Moda para formiga? Fashionistas recriam bolsa menor que grão de sal
O coletivo criativo MSCHF, responsável pelas botas 'de desenho animado' que conquistaram Diplo e Janelle Monáe e roubaram os holofotes na Semana de Moda de Nova York em fevereiro, voltou a desafiar os limites da moda e lança nesta quarta (14) uma bolsa de luxo que só pode ser apreciada com a ajuda de um microscópio.
Menor que um grão de sal, ela possui dimensões de 657 x 222 x 700 micrômetros, o que a torna estreita o suficiente para passar pelo buraco de uma agulha de costura, adiantou o jornal americano The New York Times nesta terça (13).
A Microscopic Handbag ('Bolsa de mão microscópica', em tradução livre) é uma reedição do modelo OnTheGo, tote retangular clássica da grife francesa Louis Vuitton. A escolha do modelo não foi aleatória, segundo a MSCHF: seu formato mais simples a tornou ideal para a reprodução em minúscula escala.
À distância, ela parece um ponto fluorescente verde mas, ao ser observada através de lentes de aumento, é possível ver que suas alças são translúcidas e que o monograma da maison foi traduzido fielmente. A cor vibrante e a sua leve transparência foram concebidas exatamente para torná-la mais visível sob a luz do microscópio.
O objetivo de um acessório que não pode carregar nada seria justamente criticar como as bolsas de luxo vem se tornando cada vez menores ou perdendo seu aspecto prático em favor das tendências, segundo Kevin Wiesner, diretor criativo da MSCHF.
"Acho que a 'bolsa' é um objeto engraçado porque ela deriva de algo que é rigorosamente funcional. Mas se tornou basicamente uma joia", alfinetou em entrevista ao Times. Sua versão microscópica, portanto, pretende "estender a tendência à sua conclusão lógica, acabando com a utilidade da peça". O que sobra? Apenas o logo. "Esta é a palavra final da miniaturização das bolsas", justificou a MSCHF em comunicado à imprensa americana.
A bolsinha será vendida em 19 de junho no leilão "Just Phriends" organizado por Sarah Andelman — ex-diretora criativa da extinta boutique parisiense Colette, que fechou as portas em 2017 — na Joopiter, a casa de leilões fundada por Pharrell Williams, atual diretor criativo de moda masculina da Louis Vuitton.
Apesar da ligação com Pharrell, Kevin garantiu ao Times que não pediu permissão para usar o logo ou design da Louis Vuitton. "Acreditamos em 'pedir perdão, não permissão'. Pharrell ama grandes chapéus, então fizemos para ele uma bolsa incrivelmente pequena", provocou o criativo, que ainda revelou esperar que o futuro dono da peça não a trate com muito cuidado. "Eu quase torço para que alguém a engula".
O coletivo nova-iorquino desenvolveu o projeto ao longo de meses, desde que um de seus fundadores, Gabriel Whaley, cogitou a Sarah Andelman durante uma visita a Paris a ideia de leiloar uma bolsa bem menos óbvia do que aquelas edições luxuosas e únicas de cifras milionárias que geralmente são encontradas neste tipo de venda.
Para tirar o design do papel, a MSCHF entrou em contato com um campo da ciência bastante distante da moda: a biotecnologia. Muitos especialistas rejeitaram o pedido, relatou Kevin Wiesner. "Porque você está entrando em uma cadeia de produção que fabrica stents [para o coração] e pedindo a eles para fazer uma escultura", justificou ao jornal.
Seu parceiro técnico, por isso, se mantém anônimo até o momento. O que a empresa divulgou é que a bolsa foi feita à base de resina depois de passar por um processo de polimerização por absorção de dois fótons, descrito pelo Times como uma espécie de impressão 3D para objetos microscópicos.
Segundo a unidade de São Carlos do Instituto de Física da Universidade de São Paulo, esta é uma técnica de escrita a laser, através da qual um feixe de alta intensidade é focalizado em uma resina polimérica, um tipo de gel, ainda sem formação sólida". Sua microestrutura se forma, portanto, apenas quando o laser é "varrido" pela extensão da resina.
Quando as primeiras amostras da bolsa chegaram aos estúdios do coletivo há meses, elas eram tão pequenas que a equipe teria perdido algumas, segundo Kevin Wiesner. Uma das 'sobreviventes' não deverá ir a leilão: ela estará afixada junto a um microscópio em exibição na Semana de Moda Masculina de Paris no fim de junho.
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