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'Foi como um detox': o que uma tagarela aprendeu ao ficar 28 dias sem falar

Luíza em viagem à Tailândia; durante estadia no país, ela decidiu encarar um retiro de silêncio - Arquivo pessoal
Luíza em viagem à Tailândia; durante estadia no país, ela decidiu encarar um retiro de silêncio Imagem: Arquivo pessoal

Simone Machado

Colaboração para o UOL, em São José do Rio Preto (SP)

13/06/2023 04h00

Foi durante uma viagem de ônibus entre as cidades de Bangkok e Chiang Mai, ambas na Tailândia, que a empresária brasileira Luíza Rodas, de 34 anos, ouviu pela primeira vez sobre a Vipassana — uma das técnicas mais antigas de meditação em que as pessoas ficam de 10 a 28 dias sem se comunicar umas com as outras, meditando em silêncio.

Em 2014, Luíza fazia uma viagem de ônibus entre as duas cidades tailandesas a passeio. No trajeto, conheceu uma mulher mexicana que se preparava para viver a experiência de ficar sem se comunicar por vários dias.

"Achei interessante, mas nunca me imaginei fazendo algo do tipo, ainda mais eu, que adoro me comunicar", diz Luíza, que é nômade e passava uma temporada na Tailândia.

"Após alguns acontecimentos pessoais, tive vontade de ficar em silêncio por uns três dias, para ver se encontrava respostas sobre os próximos passos da minha vida. Decidi conversar com o monge do templo chamado Wat Rampoeng [em Chiang Mai] para saber mais sobre a Vipassana."

A próxima turma para a experiência, ligada ao budismo, teria início em dois dias e então Luíza decidiu que tentaria a imersão de 10 dias, inicialmente — o que acabou se transformando em uma experiência de quase um mês.

"Caso não gostasse, eu poderia sair a qualquer momento e o monastério funcionava à base de doações, por isso, eu não precisei pagar nada para estar lá, poderia decidir com quanto eu poderia contribuir ao final do programa", explica.

Banho frio e jejum

luiza - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Luíza, 34, ficou 28 dias em silêncio durante retiro Vipassana
Imagem: Arquivo Pessoal

Luíza recorda que acordava diariamente às 4 horas para meditar. A rotina era sempre a mesma: tomar café da manhã, meditar, almoçar, meditar e dormir.

Apesar de estar junto com outras pessoas no mesmo espaço — até o quarto era comunitário —, tudo era feito sem trocar uma palavra. A única exceção era uma conversa diária e curta, de 5 minutos, com o monge.

O almoço era a última refeição que fazíamos, já que, segundo a tradição budista, não se pode comer nada sólido após as 12 horas. Com exceção de água, suco ou leite de soja, ficávamos de jejum até a manhã seguinte, o que agregava ainda mais valor a cada alimento ingerido, com a intenção de nutrir o corpo, sem gula

No templo, ninguém tinha acesso à internet ou celular. Todos usavam roupas brancas, tomavam banho de água gelada e não podiam usar maquiagem. O objetivo era aprender a valorizar coisas simples como a fala, audição e tato, deixando de lado a vaidade.

Passei 28 dias meditando em silêncio por praticamente todo o tempo. A exceção eram os nossos cinco minutos diários de diálogo com o monge local, um momento para entender sobre como estávamos nos sentindo e receber novas orientações para a prática. Por ser o único espaço do dia em que podíamos conversar, dávamos muito valor a cada palavra dita, assimilando o impacto que elas provocavam e exercitando nossa empatia e escuta ativa

Voltando a falar

Sem nenhum tipo de estímulo externo, os dias em silêncio foram marcados pela paz interior e sentimento de segurança, segundo Luíza.

Você não recebe nenhum tipo de informação, seja por redes sociais ou da sociedade, então tudo o que você faz é encarar você mesmo. Após uns três dias é como você passasse por um detox, como se você tivesse a mente em branco

Após a primeira semana de imersão, o silêncio externo se torna algo natural, segundo Luíza, e a pessoa passa a prestar a atenção e viver intensamente cada pequena situação como o caminhar, tomar banho, enxergar e ouvir.

Após 28 dias de imersão em silêncio, Luíza relata que voltar a falar foi desafiador. Segundo ela, o ambiente calmo do templo, sem barulho e agitação, a fez ter mais consciência sobre a palavra e sobre como encarar os estímulos do mundo externo.

Percebo que as pessoas estão sempre falando ou tendo a necessidade de se comunicar, mas às vezes a melhor solução é não falar nada. A palavra é muito poderosa, a gente aprende na prática o poder dela e como ela impacta na vida das outras pessoas e na sua vida

"Os dias de retiro mudaram totalmente a minha percepção sobre o mundo e nossas atitudes. Independentemente do caos externo eu aprendi a me conectar comigo mesma e a encontrar esse silêncio dentro de mim."