Rio é uma das cidades menos amigáveis para estrangeiros, segundo ranking
Dá para qualificar o quanto uma cidade é amigável e receptiva para estrangeiros? Medir a felicidade dessas pessoas em um território que não é o seu e levar em conta assuntos tão diferentes como segurança, comunicação em inglês e tratamento dado a minorias?
E e, no fim, juntar essas avaliações subjetivas para formar um ranking? Na lista que veremos a seguir, o Rio de Janeiro levou zero em um dos tópicos e acabou no fim da lista de 53 cidades avaliadas.
A plataforma de ensino de idiomas Preply, fundada nos Estados Unidos e com escritórios em 30 países, criou o que ela chamou de "índice de espírito de comunidade".
Com base em seis medidas, montou uma lista, divulgada em abril, com as cidades mais (e as menos) receptivas do mundo.
Como funcionou a avaliação?
Os seis itens medidos são mais ou menos subjetivos, mas a plataforma tentou dar a eles alguma objetividade. São eles:
- Taxa de retorno de visitantes: a porcentagem de pessoas que voltam a uma cidade, o que indicaria uma impressão positiva do lugar.
- Acomodações amigáveis: a porcentagem de avaliações de hotéis e outras acomodações que usam o termo "amigável" nas resenhas e comentários.
- Respeito da comunidade: índice de segurança da cidade, tanto para moradores como para visitantes.
- Aceitação da diversidade: índice de igualdade para a população LBTQIA+.
- Felicidade: índice de felicidade de acordo com os habitantes da cidade.
- Facilidade de comunicação: proficiência da população local em inglês.
As campeãs
O ranking avaliou 53 cidades em todos os continentes. Não surpreende que as primeiras colocadas sejam de países ricos e com inglês como língua nativa (dado o último item de avaliação). Entre as dez primeiras, as exceções são Montreal, que fica na porção francófona do Canadá, e Copenhague, na Dinamarca.
- Toronto (Canadá)
- Sydney (Austrália)
- Edimburgo (Reino Unido)
- Manchester (Reino Unido)
- Nova York (EUA)
- Montreal (Canadá)
- Melbourne (Austrália)
- São Francisco (EUA)
- Dublin (Irlanda)
- Copenhague (Dinamarca)
"Com uma pontuação de felicidade de 7,03 (de 10) e uma pontuação de igualdade LGBTQI+ muito alta, de 90 (de 100), Toronto é um lugar inclusivo e acolhedor para todos", explicou a plataforma em seu site. Toronto tem uma taxa de retorno de visitantes de 15%, considerada alta.
Já Sydney tem uma taxa um pouco maior, de 16%. A cidade que até o mês passado era a maior da Austrália (foi ultrapassada por Melbourne) se destaca em segurança (65,87 de 100) e em igualdade LGBTQI+ (84 de 100).
A inglesa Manchester foi a campeã na avaliação categoria de acomodações equipes amigáveis em hotéis. Tel Aviv, em Israel, teve a nota mais alta em igualdade LGBTQI+, com 73,03. Já Copenhague é a mais feliz, com nota 7,53.
As 'rebaixadas'
Com taxas baixas de proficiência em inglês e avaliações negativas de profissionais de hotelaria, cidades de países em desenvolvimento ou emergentes dominaram a parte de baixo da lista. As exceções, aqui, são Atenas, na Grécia, e Lyon, na França.
- 44º Lyon (França)
- 45º Medellín (Colômbia)
- 46º Atenas (Grécia)
- 47º Doha (Qatar)
- 48º Délhi (Índia)
- 49º Rio de Janeiro (Brasil)
- 50º Mumbai (Índia)
- 51º Kuala Lumpur (Malásia)
- 52º Marrakesh (Marrocos)
- 53º Acra (Gana)
Rio levou zero em um dos quesitos
O Rio de Janeiro se destacou negativamente no item "acomodações amigáveis": nota zero. Só Lyon conseguiu ir tão baixo. A capital fluminense também teve a pior avaliação em segurança (22,36 de 100), bem abaixo da penúltima colocada na categoria, Kuala Lumpur (37,37).
O ranking foi criticado nas redes sociais por suas métricas. Um usuário do Twitter postou: "Deveria ser chamado '25 países vistos como amigáveis por viajantes ricos, brancos e anglo-saxões'". Outro comentou que o item diversidade olha apenas a questão LGBTQIA+, ignorando a violência racial. Além disso, a Preply não explica como avaliou temas como segurança e felicidade.
A taxa de retorno também é controversa porque pessoas que viajam a trabalho muitas vezes, ou quase sempre, não escolhem para onde ir nem para onde voltar. Além disso,Por fim, é evidente que, por ser uma plataforma de idiomas, elaa Preply vai dar um peso grande, talvez até demais, à fluência de inglês para medir a amigabilidade de uma cidade.
Lista causou polêmica
Chama atenção também a lista ignorar transporte e a profusão de carros o peso dado aos carros nas cidades, algo que há décadas é debatido por urbanistas como algo central para avaliar a qualidade de vida em um lugar. Em 1961, Jane Jacobs já tratava do assunto em "Morte e Vida de Grandes Cidades".
No livro, a autora mostra que o aumento dramático do tráfego de automóveis e a ideologia de planejamento urbano que segmenta os usos da cidade e prioriza edifícios independentes e autônomos mataria o espaço urbano e criaria cidades vazias e sem vida. Algo essencial para analisar o quanto um lugar é amigável.
Então, sim, o ranking acaba sendo uma lista de cidades amigáveis para o viajante falante de inglês. De preferência o inglês dos países ricos, porque não deixa de ser irônico que entre os países com a pior avaliaçã oavaliação estejam duas ex-colônias britânicas, Gana e Índia, onde o inglês é um dos idiomas oficiais.
Existe amizade em SP?
São Paulo se destacou em outra métrica no ranking. Dentre as cidades avaliadas, nenhuma teve mais buscas na internet por "how to make friends" ("como fazer amigos") do que a capital paulista. Nova York e Paris vieram logo atrás no quesito.
Segundo a plataforma, isso indicaria lugares em que há uma maior demanda por conexões humanas. "Seja você alguém supersociável ou um tímido introvertido, essas cidades são o lugar para se estar se você quiser expandir seus círculos sociais e conhecer gente nova.", explica, no site.
Um outro Rio?
Se a internet popularizou listas e rankings, com algum critério científico e estatístico ou apenas por achismo, zoeira ou caça-cliques, é claro que há outros rankings do tipo. Um deles, divulgado há pouco tempo, pinta o Rio com cores muito mais amistosas do que a Preply.
A prestigiada revista de turismo "Condé Nast Traveler", em seu mais recente ranking de cidades mais amigáveis do mundo, feito com base nas avaliações dos leitores, deu à cidade brasileira o segundo lugar. "É um lugar onde é fácil se envolver pela atmosfera descontraída. Itinerários detalhados são comumente abandonados assim que você começa a perambular pelas ruas movimentadas", descreveu a revista.
O outro lado
Após a publicação da matéria baseada no ranking da plataforma Preply, a assessoria de comunicação da Rio Convention & Visitors Bureau (Rio CV/Visit Rio), enviou nota a Nossa com seu posicionamento. Veja a íntegra:
O Rio Convention & Visitors Bureau (Rio CVB/Visit Rio) informa que o Rio de Janeiro é frequentemente apontado em levantamentos nacionais e internacionais como um destino amigável ao turista. Uma recente enquete, da prestigiada revista de turismo "Condé Nast Traveler", posiciona a cidade em segundo lugar no mundo nesse ranking. No ano passado, a Praia de Ipanema também foi eleita como a segunda melhor do mundo para o público LGBTQIA+, em votação promovida pelo site GayCities. O Rio de Janeiro também foi apontado como uma das cidades mais desejadas por esse público para viagens no pós-pandemia. O Rio Convention representa uma vasta relação de mantenedores do turismo que atuam para tornar a cidade cada vez mais preparada e receptiva aos visitantes.
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