovo fez história

Na Antiguidade, os egípcios pintavam com uma mistura chamada tempera, que combinava gema de ovo com pigmentos em pó e água. No entanto, as cores alcançadas eram bem menos intensas do que aquelas que a tinta a óleo [de linhaça ou cártamo] oferece. Além disso, a tempera secava rápido, enquanto a tinta pode durar dias — e facilitava o trabalho dos artistas.

O xis da questão, contudo, é que a tinta a óleo — trazida da Ásia à Europa na Idade Média e recém-desembarcada na Itália na Renascença — tende a escurecer e se danificar com o tempo, especialmente com longa exposição à luz. Da Vinci e outros mestres provavelmente descobriram este problema e recorreram ao antigo método.

"A Virgem do Cravo" foi uma das primeiras pinturas de Leonardo da Vinci e possui marcas de seu envelhecimento, o que indicaria que o italiano ainda não conhecia a técnica Imagem: Domínio Público

Durante o estudo, os pesquisadores conseguiram recriar o método de composição da tinta renascentista usando quatro ingredientes: gema de ovo, água destilada, óleo de linhaça e pigmento. "A adição de gema de ovo é benéfica porque pode afinar as propriedades destas tintas de maneira drástica. Por exemplo, envelhecendo de forma diferente: leva mais tempo para a tinta oxidar graças aos antioxidantes da gema".

Além disso, o ovo limitava os erros. Ranquet explica que o pigmento branco costuma ser bem viscoso e sensível à umidade — ou seja, ele escorre facilmente na tela. Com a camada de proteína fornecida pela gema, a tinta se fixava melhor aos pontos aplicados pelo pintor e tornava sua cor mais vibrante com bem menos pigmento.

"Lamentação sobre o Corpo de Cristo", de Sandro Botticelli, também possui traços da técnica com gema de ovo Imagem: Domínio público

A economia vinha a calhar: encontrar determinadas cores na Renascença não era nada fácil e barato. O azul-marinho, por exemplo, saía da pedra de lápis-lazúli — que na época custava mais que ouro. A diferença entre obras que recebiam o ingrediente extra e aquelas que não contaram com ele também foi observada pelos cientistas.

A "Virgem do Cravo" — uma das primeiras obras de Da Vinci atualmente na Antiga Pinacoteca de Munique, na Alemanha — possui "rugas" ao redor da face de Maria e do Menino Jesus. "Pintura a óleo começa a secar da superfície para baixo e é por isso que enruga", explica Ranquet.

Tanto esforço foi recompensado: A Mona Lisa é uma das obras mais disputadas do Museu do Louvre, o mais visitado do mundo Imagem: Pedro Fiúza/NurPhoto via Getty Images

O uso de pouco pigmento, o que se provava uma necessidade da época, sem a gema de ovo levava a maiores danos na pintura. Mas com as mesmas quantidades de cor misturada à proteína o resultado era bem melhor acabado.

Os pesquisadores concluíram, enfim, que Da Vinci e outros pintores devem ter notado esta propriedade, porque as rugas apareciam já nos primeiros dias e uma pintura poderia levar semanas ou meses para ficar pronta — ou até mais. Michelangelo levou quatro anos para pintar o teto da Capela Sistina, no Vaticano. Um ovo salvou a História.

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