Topo

É possível pegar avião errado? Sim! Veja o que acontece nesses casos

É raro, mas acontece. Já se imaginou estar em um voo errado? - g-stockstudio/Getty Images/iStockphoto
É raro, mas acontece. Já se imaginou estar em um voo errado? Imagem: g-stockstudio/Getty Images/iStockphoto

Natália Eiras

Colaboração a Nossa

21/04/2023 04h00

Cheio de bom humor, Fábio Porchat contou, no programa "A Culpa é do Cabral", do canal Comedy Central, uma história que pode ser o pesadelo de muita gente. Um certo dia, ele estava no aeroporto de Guarulhos (SP), prestes a pegar a ponte aérea para o Rio de Janeiro (RJ).

"Eu fazia esse trecho duas vezes por semana, então todo o processo já era bastante automático", comentou.

Ele viu e memorizou o número de seu portão de embarque, foi ao banheiro, entrou na fila de passageiros e teve seu bilhete escaneado. Sentou no avião e começou a ler um livro que tinha acabado de ganhar.

"Até que vi que eu estava na página 60", narrou.

Ele achou que estava lendo o livro rápido, parou para assistir um filme e até tirou um cochilinho. Mas, quando acordou, percebeu que aquele voo, que deveria durar 40 minutos, parecia longo demais.

"Olhei no relógio e haviam passado 2 horas. Comentei com a passageira do meu lado e ela: 'mas esse voo está indo para Maceió'". Ele havia entrado no portão de embarque errado e pegado o avião em direção a Alagoas.

O caso não é isolado

Em "Que história é essa, Porchat?", Gregório Duvivier quase passou por uma situação semelhante.

No embarque de um voo também de Guarulhos para o Rio de Janeiro (RJ), o ator chegou a sentar dentro da aeronave quando outro passageiro disse que ele estava em seu lugar. "Achamos que podia ter rolado uma duplicidade e chamamos a comissária", comentou o artista no programa da GNT.

gregorio duvivier - Divulgação - Divulgação
Gregório Duvivier também pegou voo errado
Imagem: Divulgação

Quando a funcionária checou o bilhete de avião de Duvivier, ela percebeu que ele estava no voo errado, a caminho de Belém (PA), de uma companhia diferente de seu bilhete de embarque.

Pegar um ônibus errado, seja ele urbano ou intermunicipal, não é algo incomum. Um avião, no entanto, é outra história: diante de tantas checagens, entrar em uma aeronave errada não parece ser uma possibilidade.

"Apesar de ser bastante raro, pode acontecer sim", diz Marcelo Bueno, que, nas redes sociais, é conhecido como O Aeromoço, e trabalha há 12 anos como comissário de bordo em rotas nacionais e internacionais.

Comissário de bordo anda pelo corredor de aeronave - R9_RoNaLdO/Getty Images - R9_RoNaLdO/Getty Images
Comissários contaram para Nossa sobre casos similares
Imagem: R9_RoNaLdO/Getty Images

O que causa esse tipo de erro?

Segundo Marcelo Bueno e Lucas Ramos, criador de conteúdo que trabalhou como comissário de bordo por seis anos na Etihad Airway, dos Emirados Árabes, esse tipo de situação pode acontecer por um erro no sistema de verificação da passagem e falta de atenção dos passageiros e funcionários.

Assim como falta de infraestrutura aeroportuária e sobrecarga de trabalho dos empregados."

É que, normalmente, o bilhete de um passageiro costuma ser verificado durante o embarque, quando os funcionários de solo "bipam", escaneiam a passagem. E, em algumas companhias aéreas, também na porta da aeronave.

Comissária de bordo checa bilhete de passageiro em avião - Getty Images - Getty Images
Comissária de bordo checa bilhete de passageiro em avião
Imagem: Getty Images

"São procedimentos que também garantem a segurança do voo", fala Lucas Ramos. No Brasil, no entanto, não é praxe que haja essa checagem já na aeronave, por exemplo.

"Há, ainda, situações em que dois portões de embarque são muito próximos ou que há o embarque remoto, em que o passageiro precisa ser transportado por um ônibus e acaba por entrar no veículo que o leva a um outro avião", fala o criador de conteúdo.

É um sistema complexo. "Mas não à prova de falhas", complementa o Aeromoço.

Estou no avião errado. E agora?

Uma senhora que deveria estar em um avião de Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, para Casablanca, em Marrocos, acabou embarcando no voo em que Lucas Ramos estava trabalhando, que rumava para Joanesburgo, na África do Sul.

"Os portões de embarque eram muito próximos e, depois de bipar a passagem, em vez de ela ir para a esquerda, foi para a direita", explica o comissário. A proximidade física dos portões e o desconhecimento do inglês podem ter contribuído para o engano.

Mulher com a mão na testa a bordo de avião - RyanKing999/Getty Images/iStockphoto - RyanKing999/Getty Images/iStockphoto
E se já estiver no avião? Quem vai resolver a situação?
Imagem: RyanKing999/Getty Images/iStockphoto

"Já durante o voo, o piloto ajustou as telas dos assentos e ela viu, no mapa, que estava indo para Joanesburgo. Entrou em desespero e começou a chamar os comissários de bordo", conta.

Caso uma pessoa perceba que não está no avião certo, o ideal é que os comissários sejam informados o quanto antes.

"Durante o voo, não tem muito o que fazer. A pessoa terá que ir até o destino final daquele trecho, mas a equipe de bordo pode entrar em contato com os funcionários do solo e ver o que podem fazer pelo passageiro", diz Marcelo Bueno.

Na ocorrência no voo de Lucas Ramos, a filha da senhora foi contatada e ela teve que ficar 24 horas em um hotel, em Joanesburgo. "Depois a companhia a realocou em um voo direto para Casablanca", narra o criador de conteúdo.

Quem se responsabiliza pelo erro?

A Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) diz, em comunicado ao Nossa, que, de acordo com o item 108.25(d) do Regulamento Brasileiro da Aviação Civil (RBAC) n 18, "o operador aéreo, durante os procedimentos de embarque, deve realizar a identificação do passageiro de forma a assegurar que, ao embarque na aeronave, o passageiro seja o detentor do bilhete aéreo e esteja de posse de documento válido de identificação". Ou seja, é obrigação da empresa aérea conferir RG ou passaporte e o tíquete de viagem.

Passageiros fazem check-in em aeroporto - xavierarnau/Getty Images - xavierarnau/Getty Images
Passageiros fazem check-in em aeroporto
Imagem: xavierarnau/Getty Images

"Devendo, portanto, identificar eventual situação em que um passageiro tenta embarcar em um voo diferente do seu", diz o porta-voz do órgão por e-mail.

Assim, um passageiro pega um avião errado quando, segundo a ANAC, a companhia aérea não cumpriu seu dever operacional. "Portanto, a empresa deve arcar com os custos inerentes à movimentação do passageiro para o destino errado, além de toda a assistência material prevista pela Resolução ANAC N 400-2016", complementa o representante.

Lucas Ramos disse que a companhia em que ele trabalhava se responsabilizou pelos custos da passageira que foi parar na África do Sul. "A chefe de cabine foi chamada no escritório da companhia aérea para se explicar, porque, no sistema da empresa, havia a checagem na porta da cabine. Então foi uma falha de segurança", fala o comissário de bordo. Mas nem todos os casos são assim.

Marcelo Bueno estava, por exemplo, trabalhando em um voo que sairia de um aeroporto pequeno, em que o embarque era feito a pé, pela pista. Um passageiro acabou se enganando e entrou no avião errado. "Mas ele não chegou a voar, percebemos o engano porque ele havia se sentado no lugar de outra pessoa", diz.

O avião da pessoa estava, na realidade, parado logo ao lado. "Eram duas companhias, com cores e uniformes completamente diferentes", fala Bueno. Caso ele acabasse decolando, a companhia que emitiu a passagem, ou seja, responsável pelo passageiro, poderia alegar que o engano foi da pessoa e não cobrir os gastos para que ele viajasse para o destino pretendido.

Foi o que aconteceu com um amigo de Lucas Ramos. "Ele ia pegar um voo de Florianópolis (SC) para São Paulo (SP), mas embarcou, por engano, em um para Campinas (SP). A empresa alegou que havia sido erro do meu amigo. A sorte dele é que são cidades próximas", afirma o criador de conteúdo.