Por que a moda de 'Succession' viralizou tanto? 'Nunca foi nossa intenção'
Indicada ao Emmy, figurinista de Succession justifica êxito: 'Queremos ver um mundo que não conhecemos'
Não parece, mas a série "Succession", da HBO, acabou no final de maio deste ano.
Meses após o término da produção de Jesse Armstrong, que elevou o nível da categoria ao retratar a história da milionária família Roy, os personagens, falas e até figurinos seguem sendo abordados e discutidos, principalmente após o roteiro intenso e profundo que marca os episódios da última e quarta temporada.
Em especial na moda, a série popularizou ainda mais a tendência do quiet luxury — "luxo silencioso" em tradução literal, que exalta peças de qualidade, cores mais sóbrias e sem ostentação.
Essa moda diz muito sobre os novos comportamentos de consumo, que busca uma moda mais sustentável e econômica, visto a instabilidade econômica mundial e falta de insumos durante e após a pandemia de covid-19.
O trabalho em cima desse tema foi tão significativo que a coroação veio com a indicação do Emmy 2023 de Melhor Figurino, uma das 27 que a série levou neste ano — liderando os números nessa edição da premiação.
Viralizar? Não com os Roy
Mais cedo, o trabalho de Michelle Matland, figurinista de "Succession", causou tanto burburinho que um perfil foi criado por fãs para destacar as roupas e marcas usadas como códigos sutis de classe e poder. Mesmo com o término da produção, o perfil @successionfashion segue acumulando 186 mil seguidores.
No entanto, em entrevista exclusiva para Nossa, a profissional garante que conquistar a internet nunca foi sua intenção e muito menos destacar o quiet luxury.
Não tínhamos a intenção de viralizar. Eu e meu time não sabíamos do termo criado na internet antes do lançamento da série ou, pelo menos, eu desconhecia", diz ela, que não possui perfil nas redes sociais.
A figurinista acredita que a estética ganhou os holofotes por desejarmos estarmos expostos a coisas que não temos.
"Queremos ver um mundo que não conhecemos. Me sinto culpada de ficar obcecada da forma como as pessoas ricas vivem, como são suas casas, e quem limpa seu banheiro, mas fomos escalados apenas para contar uma história", explica a profissional, que cita como exemplo um local popular.
"Ninguém quer ir ao McDonald's e descobrir o que todo mundo está vestindo lá", brinca.
Estilo evoluiu com personagens
Por mais que a história tenha retratado bilionários desde o começo, a evolução de estilo dos personagens é muito clara para Michelle, principalmente na primeira temporada.
O personagem do Kendall, interpretado por Jeremy Strong, por exemplo, estava muito envolvido nos negócios, por isso, usava muitos ternos, diferente da irmã.
"Na época, Shiv estava trabalhando no movimento político dos Democratas, então queria se isolar da família e fazer mais parte dos trabalhadores, tentando vender um discurso de 'somos todos iguais'", comenta a profissional, que nesta fase optou por roupas mais simples para a personagem se 'misturar' no contexto.
Inclusive, Shiv foi uma das personagens que mais sofreu mudanças na série — mudou de emprego, status do relacionamento e outras questões que envolvem spoilers.
"Tentamos emular um pouco da Katharine Hepburn nos anos 40 para mostrar que a personagem estava na burocracia de tudo e era capaz de competir num mundo dos homens", diz a profissional que ressalta o uso de calças de cintura alta e ombreiras nessa fase.
Gerri (J. Smith-Cameron) foi outra personagem feminina de característica muito forte e decisiva que ganhou looks elevadíssimos para se impor.
"Tentamos elevar os enredos delas através das suas roupas para dar as mulheres trajes de batalha. Era meio que como se elas estivessem colocando seus uniformes", entrega.
Diferente do que parece, a mudança de estilo na série ocorria de forma genuína conforme os enredos se alteravam a partir do roteiro, nada muito elaborado ou previamente combinado.
Começávamos com a palavra escrita, com o roteiro como a Bíblia, e transformávamos os personagens conforme o momento que ele estava vivendo", traduz a figurinista.
Outro protagonista na questão estilo foi Tom, interpretado por Matthew Macfadyen. Na primeira temporada, ele não tinha nem entrado para a família e muito menos aparentava que ia ter o final que recebeu, mas suas roupas já diziam algo.
"No começo, seus trajes eram muito interior da América, nada de roupas de ponta. No entanto, suas peças demonstravam que ele estava aspirando ser outra pessoa", relembra Michelle.
Peça viral e... barata
Entre tantas roupas de grifes como Tom Ford, Gucci, Armani, Ralph Lauren, Saint Laurent, entre outras, uma marca nada convencional no universo bilionário roubou a cena no episódio final de "Succession".
Trata-se de uma camiseta básica do Walmart usada por Roman (Kieran Culkin) quando ele 'foge' para a casa de sua mãe. O item viralizou nas redes sociais.
"Quando ele vai para a casa de mãe, ele não leva nada, não vai até sua casa e troca de roupas. Roman aparece lá com o que está no seu corpo. A ideia é que ele foi até seu quarto de infância e encontrou algo para vestir, algo que estava no local há anos", detalha.
A peça de US$ 13,96 (avaliada em R$ 67,27 na conversão de hoje) foi escolhida a dedo pela figurinista. "É como um cobertor de segurança de criança", entrega.
Diferente de todos os personagens, Michelle acredita que Roman Roy é o menos camaleão da série no quesito troca de roupas e estilo.
"Na verdade, ele é o único que não mudou do começo da série até o final. Esse personagem é especial, acredito que ele se conhece melhor que qualquer outra pessoa na série. Durante o processo, mantivemos o look dele completamente", comenta a profissional.
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