'Agora Inês é morta': conheça a trágica história de amor por trás do ditado
Provavelmente você já ouviu, ou até mesmo usou, o ditado popular "Agora é tarde, Inês é morta" para dizer que agora não adianta mais, já era, é muito tarde para fazer algo a respeito.
Mas você sabe qual a sua origem? Essa expressão é inspirada em uma das mais bonitas e trágicas histórias de amor da Europa medieval: o amor proibido de Dom Pedro 1º (oitavo rei de Portugal) e a dama galega Inês de Castro.
A triste e macabra história de amor do casal pode ser comparada a 'Romeu e Julieta', de Shakespeare, com a diferença de que essa é real e teve como palco as cidades de Coimbra e Alcobaça, em Portugal.
Apesar de casado, o então príncipe Pedro manteve com Inês uma relação proibida, mas nem tão secreta, que gerou quatro filhos. Depois da morte da esposa oficial, a princesa de Castela Constança Manuel, Dom Pedro passou a viver maritalmente com Inês, o que gerou um escândalo na corte.
Com a autorização do rei Dom Afonso 4º, pai do príncipe, Inês foi assassinada em janeiro de 1355. Após a morte do rei, em 1357, Dom Pedro assume o trono de Portugal, e uma das suas primeiras ações foi mandar matar os assassinos de sua amada.
Pouco tempo após ser coroado, Dom Pedro convoca a nobreza, o clero e o povo para comparecer no Mosteiro de Santa Clara, em Coimbra, onde Inês estava sepultada. Para o evento, Inês foi desenterrada e vestida apropriadamente com uma roupa luxuosa e uma coroa. Sentada no trono, todos os presentes foram obrigados a beijar a mão direita de Inês.
Claro que a vontade de Dom Pedro era de que Inês de Castro estivesse viva para reinar ao lado dele, mas isso não foi possível porque "Agora Inês é morta". Assim, foi realizada a coroação da primeira e única rainha póstuma de Portugal.
Ao final da cerimônia, os restos mortais da "rainha cadáver" foram levados para o Mosteiro de Alcobaça, mesmo lugar onde foi sepultado D. Pedro, em 1367.
Coimbra, palco do amor proibido
Agora que você já sabe a história do ditado popular, saiba que é possível também conhecer os lugares onde tudo aconteceu. A cidade de Coimbra (a 204 quilômetros de Lisboa) é conhecida por abrigar uma das universidades mais antigas da Europa, mas lá estão também os lugares onde Pedro e Inês viveram intensamente seu amor.
O casal morou, até a morte de Inês, no Paço de Santa Clara, atualmente conhecido como Mosteiro de Santa Clara-a-Velha. O lugar foi construído pela avó de Dom Pedro, a rainha Isabel de Aragão. Aberto a visitas (4 euros por pessoa), o Mosteiro engloba a igreja e as estruturas arqueológicas restauradas.
A lenda da Quinta das Lágrimas
Há duas teorias a respeito da morte de Inês de Castro. Uma diz que ela foi assassinada no Paço de Santa Clara. Porém, a que tem mais força é a de que ela morreu nos Jardins da Quinta das Lágrimas.
Diz a lenda que as lágrimas de Inês, derramadas no rio Mondego (que corta Coimbra), teriam criado a Fonte das Lágrimas e que as algas avermelhadas que ainda hoje existem ali seriam o sangue de Inês escorrendo no momento de sua morte.
Verdade ou não, a Quinta das Lágrimas é um lugar de visita obrigatória para quem quer conhecer mais sobre o casal.
A propriedade tem cerca de 18 hectares e abriga um antigo palácio do século 19, hoje transformado em hotel. No entanto, para conhecer as fontes não é necessário estar hospedado: o jardim é aberto ao público (é cobrado o valor de 2,50 euros por pessoa).
Além da Fonte das Lágrimas, o espaço abriga também a Fonte dos Amores, uma homenagem ao amor de Pedro e Inês, que costumavam namorar no local. Isso tudo cercado por um belo jardim com mais de 50 espécies de plantas, que recriam um jardim medieval e fazem o visitante viajar no tempo e imaginar como seriam os encontros do casal.
Alcobaça, o descanso eterno
Na cidade de Alcobaça (92 quilômetros de Lisboa), o Mosteiro de Alcobaça, classificado pela Unesco como Patrimônio Mundial desde 1989, guarda os túmulos de Dom Pedro e Dª Inês de Castro.
Eles foram colocados estrategicamente frente a frente para que, no dia do Juízo Final, quando o casal ressuscitasse, pudesse se olhar nos olhos.
Os sarcófagos são duas obras de arte e pertencem a uma das maiores esculturas tumulares da Idade Média. Foram construídos a mando de Dom Pedro, que deixou em testamento que deveria ser enterrado lá, junto ao seu grande amor. Os dois túmulos ilustram cenas da História de Portugal, passagens bíblicas e fábulas.
Além de famosa pelo mosteiro, Alcobaça também é conhecida pelos tradicionais doces conventuais, herança culinária da Ordem de Cister, responsável pela construção do Mosteiro em 1178.
Diz a lenda portuguesa que, nos conventos, as hóstias e o engomar dos hábitos dos monges eram feitos com clara de ovo. Para não ter desperdício, os monges criaram doces à base de gema. Foi assim que surgiu o famoso pastel de Belém, em Lisboa (uma invenção dos monges do Mosteiro dos Jerônimos), e os doces conventuais em Alcobaça.
Anualmente, no mês de novembro, é realizada a mostra internacional de doces e licores conventuais, que acontece dentro do Mosteiro.
No evento, turistas e moradores podem provar os doces conventuais mais famosos da região, como cornucópias com doce de ovos, pão de ló, trouxas, pudim Abade de Priscos de Braga, ovos moles de Aveiro e outras delícias, além do licor de ginja.
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