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Hambúrguer de jacaré? Maior produtor do mundo desta carne fica no Brasil

Hambúrguer de jacaré é um dos formatos da carne exótica - Rerpodução/Instagram
Hambúrguer de jacaré é um dos formatos da carne exótica Imagem: Rerpodução/Instagram

Carlos Eduardo Oliveira

Colaboração para Nossa

01/05/2023 04h00

Num enorme evento de churrasco gourmetizado, com dezenas de opções para centenas de comensais, há uma fila contínua, sem fim, a maior de todas. Lá pelas tantas, o movimento cai e é a hora de tentar se aproximar. Mas não adianta mais: a carne acabou. Carne de jacaré. A mais pedida e consumida do dia.

Levando esse recorte em consideração, faz sentido a afirmação do empresário Raul Amaral: "Hoje somos o maior frigorífico produtor de carne de jacaré do mundo. A carne de jacaré está caindo no gosto de uma parcela do consumidor brasileiro".

Empresário apaixonado pelo Pantanal, Amaral comanda a Caimasul, de Corumbá (Mato Grosso do Sul). O nome deriva da espécie caiman, popularmente conhecido como jacaré-do-pantanal.

"O jacaré-do-pantanal é da mesma família do crocodilo, só que menor. Em nosso registro não podemos, por exemplo, trabalhar com jacarés de outras origens, da Amazônia, por exemplo. Não é permitido. Tem que ser com o jacaré-do-pantanal", afirma Amaral.

Churrasco de jacaré - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Churrasco de jacaré
Imagem: Reprodução/Instagram

Funciona assim: após um estudo populacional na região para levantar a quantidade de animais existentes, essa planilha é apresentada à Imasul (que atua na região como o Ibama), que por sua vez fornece um limite para a extração de ovos — sim, ovos —, já que a caça e captura são terminantemente proibidos no Pantanal.

Exótica, mas de sabor suave

A partir daí, a empresa tem suas próprias matrizes — hoje são cerca de 1800. Ao nascerem, todos os animais, sem exceção, são registrados no Imasul, que contabiliza com precisão com quantos animas a Caimasul trabalha. Atualmente, a produção conta com 70% de animais de origem de coleta de ovos, e 30% nascidos em cativeiro.

A alimentação é capítulo à parte. "Como crocodilianos não conseguem absorver proteína vegetal, criamos uma ração de base animal, comprando subprodutos de frigoríficos de suínos e bovinos inadequados ao consumo humano, e processando-os até se tornarem um pó com equilíbrio proteico".

O abate se dá por volta dos dois anos e meio, quando os animais atingem entre sete e oito quilos — e sim, como nos bovinos, o processo tem a ver com a maciez da carne. "Quanto antes acontecer o abate, melhor, já que limita a incidência de osteodermas na pele do animal", conta Amaral. A empresa tem licença para o abate de 100 mil animais por ano.

Preparo da carne de jacaré - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Preparo da carne de jacaré
Imagem: Reprodução/Instagram

A pele, aliás, é produto secundário extremamente valorizado na linha de produção da Caimasul: exportado para EUA, México e partes da Ásia, dá origem a bolsas, carteiras e, em especial, calçados em geral. "Aproveitamos o animal praticamente com um todo. Os ossos e a gordura, por exemplo, viram ração para gatos".

"Em minha opinião, o grande diferencial é a carne de jacaré ser considerada a mais magra do mundo", avalia Amaral.

É uma carne branca, sem gordura entremeada, e de sabor suave, apesar de ser considerada carne exótica. Possui 200 vezes mais fibras que um salmão e tem 24% de proteínas, quando a carne bovina tem em media 20%".

Na brasa, na frigideira, cozida, assada em forno - em seu preparo, a carne de jacaré é polivalente. "Pra mim, o melhor tempero é com alho, azeite e um leve sal", ensina o empresário.

Iscas de jacaré - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Iscas de jacaré
Imagem: Reprodução/Instagram

Aliás, o preço é um tanto salgado: R$ 160, em media, as embalagens de 400 gramas de filés, distribuídos e encontráveis em delicatessens e unidades-butique de alguns grandes supermercados. Há ainda na Caimasul uma linha industrializada, que contempla espetinhos pré-prontos, linguiças e, quem diria, até burguers de jacaré.