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K-pop vai além da música e astros coreanos também dominam o mundo da moda

Black Pink se apresenta no Coachella 2023 com produções da grife francesa Mugler - Emma McIntyre/Getty Images for Coachella
Black Pink se apresenta no Coachella 2023 com produções da grife francesa Mugler
Imagem: Emma McIntyre/Getty Images for Coachella

Fernando Barros

Colaboração para Nossa

17/05/2023 04h00

Com batidas que misturam diferentes ritmos musicais, refrões chiclete, passinhos coreografados, bandas formadas por jovens e visuais coloridos, o k-pop é um fenômeno indiscutível. Da Coreia do Sul para o mundo, esse gênero atrai uma multidão de fãs, contabiliza números gigantescos nos aplicativos de streaming e redes sociais e sua influência vai além da música.

O universo da moda, por exemplo, se rende cada vez mais à popularidade dos idols — como são chamados os artistas desse estilo musical — e ao seu poder de mobilização. Nos últimos anos, grifes como Calvin Klein, Gucci e Louis Vuitton têm se aproximado dos membros de bandas expoentes desse gênero, como BTS, Black Pink e Exo.

É com base nesse poder de influência que os artistas sul-coreanos se tornam embaixadores globais das grifes, marcam presença em campanhas publicitárias, desfiles e primeiras fileiras das principais semanas de moda.

Em janeiro deste ano, Jimin, um dos cantores do BTS, foi oficializado como o novo embaixador da Dior. Antes, o artista já havia usado looks criados pelo diretor criativo da linha masculina da marca em turnê. Coincidência ou não: de acordo com o "Wall Street Journal", a grife francesa alcançou um marco histórico dois dias após o anúncio da parceria, ao atingir seu maior valor nominal em ações desde 2002.

Jimin, do BTS, é embaixador da Dior - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Jimin, do BTS, é embaixador da Dior
Imagem: Reprodução/Instagram

Outros membros do grupo também possuem parcerias com marcas de luxo. Ainda em janeiro, o cantor Suga, se tornou embaixador da Valentino, em fevereiro, foi a vez de J-Hope na Louis Vuitton, em março, Jung Kook foi anunciado pela Calvin Klein e V na Celine e, em abril, RM fechou com a Bottega Veneta.

Suga veste Valentino - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Suga veste Valentino
Imagem: Reprodução/Instagram
J-Hope veste Louis Vuitton - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
J-Hope veste Louis Vuitton
Imagem: Reprodução/Instagram

Segundo levantamento próprio de Ana Paula, após o anúncio da nomeação de Jung Kook como embaixador global da Calvin Klein em março, a PVH Corp, proprietária da marca, registrou um aumento de 20% no valor das ações em apenas quatro dias, saltando de US$ 72,26 para US$ 88,36 por ação.

Jung Kook veste Calvin Klein - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Jung Kook veste Calvin Klein
Imagem: Reprodução/Instagram

Se os astros masculinos estão com tudo na indústria da moda, as estrelas femininas do k-pop não ficam atrás e ajudam também a ilustrar essa relação.

As cantoras do Black Pink, por exemplo, são queridinhas das marcas de luxo. Rosé é um dos nomes que ajudam a promover a Tiffany, Lisa tem parcerias com a Celine e a Bulgari, Jisoo é embaixadora da Dior e Jennie, da Chanel.

Jisoo representa a Dior - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Jisoo representa a Dior
Imagem: Reprodução/Instagram
Jennie para a Chanel - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Jennie para a Chanel
Imagem: Reprodução/Instagram

Além desses, outros artistas sul-coreanos têm sido recrutados pelas grandes marcas de moda, a exemplo de Kai, do Exo, e IU, que são rostos de campanhas da Gucci, e Chanyeol, que é um dos embaixadores da Prada.

Quando estes astros da música pop coreana não vão até os centros da moda — como as primeiras filas da semanas de moda mais recentes de Paris, Milão, Londres e Nova York —, as grifes também vão até a Coreia. Prova disso são os desfiles da coleção pre-fall da Louis Vuitton no final de abril e da cruise da Gucci nesta terça (16), em plena Seul.

Desfile da Louis Vuitton, na ponte Jamsugyo, em Seul, Coreia do Sul - Giovanni Giannoni/WWD via Getty Images - Giovanni Giannoni/WWD via Getty Images
Desfile da Louis Vuitton, na ponte Jamsugyo, em Seul, Coreia do Sul
Imagem: Giovanni Giannoni/WWD via Getty Images
Desfile da Gucci, no Palácio de Gyeonbokgung, em Seul, Coreia do Sul - WWJD/WWD via Getty Images - WWJD/WWD via Getty Images
Desfile da Gucci, no Palácio de Gyeonbokgung, em Seul, Coreia do Sul
Imagem: WWJD/WWD via Getty Images

Onda coreana

A moda é definitivamente outro universo dominado pelo k-pop e esse casamento não é à toa. A Coreia do Sul é hoje a quarta maior economia do continente asiático e a décima primeira no mundo, com um PIB estimado em US$ 1,811 trilhão. E não para por aí: o k-pop participa ativamente desse cenário econômico.

Segundo dados do Hyundai Research Institute, só o BTS, maior grupo do gênero no país, gerou pelo menos US$ 3,6 bilhões por ano para a economia sul-coreana com suas apresentações, produtos e lançamentos, até 2022, ano em que anunciou uma pausa para os membros cumprirem serviço militar obrigatório. O valor é o equivalente à movimentação de 26 empresas de médio porte no país.

Membros do BTS em lançamento de single em 2021 - Getty Images - Getty Images
Membros do BTS em lançamento de single em 2021
Imagem: Getty Images

Para entender a força do k-pop, é necessário saber que o fenômeno faz parte de um movimento maior chamado de "Hallyu", que nada mais é do que a popularização da cultura sul-coreana para outros países a partir dos anos 1990. Essa expansão foi fruto de um esforço deliberado do governo do país para aumentar seu poder de influência mundialmente por meio dos produtos culturais nacionais, o chamado "soft power".

A utilização da cultura popular como projeto geopolítico é uma característica tão marcante da Coreia do Sul que o país chegou a criar um fundo de US$ 1 bilhão especificamente para fomento do k-pop. O investimento foi responsável pelo fortalecimento do mercado musical e pela transformação da sua indústria fonográfica em uma das maiores do mundo, saindo da 30° posição, em 2007, para a 6°, em 2017, por exemplo.

Como resultado, o movimento explodiu para além do continente asiático. Segundo dados do Spotify, desde 2018, os streams de k-pop no aplicativo aumentaram 230% globalmente. Isso significa quase 8 bilhões de streams por mês em todo o mundo.

Exo se apresenta em Hong Kong, em 2019 - Visual China Group via Getty Images - Visual China Group via Getty Images
Exo se apresenta em Hong Kong, em 2019
Imagem: Visual China Group via Getty Images

No Brasil, só de janeiro a agosto de 2022, a procura por músicas do gênero na plataforma cresceu 36%, totalizando mais de 11 milhões de streams. No TikTok, a hashtag k-pop contabiliza mais de 201 bilhões de visualizações.

Olho no mercado de luxo

Paralelamente, o estilo tem ajudado a projetar e despertar o interesse pelo país internacionalmente. Tanto que antes da pandemia do novo coronavírus, em 2019, de acordo com levantamento realizado pela Organização de Turismo da Coreia do Sul, 86,8% dos visitantes entrevistados à época disseram ter sido o gosto pelos grupos de k-pop o motivo pelo qual escolheram o país como seu destino.

Com números tão expressivos, essa onda coreana obviamente também atrai a atenção das marcas globais de moda, de olho nas possibilidades de influência representadas pelo sucesso do estilo musical. Some-se a isso o fato de a Coreia do Sul ser hoje um dos principais mercados consumidores de produtos de luxo da atualidade.

Grupo Le Sserafim no desfile da Louis Vuitton em Seul, Coreia do Sul - The Chosunilbo JNS/Imazins via Getty Images - The Chosunilbo JNS/Imazins via Getty Images
Grupo Le Sserafim no desfile da Louis Vuitton em Seul, Coreia do Sul
Imagem: The Chosunilbo JNS/Imazins via Getty Images

Segundo dados da empresa Morgan Stanley, especializada em serviços financeiros, o consumo de bens desse tipo no país cresceu 40% em relação ao período anterior à pandemia. Além disso, culturalmente, os sul-coreanos costumam ser vistos como vaidosos, interessados em cuidados pessoais e abertos às novidades.

Provavelmente, muitos desses consumidores parecem buscar ou saber mais informações sobre produtos de luxo através das plataformas de redes sociais, onde os astros sul-coreanos possuem perfis com milhões de seguidores em todo o mundo e é por isso que diversas grifes internacionais vêm anunciando esses artistas como embaixadores de marca nos últimos anos.

A designer de moda, criadora de conteúdo e fundadora do 52 Concept, um e-commerce de roupas e acessórios fanmade do grupo BTS, Ana Paula Valadares, acredita que a indústria fashion foi hábil em perceber que os idols são líderes de tendências.

Isso porque eles possuem uma fanbase grande, ativa, fiel e engajada nas redes sociais. São fãs que consomem tudo que eles fazem ou promovem como se fossem colecionadores fazendo com que esses artistas tenham um toque de Midas para vender produtos", avalia.