Você conhece o 'espera marido'? Saiba como surgiram nomes curiosos de doces
Criatividade não falta quando o assunto é culinária, seja na combinação de ingredientes, na criação de pratos ou no "batismo" de receitas bem-sucedidas.
Entre os doces que ocupam a mesa dos brasileiros, há uma variedade de sabores e, também, um tanto de nomes curiosos.
O pé de moleque, por exemplo, aparece em todos os cardápios em tempos de festas juninas — e julinas. Não esconde nenhum segredo na composição: é feito com amendoim sem pele, que é caramelizado. Depois de pronto e resfriado em pedra untada, só precisa ser cortado em pedaços.
Originalmente feito com amendoim e rapadura, uma das teorias para seu nome é relacionada às quituteiras que vendiam petiscos em tabuleiros pelas ruas, ainda em tempos do Brasil colonial. Ao mínimo descuido das mulheres, garotos surrupiavam a iguaria e saíam correndo.
Zangadas, bravejavam que os meninos deveriam pedir a elas em vez de furtar, caso realmente não tivessem dinheiro para a compra. Gritavam: "Pede, moleque! Pede, moleque", o que teria levado ao termo conhecido.
Há, ainda, quem defenda que a ligação é com os pés dos gaiatos, sempre descalços e sujos, numa coloração semelhante à do doce.
Uma última versão associa o formato e o aspecto da comida ao calçamento de mesmo nome, comum nas cidades históricas mineiras. As pedras eram colocadas nas vias pelos escravos e os filhos deles, chamados de moleques, eram responsáveis por assentá-las — daí o pavimento pé de moleque.
Pé de moça
Versão mais macia do pé de moleque, graças à adição de leite condensado à receita, o pé de moça tem duas versões para a origem do seu nome.
Por ser mais cremosa e agradável na mordida, sua característica delicada remete aos membros inferiores das mulheres.
Outra hipótese tem ligação com o leite condensado produzido pela Nestlé, o Leite Moça, que traz uma camponesa em sua embalagem, e acabou influenciando na escolha linguística.
Cueca virada
Conhecida nas cozinhas europeias e repetido, principalmente, no Sul do País, é uma espécie de massa frita, à base de farinha de trigo, açúcar e ovos, coberta com açúcar e canela. O nome engraçado vem do seu formato, já que é trançada de fora para dentro, antes de ser imersa em óleo quente.
A massa fica com visual de tecido retorcido, como uma peça íntima recém-tirada do corpo. Há, entretanto, outros nomes atribuídos ao pãozinho doce, igualmente curiosos: "ceroula virada", "calça virada", "coscorão" e "orelha de gato".
Mineiro com botas
Também conhecida como "mineiro de botas", a sobremesa é tradicional nos endereços em Minas Gerais. Conta-se que surgiu por volta do século 18, período em que a mineração era atividade forte no País, e seria uma homenagem aos homens que atuavam no garimpo.
As esposas, donas de casa, costumavam preparar o doce para esperar seus maridos, que usavam botas no trabalho. A sobremesa leva queijo de Minas (que pode ser empanado ou frito), banana-da-terra, açúcar e canela, distribuídos em camadas. Para a finalização, o combinado é levado ao forno para assar.
Brigadeiro
O nome surgiu com o brigadeiro Eduardo Gomes, candidato à presidência nas eleições de 1945. Com pinta de galã, o militar sempre foi cortejado pelo mulherio — e, mesmo assim, nunca se casou.
Durante a campanha, um grupo de correligionárias combinou leite condensado com chocolate e começou a vender as bolinhas adocicadas nos comícios para levantar fundos. A patente do militar batizou o docinho-rei das festas de aniversário.
No Rio Grande do Sul, é chamado de "negrinho".
Mané pelado
Trata-se de um bolo saboroso, que combina mandioca, coco ralado e queijo, entre outros ingredientes. Há quem credite o nome curioso como uma "homenagem" a um agricultor que costumava colher o tubérculo sem roupas.
Outra teoria, mais recatada, atribui a denominação a um vendedor ambulante de Goiás, que vendia tal bolo (preparado pela esposa) de porta em porta. Devido ao calor intenso no cerrado, costumava andar sem camisa pelas ruas.
Maria mole
A autoria do doce molenga é atribuída a uma escrava chamada Maria, que trabalhava para a família real. Sua intenção foi boa: ela misturou coco, água, açúcar e mocotó na tentativa de conseguir algo parecido com sorvete, algo que os monarcas tinham hábito de consumir, produzido com gelo trazido dos Alpes.
A textura, somada ao nome da inventora, apelidaram a receita. Por ser um termo de cunho machista e racista, há confeitarias que agora se referem à guloseima como "molenguinho".
Baba de moça
Inspirado nos "ovos moles de Aveiro", conhecido doce português à base de açúcar e gemas, o baba de moça tem esse nome por conta de sua consistência diferente e do paladar "apaixonante", que é comparado ao beijo de uma moça — bem como à sua saliva.
Bicho de pé
Outro docinho muito bem-vindo nas festas de aniversário, é a versão cor-de-rosa do brigadeiro, pois é feito com leite condensado e saborizante de morango. Sua origem não é tão bonitinha quanto ele: nas primeiras vezes em que foi preparado, utilizava a fruta in natura.
Assim, as pequenas sementinhas pretas ficavam visíveis, assemelhando-se ao visual de um bicho de pé instalado na pele rosinha de um membro inferior. O "bolo bicho de pé" é patenteado pela empresa Amor aos Pedaços.
Chico balanceado
"Merengue de banana", "gato de botas" e "banoffe gaúcho" são outros nomes atribuídos à sobremesa, feita com banana, caramelo, creme de ovos e merengue dourado (no forno ou no maçarico).
Conta-se que foi criada por Manezinho Araújo, artista pernambucano e dono de restaurante no Rio de Janeiro. Faz sucesso em todo o país, sendo presença constante nas mesas sulistas bem como nas comemorações nordestinas.
O nome de registro do prato seria a junção do nome de Chico da Silva, homenageado, com o adjetivo balanceado, numa referência ao equilíbrio da sobremesa, tanto no quesito sabor quanto doçura. Também é conhecida como "Manezinho Araújo", numa referência ao criador.
Espera marido
Há dois doces conhecidos por tal nome: um bolinho frito, de massa leve e envolto por coco (também chamado de "nozinho" e "amarra marido"), assim como um creme feito com suco de laranja, ovos, especiarias e açúcar.
Ambos foram batizados assim numa referência às donas de casa que aguardavam os esposos depois de um dia longo de trabalho deles. Também é um termo que tem sido evitado, por reduzir o papel da mulher ao lar e aos cuidados com o parceiro.
Muitos lugares já adotam "gravatinha de coco" como alternativa substituta.
Olho de sogra
Outro docinho de festa de nome curioso, há mais de uma versão para a origem do nome. Tendo uma ameixa "abraçando" a bolinha feita com coco, gemas e leite condensado, sua aparência refere-se ao olhar sempre alerta e vigilante das mães das moças que recebiam os namorados em casa.
A segunda teoria é que teria surgido após um erro no preparo de beijinho, outro doce típico dos aniversários.
Diz-se que, antigamente, quando as sogras assumiam as aulas de culinária às noras — a fim de cuidarem bem dos esposos —, uma delas deixou cair ameixa sobre o doce branquinho. Para disfarçar o erro, emoldurou a fruta corretamente e disse que era um doce que havia criado.
Fontes: Debora Campos, chef do Instituto Gourmet Rio Pequeno; Regina Costa, coordenadora do curso de Gastronomia da Cruzeiro do Sul Virtual; Vavo Krieck, chef do Centro Europeu; livro Dicionário de Gastronomia, de Myrna Corrêa (Editora Matrix).
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