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Você conhece o 'espera marido'? Saiba como surgiram nomes curiosos de doces

Espera marido ou nozinho é um doce de nome curioso - Divulgação
Espera marido ou nozinho é um doce de nome curioso Imagem: Divulgação

Glau Gasparetto

Colaboração para Nossa

08/07/2023 04h00

Criatividade não falta quando o assunto é culinária, seja na combinação de ingredientes, na criação de pratos ou no "batismo" de receitas bem-sucedidas.

Entre os doces que ocupam a mesa dos brasileiros, há uma variedade de sabores e, também, um tanto de nomes curiosos.

O pé de moleque, por exemplo, aparece em todos os cardápios em tempos de festas juninas — e julinas. Não esconde nenhum segredo na composição: é feito com amendoim sem pele, que é caramelizado. Depois de pronto e resfriado em pedra untada, só precisa ser cortado em pedaços.

Originalmente feito com amendoim e rapadura, uma das teorias para seu nome é relacionada às quituteiras que vendiam petiscos em tabuleiros pelas ruas, ainda em tempos do Brasil colonial. Ao mínimo descuido das mulheres, garotos surrupiavam a iguaria e saíam correndo.

Zangadas, bravejavam que os meninos deveriam pedir a elas em vez de furtar, caso realmente não tivessem dinheiro para a compra. Gritavam: "Pede, moleque! Pede, moleque", o que teria levado ao termo conhecido.

Pé de moleque - Getty Images/iStockphoto - Getty Images/iStockphoto
Pé de moleque
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Há, ainda, quem defenda que a ligação é com os pés dos gaiatos, sempre descalços e sujos, numa coloração semelhante à do doce.

Uma última versão associa o formato e o aspecto da comida ao calçamento de mesmo nome, comum nas cidades históricas mineiras. As pedras eram colocadas nas vias pelos escravos e os filhos deles, chamados de moleques, eram responsáveis por assentá-las — daí o pavimento pé de moleque.

Pé de moça

Pé de moça da chef Heloísa Bacellar, do Lá da Venda - Ana Bacellar/Divulgação - Ana Bacellar/Divulgação
Pé de moça da chef Heloísa Bacellar, do Lá da Venda
Imagem: Ana Bacellar/Divulgação

Versão mais macia do pé de moleque, graças à adição de leite condensado à receita, o pé de moça tem duas versões para a origem do seu nome.

Por ser mais cremosa e agradável na mordida, sua característica delicada remete aos membros inferiores das mulheres.

Outra hipótese tem ligação com o leite condensado produzido pela Nestlé, o Leite Moça, que traz uma camponesa em sua embalagem, e acabou influenciando na escolha linguística.

Cueca virada

Cueca virada - Getty Images/iStockphoto - Getty Images/iStockphoto
Cueca virada
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Conhecida nas cozinhas europeias e repetido, principalmente, no Sul do País, é uma espécie de massa frita, à base de farinha de trigo, açúcar e ovos, coberta com açúcar e canela. O nome engraçado vem do seu formato, já que é trançada de fora para dentro, antes de ser imersa em óleo quente.

A massa fica com visual de tecido retorcido, como uma peça íntima recém-tirada do corpo. Há, entretanto, outros nomes atribuídos ao pãozinho doce, igualmente curiosos: "ceroula virada", "calça virada", "coscorão" e "orelha de gato".

Mineiro com botas

Também conhecida como "mineiro de botas", a sobremesa é tradicional nos endereços em Minas Gerais. Conta-se que surgiu por volta do século 18, período em que a mineração era atividade forte no País, e seria uma homenagem aos homens que atuavam no garimpo.

As esposas, donas de casa, costumavam preparar o doce para esperar seus maridos, que usavam botas no trabalho. A sobremesa leva queijo de Minas (que pode ser empanado ou frito), banana-da-terra, açúcar e canela, distribuídos em camadas. Para a finalização, o combinado é levado ao forno para assar.

Brigadeiro

Brigadeiro - Getty Images/iStockphoto - Getty Images/iStockphoto
Brigadeiro
Imagem: Getty Images/iStockphoto

O nome surgiu com o brigadeiro Eduardo Gomes, candidato à presidência nas eleições de 1945. Com pinta de galã, o militar sempre foi cortejado pelo mulherio — e, mesmo assim, nunca se casou.

Durante a campanha, um grupo de correligionárias combinou leite condensado com chocolate e começou a vender as bolinhas adocicadas nos comícios para levantar fundos. A patente do militar batizou o docinho-rei das festas de aniversário.

No Rio Grande do Sul, é chamado de "negrinho".

Mané pelado

Trata-se de um bolo saboroso, que combina mandioca, coco ralado e queijo, entre outros ingredientes. Há quem credite o nome curioso como uma "homenagem" a um agricultor que costumava colher o tubérculo sem roupas.

Outra teoria, mais recatada, atribui a denominação a um vendedor ambulante de Goiás, que vendia tal bolo (preparado pela esposa) de porta em porta. Devido ao calor intenso no cerrado, costumava andar sem camisa pelas ruas.

Maria mole

Maria mole - Ariane Cantador/Adobe Stock - Ariane Cantador/Adobe Stock
Maria mole
Imagem: Ariane Cantador/Adobe Stock

A autoria do doce molenga é atribuída a uma escrava chamada Maria, que trabalhava para a família real. Sua intenção foi boa: ela misturou coco, água, açúcar e mocotó na tentativa de conseguir algo parecido com sorvete, algo que os monarcas tinham hábito de consumir, produzido com gelo trazido dos Alpes.

A textura, somada ao nome da inventora, apelidaram a receita. Por ser um termo de cunho machista e racista, há confeitarias que agora se referem à guloseima como "molenguinho".

Baba de moça

Inspirado nos "ovos moles de Aveiro", conhecido doce português à base de açúcar e gemas, o baba de moça tem esse nome por conta de sua consistência diferente e do paladar "apaixonante", que é comparado ao beijo de uma moça — bem como à sua saliva.

Bicho de pé

Outro docinho muito bem-vindo nas festas de aniversário, é a versão cor-de-rosa do brigadeiro, pois é feito com leite condensado e saborizante de morango. Sua origem não é tão bonitinha quanto ele: nas primeiras vezes em que foi preparado, utilizava a fruta in natura.

Assim, as pequenas sementinhas pretas ficavam visíveis, assemelhando-se ao visual de um bicho de pé instalado na pele rosinha de um membro inferior. O "bolo bicho de pé" é patenteado pela empresa Amor aos Pedaços.

Chico balanceado

"Merengue de banana", "gato de botas" e "banoffe gaúcho" são outros nomes atribuídos à sobremesa, feita com banana, caramelo, creme de ovos e merengue dourado (no forno ou no maçarico).

Conta-se que foi criada por Manezinho Araújo, artista pernambucano e dono de restaurante no Rio de Janeiro. Faz sucesso em todo o país, sendo presença constante nas mesas sulistas bem como nas comemorações nordestinas.

O nome de registro do prato seria a junção do nome de Chico da Silva, homenageado, com o adjetivo balanceado, numa referência ao equilíbrio da sobremesa, tanto no quesito sabor quanto doçura. Também é conhecida como "Manezinho Araújo", numa referência ao criador.

Espera marido

Há dois doces conhecidos por tal nome: um bolinho frito, de massa leve e envolto por coco (também chamado de "nozinho" e "amarra marido"), assim como um creme feito com suco de laranja, ovos, especiarias e açúcar.

Ambos foram batizados assim numa referência às donas de casa que aguardavam os esposos depois de um dia longo de trabalho deles. Também é um termo que tem sido evitado, por reduzir o papel da mulher ao lar e aos cuidados com o parceiro.

Muitos lugares já adotam "gravatinha de coco" como alternativa substituta.

Olho de sogra

Outro docinho de festa de nome curioso, há mais de uma versão para a origem do nome. Tendo uma ameixa "abraçando" a bolinha feita com coco, gemas e leite condensado, sua aparência refere-se ao olhar sempre alerta e vigilante das mães das moças que recebiam os namorados em casa.

A segunda teoria é que teria surgido após um erro no preparo de beijinho, outro doce típico dos aniversários.

Diz-se que, antigamente, quando as sogras assumiam as aulas de culinária às noras — a fim de cuidarem bem dos esposos —, uma delas deixou cair ameixa sobre o doce branquinho. Para disfarçar o erro, emoldurou a fruta corretamente e disse que era um doce que havia criado.

Fontes: Debora Campos, chef do Instituto Gourmet Rio Pequeno; Regina Costa, coordenadora do curso de Gastronomia da Cruzeiro do Sul Virtual; Vavo Krieck, chef do Centro Europeu; livro Dicionário de Gastronomia, de Myrna Corrêa (Editora Matrix).