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Conheça o kimchi, conserva de acelga considerada o arroz-com-feijão coreano

Kimchi é um ícone culinário da Coreia - e tem conquistado também os brasileiros - Getty Images/iStockphoto
Kimchi é um ícone culinário da Coreia - e tem conquistado também os brasileiros
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Carlos Eduardo Oliveira

02/05/2023 04h00

À semelhança de muitas tradições, na Coreia também se atribui a boa comida à presença de uma "mama" na cozinha das famílias. E a regra vale, claro, para o apimentado kimchi, considerado o prato-ícone da nação asiática.

"É bem isso mesmo", endossa o chef paulistano Paulo Shin. "A alimentação do coreano tem como muito marcante a presença da matriarca. Se não é a avó é a mãe, e assim o bastão vai sendo passado de geração a geração".

Shin entende como poucos do métier. Durante anos, comandou, na Barra Funda, a cozinha do Komah, crossover culinário Coreia-Brasil de excelência, não poucas vezes incensado como uma das melhores mesas da Pauliceia, com direito a premiações (para o restaurante e o chef).

"Apesar de os tempos terem mudado, eu falo por experiência: em casa, quem cozinhava era minha avó. Era ela quem fazia os kimchis e outros tipos de conservas. Inclusive, ela vendia kimchi para alguns comércios no Bom Retiro", conta o chef, referindo-se ao bairro da região central que concentra muito das atividades comerciais da colônia coreana na cidade.

Quando a avó faleceu, Shin revela, a mãe, ocupou seu lugar. "Ou seja, a receita de kimchi da família ainda é a mesma", diz.

Kimchi do Komah - Divulgação - Divulgação
Kimchi do Komah
Imagem: Divulgação

O que é o kimchi

Na verdade, kimchi é um termo meio genérico que denomina comida em formato de conservas. Tipo um picles. E dentro desse universo, há inúmeras possibilidades, não necessariamente apimentadas.

"Apesar de todos associarem o kimchi à pimenta, e a maioria ser mesmo apimentada, nem todos o são", revela Shin.

O kimchi universalmente célebre é o de acelga, que é fermentada com alho, cebola, gengibre, pimenta em pó, pimentão, sal e açúcar, entre outros ingredientes — muito bom para a saúde, dizem os coreanos. Na Coreia, produz-se também kimchis de pepino, de cebolinhas, com ou sem proteínas (carnes, peixes, frutos do mar, frutas, etc), etc.

Kimchi com carne de porco e arroz - Getty Images/iStockphoto - Getty Images/iStockphoto
Kimchi com carne de porco e arroz
Imagem: Getty Images/iStockphoto

A única "cláusula pétrea" é: comer kimchi pressupõe o acompanhamento de arroz.

O kimchi é o feijão com arroz do coreano", brinca Shin, por conta de sua polivalência como aperitivo, entrada, guarnição, ou ladeando acompanhamentos diversos.

E em qualquer refeição — até no café da manhã, que na Coreia, assim como na Ásia em geral, pouco corresponde ao "nosso" desjejum matinal. "Inclusive, como a cozinha coreana tem muitos pratos adocicados, o kimchi dá equilíbrio, por conta de sua acidez e crocância", ensina o chef.

Há ainda a questão regional. Dessa forma, os kimchis de regiões costeiras não raro levam frutos do mar, enquanto que os do interior podem ser à base de carne suína ou osso de boi, o que resulta em um kimchi mais caldoso que o tradicional. "A intensidade da pimenta também varia muito. Um kimshi pode ser bem apimentado, mas isso não necessariamente faz dele o melhor".

Herança familiar

Paulo Shin - Bruno Giraldi/Divulgação - Bruno Giraldi/Divulgação
Paulo Shin
Imagem: Bruno Giraldi/Divulgação

Em 2022, Shin surpreendeu a todos ("até a mim mesmo", brinca) ao abandonar a cozinha do Komah "por problemas societários", revela. Muitos antes do sucesso à frente da casa, seu primeiro termômetro da familiaridade brasileira com o kimchi — e com os sabores coreanos em geral — havia sido no St. Paul's Pub, em Pinheiros, onde pela primeira vez pode explicar a comida coreana a paladares ainda não iniciados.

"Minha mãe fornecia o kimchi, que era muito bem aceito, numa proporção que eu não esperava. As pessoas comiam muito, como se fosse salada, e sempre pediam mais", relembra.

Encontrável em São Paulo em empórios orientais do Bom Retiro e também da Liberdade, o saboroso kimchi é vendido em embalagens plásticas transparentes, apresentação que ressalta a coloração avermelhada (olha a pimenta aí!), bem como seu caráter artesanal — há vários tamanhos e pesos.

Seja na rua ou em casa, quando se fala de kimchi, não existe 'o melhor'. Cada família tem a sua receita, vai muito de herança família", define Shin.

De avó para netos

"Para um coreano, o kimchi é tão importante na mesa que mesmo que você não coma, ele vai estar lá. Inclusive, tenho até clientes brasileiros que comem feijoada com kimchi ", diverte-se John Shu, do Uri Omna Kimchi, no Bom Retiro. "E tem um cliente árabe que come homus com kimchi" — histórias verídicas, diga-se.

Recém-inaugurado, o simpático local, espécie de rotisserie coreana, oferece kimchi artesanal e outros acompanhamentos coreanos feitos lá mesmo — o pote do maná com 600 gramas custa a partir de R$ 28. A receita está na família há gerações.

Kimchi com macarrão - Getty Images/iStockphoto - Getty Images/iStockphoto
Kimchi com macarrão
Imagem: Getty Images/iStockphoto

"Décadas atrás, quando minha mãe casou e soube que vinha para o Brasil, minha avó disse: 'você vai ter que aprender a fazer para comer lá'. E ensinou a ela o kimchi e outras receitas coreanas". Com o passar do tempo, o "kimshi da Dona Yu", que ela vendia na região do Bom Retiro, ganhou (muita) fama. "Ele é feito fresco, como se fosse uma salada, mas o grande segredo é que vai fermentando até o ponto ideal. Na Coreia, há kimchis que fermentam por até um ano", revela John.

Segundo ele, de alguns anos para cá aumentou muito a procura de brasileiros (e também de clientes de ascendência árabe vivendo no Brasil) por kimchi e outros bocados coreanos. "Há muita curiosidade, certamente ajudada pela alta dos dramas e filmes coreanos, e também do k-pop. Muitas vezes as pessoas vêm conhecer sem nunca ter provado antes", assegura.

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