Criado por monges, pretzel selou casamentos e até salvou Áustria dos turcos

O formato em nó e a casquinha super bronzeada não deixa mentir: o pretzel é um dos maiores "galãs" de qualquer vitrine de padaria dos países europeus. O sabor, a aparência e a praticidade de preparar e comer, porém, ultrapassam fronteiras e também ajudaram o pretzel a conquistar paladares em outros continentes.

A receita é simples. Leva apenas farinha, açúcar, óleo, sal, fermento e água. Mas tem alguns segredos, como revela Helena Mil-Homens, da panificadora St. Chico, em São Paulo.

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"Hoje em dia, algumas receitas trocam parte do açúcar por malte. E para dar o bronze tradicional do pretzel, que não pode ficar muito tempo no forno para não ressecar por dentro e virar biscoito, os profissionais costumam escaldar o pretzel em soda cáustica diluída em água antes do pão ir para o forno."

Quem inventou?

As histórias atribuídas a invenção desse pão são tão curiosas quanto seu formato distinto.

Algumas fontes narram que a primeira fornada de pretzel da história foi assada por monges cristãos que viveram em mosteiro entre o norte da Itália e sul da França por volta de 610 d.C. O pão teria sido inventado como um agrado para recompensar os alunos do mosteiro que aprendiam mais orações.

Criativo, o monge misterioso que seria o "pai" da receita apelidou o pão de "pretiola", que em latim significa "pequenas recompensas". O formato retorcido também é proposital: foi inspirado nos braços cruzados dos discípulos durante as rezas. Conta-se, ainda, que o monge teria deixado 3 buracos entre os nós do pretzel em referência à santíssima trindade.

Com uma história semelhante, os alemães argumentam que os pretzels foram inventados no seu território, originalmente chamados de "bracellae", outro termo em latim que significa "pequenos braços". Mais tarde, os alemães derivaram a palavra "bretzel", que usamos hoje.

Influência divina

Não tem como saber qual etimologia é verdadeira, mas o laço que une a criação do pretzel e a religião católica é inegável.

O formato original do pretzel representa os braços de uma pessoa rezando. O pão era dado como voto de boas vibrações na quaresma e em outras datas cristãs", explica Mil-Homens.

No século 7, contexto em que o pretzel foi criado, a Igreja Católica possuía regras muito mais rígidas em relação à abstinência e jejum durante a quaresma. Carne, laticínios e ovos, nem pensar. E como a receita do pretzel é uma simples mistura de água, farinha e sal, o pão se tornou popular rapidamente.

Por esse motivo, durante a Idade Média, pretzels eram distribuídos por monges como um símbolo religioso e também como sustento literal aos mais pobres. Então, o pão passou a ser visto como um sinal de boa sorte e prosperidade, algo parecido como as hóstias.

Em meados do século 17, os laços entrelaçados do pretzel também passaram a simbolizar o amor eterno. Eles eram tidos como "parte importante de qualquer festa" nas enciclopédias da época. Em alguns países europeus, casais apaixonados comiam um pretzel durante a cerimônia de casamento para "atar o nó" da união. Já na Alemanha, as crianças penduravam pretzels em colares no Ano Novo para atrair prosperidade.

"Acho que por ser fácil de comer e por ser tão bonito na vitrine, os pretzels nunca passaram despercebidos", opina Mil-Homens. "Eles são muito populares na Alemanha, Áustria e países vizinhos, mas mesmo no Brasil vemos que já é um pão conhecido. Tem até franquia em shopping", conclui.

Pretzel da paz

Aos pretzels, é atribuído até mesmo a mudança nos rumos de uma guerra. A história conta que em 1529, soldados do Império Otomano cercaram e escavaram um túnel na muralha de Viena para invadir a cidade austríaca na calada da noite. Por sorte, monges no porão de um mosteiro que estavam preparando pretzels para o dia seguinte teriam ouvido a movimentação e alertado o imperador da Áustria.

Ao fazer isso, os monges conseguiram impedir o ataque e salvar Viena dos turcos otomanos. Em agradecimento, o imperador austríaco emprestou seu próprio brasão aos monges. O desenho é nada menos que dois leões raivosos segurando um pretzel. Ainda hoje, esse "símbolo real" decora a fachada de lojas alemãs especializadas.