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10 dias após tragédia, OceanGate mantém anúncio de tour ao Titanic em 2024

O submersível Titan, que implodiu em descida rumo ao Titanic em 18 de junho - OceanGate Expeditions/Divulgação via REUTERS
O submersível Titan, que implodiu em descida rumo ao Titanic em 18 de junho Imagem: OceanGate Expeditions/Divulgação via REUTERS

De Nossa

28/06/2023 13h00

Após 10 dias da implosão do submersível Titan, a OceanGate Expeditions mantém no ar anúncio de viagens para a mesma descida rumo aos destroços do RMS Titanic em 2024. São duas as viagens programadas, a primeira entre 12 e 20 de junho e a segunda entre 21 e 29 de junho.

Desde a tragédia no domingo (18), que resultou nas mortes do seu CEO, Stockton Rush, e dos passageiros Shahzada e Suleman Dawood, Hamish Harding e Paul-Henri Nargeolet, a companhia apenas lamentou as perdas, mas não tomou posições públicas sobre o acidente, nem comentou o futuro de seus empreendimentos.

Nossa entrou em contato com a empresa e questionou quais são seus planos para futuras expedições, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem. Também segue no calendário público da OceanGate um mergulho no arquipélago português de Açores, para a exploração de fontes hidrotermais em maio de 2024.

A embarcação Titan era até então o único submersível da empresa que realizava o percurso — ele pesava 10.432 kg, podia alcançar profundidades de até 4 mil metros e tinha até 96 horas de suporte de vida — como oxigênio — para uma equipe de cinco viajantes (um piloto, um "expert" e três turistas) a partir de 17 anos de idade.

Como era a viagem?

O preço desta aventura programada para durar oito dias e ver de perto os destroços do Titanic a 611 quilômetros da costa, a 3.800 metros de profundidade, era de US$ 250 mil ou cerca de R$ 1,2 milhão. A OceanGate já havia realizado duas expedições bem-sucedidas ao Titanic, em 2021 e 2022, e esta seria a terceira. No último verão, contudo, seu submersível também perdeu contato com a empresa em seu 6º dia nas águas.

Na ocasião, estava a bordo um jornalista da emissora americana CBS, David Pogue. O repórter relatou que o problema operacional durou algumas horas, em que a comunicação — feita por mensagens de texto enviadas via satélite — foi interrompida, mas eventualmente todos retornaram em segurança à terra firme. Assista como é a expedição e a embarcação por dentro:

A conexão entre terra e submersível é prestada pelo serviço de internet via satélite Starlink, da SpaceX, empresa de tecnologia aeroespacial de Elon Musk, também dono do Twitter. Nem Musk ou a Starlink se manifestaram a respeito do ocorrido.

Estão inclusos no pacote exorbitante acomodação (privativa) dentro da embarcação que realiza o percurso até área próxima do naufrágio, o mergulho com o submersível até o famoso navio, treinamento para o período dentro da ambercação, equipamento e todas as refeições. Passagens aéreas até o porto de embarque, hotéis e refeições que o viajante possa precisar antes de subir a bordo, além de seguro-viagem não estão inclusos no preço.

As expedições partem sempre de St. John's, em Newfoundland, no Canadá. Ali, a equipe de expedição se encontra e embarca. No segundo dia de viagem, já no meio do Atlântico Norte, o líder da expedição passa aos viajantes informações de segurança e logística do dia de mergulho no submersível, enquanto a equipe científica e os chamados "experts de conteúdo" orientam os turistas a respeito do que verão ao se aproximarem do Titanic, segundo a OceanGate.

Vista do Titanic de dentro do submarino Titan, que desapareceu no oceano - Divulgação/OceanGate Expeditions - Divulgação/OceanGate Expeditions
Vista do Titanic de dentro da embarcação Titan, que desapareceu no oceano
Imagem: Divulgação/OceanGate Expeditions

No terceiro dia, chamado de "Dive Day" (Dia do Mergulho, em tradução livre), cinco viajantes de fato entram no Titan para iniciar a descida até o Titanic, enquanto os restantes ficam para trás na embarcação principal realizando outras tarefas realizadas ao mergulho, como registros ou auxílio ao gerente da expedição, por exemplo.

Quem não mergulha neste dia tem até o sétimo dia de viagem para ter a sua vez. A OceanGate estima que toda a descida leve cerca de duas horas, em que se encontram "formas alienígenas" no caminho. Nesta travessia, os viajantes são encorajados a ajudar o piloto do submersível com o monitoramento de sua posição, coleta de informações para o time de cientistas da empresa e, para quem preferir, assistir a um filme ou almoçar.

Registro do Titanic no fundo do Oceano Atlântico feito por expedições anteriores da OceanGate Expeditions - Divulgação/OceanGate Expeditions - Divulgação/OceanGate Expeditions
Registro do Titanic no fundo do Oceano Atlântico feito por expedições anteriores da OceanGate Expeditions
Imagem: Divulgação/OceanGate Expeditions

Se houver necessidade, é possível usar o banheiro, já que há um toalete dentro do submersível. Ao fim das duas horas, o grupo tem seu esperado encontro com o Titanic, guiado pelo expert a bordo que aponta as principais características do navio histórico, faz conexões entre o visual e a história do naufrágio e detalha a porção do oceano em que ele afundou. Segundo a OceanGate, o grupo costuma passar "horas" estudando o navio antes de subir à superfície.

De volta à embarcação, os exploradores podem revisar as filmagens do passeio, conversar com especialistas a respeito de possíveis descobertas realizadas na viagem ou observar baleias no último dia de trajeto rumo ao seu ponto inicial, a cidade portuária de St. John's.

Passageiros assinavam documento sobre riscos

O site TMZ obteve acesso ao documento que viajantes assinavam antes do embarque nas expedições da OceanGate, eximindo a empresa de responsabilidade em caso de morte. No texto, o turista se compromete a assumir "total responsabilidade pelo risco de lesão corporal, deficiência, morte e danos à propriedade devido à negligência da [OceanGate] enquanto envolvido na operação".

A declaração ainda frisa que seu submersível é "experimental" e não foi "aprovado ou certificado por qualquer corpo regulatório e pode ter sido construído com materiais que não foram largamente utilizados em submersíveis ocupados por seres humanos".

Diante das mortes dos cinco tripulantes, o co-fundador e acionista minoritário da OceanGate, Guillermo Söhnlein, disse à Sky News na sexta (23) que seus executivos ainda "considerarão se a empresa sobreviverá" nas semanas seguintes à tragédia. Apesar de frisar que Rush um "engenheiro brilhante" e "consciente dos riscos", ele afirmou que "não é qualificado para responder" se a companhia será responsabilizada por negligência.