Sede de revolução, restaurante mais velho de Paris hoje é atração econômica
Imagine ler a última carta escrita pela rainha Maria Antonieta enquanto espera a sua comida ficar pronta, ou então esbarrar em um chapéu que pertenceu ao imperador Napoleão Bonaparte enquanto procura o banheiro.
No Le Procope, café-restaurante mais antigo de Paris, cenas como essas não fazem parte, elas são a própria experiência.
Fundado em 1689 pelo chef italiano Francesco Procopio dei Cotell, o restaurante mantém o mesmo estilo há impressionantes 334 anos. A família do fundador continuou administrando o negócio por séculos sem mudar quase nada de sua essência.
Hoje em dia, o restaurante pertence ao grupo francês Bertrand, e a casa funciona com uma pegada de museu, onde a história da França pode ser revisitada com a ajuda de garçons que guiam o paladar e a curiosidade dos clientes.
Ao entrar no restaurante, os séculos de resiliência do Le Procope se materializam nos móveis de mogno, nos detalhes em veludo vermelho, nos lustres de cristal espalhafatosos e nos papéis de parede antiquíssimos (trocados pela última vez em 1832), mas super bem preservados.
No entanto, o que chama mesmo a atenção é descobrir o público que costumava frequentar a casa. A lista de clientes célebres do Le Procope contempla alguns dos filósofos, escritores e políticos mais importantes de seus tempos.
Entre as principais mentes literárias estavam Scott Fitzgerald (conhecido por clássicos como o Grande Gatsby), Earnest Hemingway (Por Quem os Sinos Dobram), Victor Hugo (Os Miseráveis) e Simone de Beauvoir (O Segundo Sexo).
O restaurante também teve como clientes filósofos que estudamos na escola. Jean-Jacques Rousseau, Montesquieu, Voltaire, Diderot, d'Alembert e muitos outros compõem a lista.
Na ala política, existe até mesmo boatos de que Benjamin Franklin teria rascunhado a primeira constituição dos Estados Unidos nas mesas do Le Procope.
Pendurada em uma janela, o restaurante exibe uma placa que marca o local onde Franklin redigiu o Tratado de Aliança de 1778 entre a França e os Estados Unidos. Outra placa afirma que Thomas Jefferson jantou no restaurante várias vezes entre 1784 e 1789. Nessa época, ele era o embaixador dos Estados Unidos na França.
Os funcionários explicam que o chapéu de Napoleão Bonaparte foi deixado no restaurante como garantia de que o estadista voltaria para pagar a conta de um jantar em uma ocasião em que Napoleão estava sem dinheiro em espécie.
QG da Revolução Francesa
A história do Le Procope vai muito além do seu papel como reduto de intelectuais. O restaurante se gaba por ter desempenhado um papel fundamental durante a revolução francesa de 1789.
Naquela época, o restaurante se tornou um verdadeiro QG revolucionário. Os líderes da revolução, como Georges Danton, Jean-Paul Marat e Maximilien de Robespierre, frequentemente se reuniam nos salões do Le Procope para discutir estratégias, traçar planos e debater ideias que moldariam o destino do país livre da monarquia.
As ordens de diversos acontecimentos da revolução francesa foram emitidas do restaurante, incluindo o ataque ao Palácio das Tulherias, lar de Luis 16 e Maria Antonieta. Entre os documentos expostos até hoje, está um fragmento da última carta de Maria Antonieta, escrita às 4 horas da manhã do dia de sua execução, na qual ela se despede de seus filhos: "Meus pobres filhos, adeus, adeus".
Os clientes também conseguem ver uma carta escrita pelo rei Luis 16 pedindo a suspensão de sua execução por três dias para que ele pudesse "preparar-se para encontrar seu Deus".
Com conhecimento enciclopédico sobre a história do Le Procope, os garçons costumam compartilhar com os clientes as histórias que se desenrolaram no local durante aqueles anos tumultuados.
Sentar em uma das mesas do restaurante é quase como fazer uma visita ao passado. "Nossa equipe foi treinada para transmitir o conhecimento da História da França por 300 anos", disse o gerente Éric Giroud-Trouillet ao portal Europe 1.
Cada cliente que come conosco conhece a importância histórica do restaurante. As pessoas vêm por isso."
Atração turística econômica
Quanto mais velho fica, mais histórias os salões do Le Procope acumulam. Hoje em dia, esse é o principal chamariz do restaurante, que atrai os turistas muito mais por seu ambiente do que pela comida em si.
Apesar da localização central às margens do Rio Sena, o Le Procope não é tão caro comparado com outros restaurantes da região. De segunda à sexta-feira, o menu do almoço, com entrada e prato principal, custa 24.50 euros, cerca de R$ 130.
O cardápio traz diversas opções de pratos clássicos da culinária francesa, como sopa de cebola gratinada (9,5 euros), foie gras (22,50 euros), salmão defumado (17,50 euros) e steak tartare (23,50 euros).
O restaurante também serve um menu histórico com pratos que mantêm a mesma receita e modo de preparo desde 1689.
Cabeça de vitelo cozida (Tête de Veau en Cocotte comme en 1686, 28,50 euros), bochecha de boi ensopada (Joue de B?uf Braisée, 26,50 euros), galo ao vinho (Coq au Vin, 27,50 euros) e filé de bife dos revolucionários (Filet de B?uf des Révolutionnaires, 38,50 euros) são algumas das opções para fazer o paladar viajar ao passado.
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