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Reservar mesa no restaurante e dar o cano rende multa salgada na Espanha

Caso de restaurante que cobrou 510 euros (cerca de R$ 2.800) de cliente que não apareceu gerou polêmica na Espanha - Getty Images
Caso de restaurante que cobrou 510 euros (cerca de R$ 2.800) de cliente que não apareceu gerou polêmica na Espanha
Imagem: Getty Images

Lucila Runnacles

Colaboração para Nossa, de Madri, Espanha

25/04/2023 04h00

Você escolhe um restaurante para jantar com amigos, faz a reserva uns dias antes, mas na hora tem um imprevisto e não pode ir.

Se isso acontecer no Brasil, é muito provável que você não tenha nenhum problema. Porém, se for na Espanha, pode ser que tenha que pagar uma multa.

Para evitar que casos de "no show" aconteçam, na Espanha é comum que restaurantes com serviços mais elevados ou com poucas mesas disponíveis peçam um adiantamento ou o número do cartão de crédito na hora da reserva — como já acontece quando reservamos um hotel pela internet, por exemplo.

Esse assunto é mais comum do que a gente imagina. No país ibérico, um caso foi parar na justiça; um juiz considerou legal os 510 euros (cerca de R$ 2.800) que um restaurante cobrou de um cliente que reservou uma mesa para jantar para três pessoas e não compareceu.

No site desse restaurante, que fica na cidade de San Sebastián, a política de cancelamento está bem explicada e avisam que é estrita porque o objetivo é proteger o seu pequeno negócio.

É possível cancelar uma reserva com até quatro dias de antecedência, mas se for depois desse período a multa será de 291 euros por pessoa.

Mesa reservada em um restaurante - Getty Images/Tetra images RF - Getty Images/Tetra images RF
Reservar mesa e não comparecer pode gerar prejuízos para o restaurante
Imagem: Getty Images/Tetra images RF

Outro restaurante renomado de Barcelona, com três estrelas Michelin, também tem uma política de cancelamento rigorosa e avisa no seu website que é possível cancelar com até 24 horas de antecedência. Depois disso, o cliente deve pagar 150 euros se não comparecer.

Cliente responsável

O Quymbaya é um restaurante famoso em Madri, com uma estrela Michelin, e oferece cozinha colombiana de autor. O menu servido é fechado, tem vários passos e custa 105 euros por pessoa (sem bebida). Se o cliente reservar e não avisar com até 24 horas de antecedência, tem que pagar 45 euros de "no show".

"Quando abrimos o restaurante, não colocamos essa política, mas com o tempo nos demos conta de que o espanhol é informal nesse sentido: muitas vezes reservava e depois não aparecia. Já com a nova política, acabamos colocando um pouco de responsabilidade nas costas do cliente", explica María Jose Anaya, chefe de sala do restaurante que tem apenas oito mesas e capacidade para receber no máximo 25 pessoas.

Restaurante Quymbaya, em Madri, tem apenas 25 lugares e uma política de cobrança por "no show" - Reprodução - Reprodução
Restaurante Quymbaya, em Madri, tem apenas 25 lugares e uma política de cobrança por "no show"
Imagem: Reprodução

Anaya conta que o estabelecimento oferece um menu degustação e uma experiência gastronômica e, por isso, precisa ter certeza de que o cliente vai aparecer.

Se ele não vier, a comida que preparamos, infelizmente, tem que ser jogada fora" María Jose Anaya

Para evitar que isso aconteça, eles enviam uma mensagem de texto automática no momento que a reserva é confirmada e, uns dias depois, fazem uma ligação personalizada para reconfirmar a reserva e relembrar ao cliente.

Daria certo no Brasil?

Victor Iglesias, sócio proprietário do Grupo Rubaiyat, acredita que ainda é cedo para aplicar esse tipo de política de reserva mais rigorosa no Brasil:

Para restaurantes de autor até acho que daria, mas a longo prazo para restaurantes grandes não vejo que isso possa acontecer agora"

Iglesias levanta também uma diferença cultural que diferencia brasileiros e espenhóis:

"Aqui existe a espera no próprio restaurante. Brasileiro não liga e está acostumado a esperar 1h30 hora ou até 2 horas para poder sentar. Diferente do cliente espanhol que sai de casa para comer sempre com uma reserva já feita", opina.

O empresário conta ainda que, durante uma época, eles até tentaram implementar uma política de reserva pedindo o número do cartão de crédito adiantado, mas as reservas caíram bastante.

"Por causa disso acabamos cancelando essa exigência. O brasileiro não está acostumado com isso e alguns até consideram como uma prática abusiva do restaurante", diz.

Porém, outros lugares que oferecem menus em vários passos pedem um depósito. Em São Paulo, o D.O.M., do chef Alex Atala, cobra um sinal de R$ 150 para o almoço e o valor sobe para R$ 400 se a reserva for feita para o menu servido no jantar — que custa R$ 690 por pessoa.