'Vão para casa': batalha de Barcelona contra turistas faz nova 'vítima'
Há anos Barcelona tenta encontrar um equilíbrio entre a grande quantidade de turistas que recebe e a qualidade de vida dos seus moradores.
Uma tarefa difícil para quem administra a cidade.
A última batalha entre visitantes e vizinhos levou ao fechamento com cercas de um mirante que agora só pode ser visitado em horários determinados.
Por conta do mau comportamento de alguns viajantes, muitos moradores da capital catalã sentem quase uma aversão aos viajantes.
Somente no ano passado, cerca de 10 milhões de pessoas visitaram Barcelona.
Isso é como se fosse cinco vezes a população de Curitiba.
Monumento viralizou
As redes sociais podem ajudar ou não um destino, neste caso um monumento. De tanto os jovens publicarem fotos e vídeos do mirante Turó de la Rovira, o lugar ficou famoso e acabou virando ponto de encontro nos fins de tarde. As belas vistas de 360º de Barcelona atraem muitos grupos que se reúnem ali para beber, dançar e curtir a paisagem.
Mas vizinhos do bairro Carmel começaram a reclamar do barulho, da bebedeira, do lixo abandonado, dos ônibus que estão sempre cheios e dos turistas que não respeitam os horários de descanso de quem mora na região.
Depois de um longo conflito, os moradores do bairro venceram e a prefeitura da cidade está cercando o topo do monumento e limitando os horários de visita.
Esse mirante, que por enquanto tem entrada gratuita, também tem importância histórica por ter servido de bunker e base de uma bateria antiaérea durante a Guerra Civil Espanhola, construída para defender a cidade dos bombardeios.
Cruzeiros e turismo de massa
A capital da Catalunha também sofre com a massificação turística. A temporada de cruzeiros já começou e a cidade chega a receber em um único fim de semana até 15 navios.
Ecologistas reclamam da contaminação que esses transatlânticos causam e moradores que não se beneficiam do turismo não aprovam a grande quantidade de pessoas que invade o centro da cidade por apenas algumas horas e gastam pouco dinheiro. Regiões turísticas como as ramblas (calçadão) ou a praia da Barceloneta ficam excessivamente lotadas nos dias que esses navios atracam.
Com o hashtag "Stop Creuers" (Chega De Cruzeiros) e o lema "A cidade é de quem mora nela e não de quem a visita", um grupo de vizinhos luta para diminuir o número de cruzeiros que podem chegar a Barcelona e pedem um limite de acesso de turistas em determinadas áreas do centro.
Outras cidades europeias como Palma ou Dubrovnik encontraram uma solução mais sustentável e já limitaram o número de grandes navios que podem chegar ao mesmo tempo em um único dia aos seus portos.
Taxa turística
Na tentativa de tentar frear um pouco o número de turistas, desde 2012 a prefeitura cobra uma taxa diária do visitante, o que para alguns é um imposto polêmico. O valor depende do tipo de alojamento e da quantidade de horas que a pessoa fica na cidade.
Quem se hospeda em um AirBnb, por exemplo, tem que pagar cinco euros por dia. Já o valor para quem fica alojado em um hotel cinco estrelas é de 6,25 euros (cerca de R$ 36).
Nem os cruzeiristas se salvam; quem visita a cidade por menos de 12 horas tem que pagar 5,75 euros por dia (por volta de R$ 30). A previsão da prefeitura é arrecadar com essa taxa ao redor de 50 milhões de euros em 2023 e investir o dinheiro na manutenção e preservação de espaços turísticos de Barcelona.
Outro debate no ar, há quem diga que a cobrança desse tipo de imposto não consegue diminuir o fluxo de visitantes. Na Espanha, somente a região da Catalunha e das Ilhas Baleares (Maiorca, Menorca, Ibiza e Formenteira) cobram essa taxa. Em alguns países europeus como Itália, Inglaterra, Holanda ou França ela já é aplicada há vários anos.
Boas práticas
Como ainda não há uma normativa que regule os grupos grandes de turistas, a prefeitura junto com guias de turismo criou um documento de boas práticas. Entre as sugestões, grupos guiados não devem ter mais do que 15 pessoas circulando juntas no centro e 30 em outras regiões de Barcelona.
Na tentativa de conciliar uma boa convivência entre visitantes e moradores, o documento também pede que megafones não sejam utilizados nesse tipo de passeios e que 50% do espaço das calçadas fique livre para que os pedestres possam circular.
Enquanto isso, associações de vizinhos de Barcelona continuam saindo às ruas para protestar e evitar que a sua cidade vire um parque temático. Eles não querem perder qualidade de vida nem a sua identidade, embora cerca de 12% do PIB da Catalunha venha do turismo.
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