2° drinque mais pedido do mundo, Old Fashioned ainda é 'Clube do Bolinha'
Em algumas de suas composições, o dândi Cole Porter (1891-1964) colecionava flertes com a birita, como: "I get no kick from champagne" ("não me dá barato"), em "I Get a Kick Out of You".
Já o Old Fashioned era mais a sua praia: escreveu a canção "Make It Another Old-Fashioned Please" ("Faça Outro Old Fashioned, por favor"), imortalizando seu drinque predileto no título de uma canção.
O bon-vivant anteviu longe: não só o Old Fashioned virou cult e até pop.
É o trago favorito do publicitário Don Draper (o ator Jon Hamm) na série "Mad Men" — e, de acordo com a IBA - International Bartenders Association, entidade que regula mundialmente a coquetelaria, atualmente é o segundo coquetel clássico mais bebido no planeta, perdendo apenas para o onipresente Negroni.
Difusa, sua trajetória remete circa 1880, mais precisamente ao The Pendennis Club, uma liga privada de cavalheiros de Louisville, Kentucky, que, aos 142 anos, ainda segue na ativa. Lá, três bartenders que passaram pelos balcões da casa ao longo do tempo são candidatos a "pai" do Old Fashioned número um, sem consenso sobre quem seria o pecador original.
O que se conta é que a partir dali a receita migrou para os pomposos salões do The Waldorf-Astoria Hotel, na Grande Maçã, por obra e graça de um certo coronel James E. Pepper, dono de destilarias de uísque. De Nova York, ganhou os EUA e o mundo.
Seu primeiro nome teria sido Whiskey Cocktail, em alusão a seu ingrediente-mór (bourbon, o uísque americano), sendo mais tarde rebatizado Old Fashioned ("fora de moda", tradução literal), em alusão ao termo genérico que designava algumas receitas dos primórdios da coquetelaria, quando se tinha pouco ou quase nada para compor coquetéis.
No barril
Um Old Fashioned nasce da adição de bourbon (ou rye, outro estilo de american whisky, meio raro no Brasil) a xarope de açúcar, dashes de água e de bitter Angostura, uma rodela de laranja e uma cereja para decorar. Ainda que o quociente de seu consumo no Brasil nem de longe ameace a "febre" Negroni de anos recentes, craques do métier são entusiastas.
"Dentre os coquetéis históricos, o Old Fashioned é um dos mais antigos", assinala o barman Marcelo Serrano.
É um clássico dos clássicos. Poucos ingredientes, mas pra ser bem feito sua confecção exige tempo e cuidado do bartender. E há a presença marcante do bourbon, que o deixa mais amanteigado, mais aveludado", ensina.
Serrano destaca que, em seu apogeu, o coquetel foi muito famoso, "mas com o tempo, deu uma sumida".
Inspirado nas técnicas do barman e escritor ianque Jeffrey Morgenthaler, por volta de 2010, Serrano ousou: colocou o Old Fashioned (e outros coquetéis) pra maturar em barris de carvalho americano.
Isso nos balcões do extinto MyNY Bar, em São Paulo — com resultados espetaculares. "É um coquetel power. Mas ao contrário do que pregam alguns, não vejo chances do Old Fashioned virar o jogo contra o Negroni, em termos de consumo. Ele vai continuar sendo muito consumido, mas mais entre seus apreciadores".
Clube do Bolinha
"(O Old Fashioned) Foi um dos primeiros coquetéis que meu pai me ensinou", recorda Danty de Souza, filho do lendário Mestre Derivan de Souza, recentemente falecido.
"No aroma e no palato, é um drinque equilibrado, que ainda tem o plus do cítrico de laranja. Agrada muito aos apreciadores de uísque, especialmente de bourbon, que invariavelmente vão nele".
Atualmente à frente do Gioia Piano Bar & Restaurante, Danty testemunha que, na casa, o Old Fashioned é bem requisitado.
Acredito que o que ajuda é que, nos últimos anos, o Old Fashioned também deu uma evoluída, com o surgimento do gelo em cubo, que o valorizou, inclusive esteticamente".
Professor de mixologia com um sem-número de ex-pupilos destacando-se em balcões de São Paulo e outros estados, Zeca Meirelles, proprietário da ProDrinks Escola de Bartenders, analisa: "Para mim chega a ser grata surpresa que o Old Fashioned seja hoje o segundo coquetel clássico mais vendido. Digo isso porque ele é relativamente simples", diz.
"O Angostura, por exemplo, entrou na receita porque na época em que ele foi inventado, não havia muito mais que isso para utilizar".
Meirelles lembra que em um Old Fashioned feito como realmente dever ser, o protagonismo no palato tem que obrigatoriamente ser do bourbon. "Até porque o bourbon já passou antes por barris de carvalho, o que lhe confere gosto e aroma acentuados. E por ser bourbon, há que se ter também a referência do milho, no retrogosto".
Em relação a consumo no Brasil, Meirelles igualmente credita os dígitos do Old Fashioned mais a apreciadores de uísque. Um dos motivos, crê, é a baixa adesão do contingente feminino, ao contrário do que acontece com o Negroni (e mais ainda com o Gim Tônica).
Basta observar em qualquer bar: quantas mulheres se vê tomando uísque puro? São poucas. E isso se reflete no consumo do Old Fashioned".
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.