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Restaurante de 'Masterchef' é eleito um dos 150 mais lendários do mundo

De Nossa

29/06/2023 04h00

O restaurante Mocotó, comandado por Rodrigo Oliveira, jurado do 'MasterChef Brasil', foi escolhido como um dos 150 restaurantes mais lendários de todo o mundo pela enciclopédia gastronômica TasteAtlas na última sexta (23).

A casa ficou em 111º lugar no ranking global e foi considerada digna da chancela de estabelecimento "dedicado ao sabor, não a truques" e se destacou por oferecer, como nenhum outro lugar no mundo, sua principal receita: o caldo de mocotó. "Um dos 150 pratos que você deve provar nesta vida", salientou a publicação.

"O Mocotó, em São Paulo, é uma pedra preciosa culinária conhecida por transformar ingredientes locais e humildes em deleites gastronômicos. A principal atração é o prato que assina [o nome da casa], o mocotó, um ensopado do pé da vaca que encapsula os sabores rústicos e cheios de alma de sua região", descreve o TasteAtlas.

A visita ao restaurante de Rodrigo Oliveira ainda foi considerada "uma experiência gastronômica única" que, combinada ao compromisso do estabelecimento de usar ingredientes de produtores locais, fez o Mocotó cativar não só brasileiros como estrangeiros.

"Ele não é apenas importante, é também verdadeiramente amado."

O caldo de Mocotó

Segundo o TasteAtlas, o nome do prato vem da palavra "mbokotó" da língua quimbundo — falada no noroeste de Angola. O prato teria nascido nas mãos de escravos que aproveitavam partes de carnes descartados pelos senhores de terras. No entanto, ele teria incorporado ainda elementos da cultura portuguesa, já que os ensopados são uma tradição nas partes montanhosas dos países europeus.

Caldo de Mocotó, do Restaurante Mocotó - Divulgação - Divulgação
Caldo de Mocotó, do Restaurante Mocotó
Imagem: Divulgação

A publicação ainda reconheceu sua tradição no Nordeste do Brasil e frisou que, apesar das altas temperaturas nesta porção do país, este é o prato ideal par ao inverno, além de ser muito usado por brasileiros para prevenir — na noite anterior — ou curar uma ressaca. A receita "mágica" é poderosa e leva, além do próprio mocotó da vaca, feijões brancos, tomates, cebolas, alho, coentro, pimentas e cravos.

O time da enciclopédia esclarece que sua metodologia leva em consideração avaliação do público gastronômico internacional, através de votos em seu site que são filtrados, eliminando, segundo o Atlas, palpites potencialmente ligados a bots ou "nacionalistas".

Quem é Rodrigo Oliveira?

Filho de pernambucanos e fruto de São Paulo — mais especificamente da Vila Medeiros —, Rodrigo Oliveira foi curador da primeira temporada da série de reportagens Entornos, de Nossa, sobre referências das periferias que colorem a gastronomia, a moda, as viagens e a casa. Clique abaixo e veja a entrevista sobre essa experiência:

Não à toa, as raízes nordestinas e o encontro com a pluralidade dos contornos de grande centros urbanos são a digital de seu trabalho a frente do Mocotó, uma casa que levou o sertão à alta gastronomia. Fundado em 2001, o restaurante tem como base uma história iniciada em 1974 pelo seu pai, o senhor Zé Almeida.

Restaurante Mocotó, em São Paulo - Ricardo D'Angelo - Ricardo D'Angelo
Restaurante Mocotó, em São Paulo
Imagem: Ricardo D'Angelo

Naquele ano, ele estabeleceu uma casa do Norte ao lado dos irmãos Gercino e Gilvan. Cinco anos depois, em carreira solo, abriu o Bar e Lanches Alcino, com dez mesas e um balcão. Um de seus pratos mais queridos? O delicioso caldo de Mocotó, que fez o negócio conhecido como "Bar do Mocotó".

Ao longo dos anos, Rodrigo se interessou pela alquimia dos únicos quatro pratos do cardápio — feijão de corda, favada, sarapatel e o "caldinho" — e , apesar de uma breve passagem pela área de engenharia e gestão ambiental, logo estava de volta ao bar, fazendo mudanças em sua estrutura.

Rodrigo e o pai - Laílson Santos - Laílson Santos
Rodrigo e o pai, Zé Almeida
Imagem: Laílson Santos

Depois de embarcar no curso de gastronomia da Universidade Anhembi Morumbi e adquirir uma importante bagagem em viagens pelo país que complementava seu entendimento da cozinha familiar, ele deu o pontapé para o "Mocotó da Vila Medeiros", onde ainda serve a tradicional receita de seu Zé no copo americano, como nos anos 70.

Apesar de se manter fiel a periferias em sua simplicidade de estilo, não demorou para que o restaurante se destacasse pela riqueza de seus sabores.

Rodrigo Oliveira, chef do restaurante Mocotó - Ricardo D'Angelo/Divulgação - Ricardo D'Angelo/Divulgação
Rodrigo Oliveira, na Vila Medeiros
Imagem: Ricardo D'Angelo/Divulgação

Por exemplo, em 2004, Rodrigo criou o original Dadinho de Tapioca, um petisco que acabou "exportado" para o Le Dauphin, em Paris; 10 William, em Sydney; FOgO, em Barcelona; e a casa In Situ, dentro do Museu de Arte Moderna de São Francisco.

A experiência ali não se resume em sentar e comer. É uma conexão com um país, uma gente, uma cultura, uma paleta de cores, sabores e valores que você não encontrará em outro lugar"

Chef Alex Atala, sobre o restaurante Mocotó

Hoje, aos 42 anos e com mais de 20 de Mocotó, Rodrigo já arrancou elogios — como do exigente chef americano Anthony Bourdain (falecido em 2018) que o considerou "o que há de mais quente na cidade" — e indicações de renomadas publicações internacionais especializadas como a revista Food & Wine, e os jornais Le Figaro, Financial Times e El País.

Dadinhos de tapioca: criação de Rodrigo Oliveira, do Mocotó, que já viajou o mundo - Divulgação - Divulgação
Dadinhos de tapioca: criação de Rodrigo Oliveira, do Mocotó, que já viajou o mundo
Imagem: Divulgação

Ele ainda foi premiado com uma estrela do Guia Michelin e o 23º lugar do ranking Latin America's 50 Best (50 Melhores da América Latina) da revista britânica Restaurant em 2021, além de ser considerado o "Melhor da Cozinha Brasileira" pela Folha. Em 2022, ele participou do "Iron Chef Brasil", da Netflix, ao lado de chefs de prestígio como Thiago Castanho e Carole Crema.

Nos últimos anos, Rodrigo abriu o Mocotó Café no Mercado de Pinheiros, além de uma filial do Mocotó no Shopping D. Ele também lançou o livro "Mocotó - O Pai, o Filho e o Restaurante" e, em 2017, inaugurou o Balaio IMS, dentro do Instituto Moreira Salles da Avenida Paulista, onde serve pratos que misturam referências culturais das diferentes culinárias do Brasil.