Sabe atirar? Viajante brasileiro relata tensão na imigração da Ucrânia
Congestionamento de caminhões e carros, cães farejadores, filas que duram até quatro horas e uma enorme quantidade de mulheres sozinhas. Essa é a realidade de quem cruza a fronteira na Ucrânia, país em guerra desde fevereiro de 2022.
O viajante Robson Jesus (@onegovailonge), 34, vem percorrendo o mundo para ser o primeiro homem negro a visitar todos os países do planeta.
E essa semana ele teve o desafio de cruzar sua nação de número 87: Ucrânia. Isso tudo cruzando uma das fronteiras mais tensas da atualidade, na Polônia.
Com as passagens já compradas para visitar o país, Robson se deparou com uma notícia preocupante dada pelo presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky: uma contraofensiva contra as tropas russas está em andamento e "vai acontecer".
Ele relata que mesmo assim seguiu o planejamento da viagem por já ter se comprometido com uma família ucraniana que iria hospedá-lo, mas optou por visitar uma das cidades que são consideradas nesse momento pelo país como mais seguras, chamada Lviv.
A chegada na fronteira foi na última terça-feira (2), e ele relata uma das primeiras impressões que sentiu ao entrar no país:
Eu saí de Cracóvia, na Polônia, e ao nos aproximarmos da fronteira ucraniana passamos por uma longa fila de carros e caminhões. No posto de controle, fiquei duas horas esperando para ser atendido e eu só via muitas mulheres, já que os homens não podiam sair do país. Quando chegou minha vez, eu disse aos policiais que era turista brasileiro e em questão de minutos o carimbo foi adicionado ao meu passaporte".
A região de Lviv, com cerca de 800 mil habitantes, tem sido o destino pelo qual milhões de ucranianos, a maioria mulheres, crianças e idosos, vêm escapando do país.
Após a invasão russa, o governo ucraniano proibiu a maioria dos homens de até 60 anos de deixar o país, para que estejam disponíveis ao serviço militar, e reforçou ainda mais a segurança nas fronteiras.
O criador de conteúdo comenta que seu anfitrião, um jovem de aproximadamente 30 anos, conseguiu a liberação de ser soldado na guerra, mas que é proibido de deixar o país.
Quando ele chegou na cidade, que fica a oeste da Ucrânia, sentiu que ela vinha sendo poupada de bombardeios e mísseis, embora os ataques mais recentes no país tenham prejudicado alguns setores.
"A energia da cidade acaba à 0h e fica até as 5h da manhã, isso foi muito estranho, não ter energia elétrica", afirma Jesus.
Menos fotos e homenagens
Acordei para caminhar pelo centro da cidade e me deparei com um soldado em frente a um grande galpão sem identificação. Eram sacos de areia e uma cerca de arame que mais se assemelha a uma trincheira. Eu acredito que seja um posto de controle militar, e ali me deu uma sensação de que estamos em uma zona de guerra. Minha ansiedade voltou por alguns instantes."
Robson afirma que evitou tirar fotos pela cidade, e principalmente de postos de controle pelo caminho e soldados. Ele ficou surpreso ao ver parte de Lviv em reforma, e principalmente sendo reconstruída em partes onde foi bombardeada.
A maioria das janelas e prédios está coberta com tábuas, porque eles estão reconstruindo as áreas afetadas pelo bombardeio na cidade, são vários lugares assim."
No centro da cidade ele avistou uma grande multidão de pessoas saindo de uma igreja fazendo uma homenagem a um soldado que morreu no campo de batalha.
"Ao mesmo tempo que está tudo normal, isso ainda é surreal para mim, ver as placas de homenagens dos soldados mortos nas praças públicas, e ao mesmo tempo ver uma quantidade grande de mulheres caminhando pelas ruas".
Ele conta ainda que é frequente a sirene de ataque aéreo na cidade, mas que durante a noite que passou por lá nada aconteceu. E que a família onde ele se hospedou se diz acostumada a não se antecipar ou ficar em alerta, porque geralmente é um alerta aéreo nacional, não especificamente para Lviv.
Dá para 'turistar' no meio de uma guerra?
Robson conseguiu andar pelas ruas do centro de Lviv como se fosse uma cidade qualquer da Europa. Em um restaurante, aproveitou para conversar com os funcionários.
Me disseram que eles estão trabalhando e tocando a vida normal, mas sem turistas, está tudo vazio. E que a maioria dos restaurantes ou bares tem uma área subterrânea para abrigo em caso de bombardeio. Eu cheguei a entrar lá, e o engraçado é que a gente pensa por conta dos filmes, na realidade é apenas um subsolo sem nenhuma estrutura com comida ou roupas".
Em sua caminhada pelo centro, observou uma quantidade grande de crianças em excursão pela cidade, e ficou sabendo pelos locais que elas sofreram muito durante os bombardeios porque muitas foram forçadas a deixar suas casas, e seus familiares estão em diferentes lugares.
A saída foi tensa
Na hora de deixar a Ucrânia, no dia seguinte, Robson encontrou mais dificuldade do que na hora da entrada.
"Eu peguei um ônibus na rodoviária em direção a Cracóvia, na Polônia, e quando passamos pela fronteira todos tiveram que descer, e fiquei em uma fila junto com outros passageiros, que mais uma vez só mulheres, e apenas eu e mais um outro rapaz de homens. Ficamos quatro horas na imigração, era muita gente, e dessa vez não queriam me liberar", explicou.
O viajante brasileiro passou por um longo interrogatório até que fosse liberado para seu próximo destino.
Faziam diversas perguntas, depois vieram com cães farejadores. Me perguntavam em inglês se eu tinha cigarro ou álcool na mochila e se sabia dar tiro".
O que ele relata é que as pessoas estão uma vida normal como se não houvesse guerra, e que até semana passada - antes do pronunciamento do presidente ucraniano sobre o contra-ataque - eles estavam mais otimistas e patriotas quanto a um possível acordo de paz, mas que agora voltaram a realidade de não saber quando o conflito vai acabar.
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