O que faz da Catena Zapata a melhor vinícola do mundo para se visitar
Hoje ela é a tal. Difícil encontrar um enófilo que viaje à região de Mendoza, na Argentina, e não tenha o sonho de conhecer (ou rever) a vinícola Catena Zapata, com sua imponente sede em forma de pirâmide maia e seus vinhos cobiçados, alguns vendidos a mais de R$ 3 mil no Brasil.
Agora, mais do que nunca, ela está na lista de desejos de mais e mais fãs do vinho. Bodega Catena Zapata chegou ao topo da lista World's Best Vineyards, votação anual que elenca os melhores vinhedos do mundo não apenas pela qualidade de seus produtos, mas pelo pacote de experiências que o enoturista pode ter.
Ambiente, natureza, gastronomia, recepção, atividades, acomodações, degustações — o conjunto da obra — são alguns dos quesitos que fazem 50 vinícolas ao redor do mundo pertencerem à lista, como explica a sommelière Daniella Romano, uma das presidentes da eleição na América Latina.
Catena Zapata é bamba em vários desses quesitos. Situada na região mendocina de Agrelo, aos pés da Cordilheira dos Andes, insere-se num cenário acachapante. Pelos atributos físicos e pela fama que conquistou com a redescoberta da uva Malbec em terras argentinas nos anos 1990, costuma arrancar "ohs" de quem a visita.
"É tudo deslumbrante e de extremo bom gosto: a arquitetura, os detalhes da decoração, a sala de degustações onde vemos as barricas em que os vinhos envelhecem. Fora a vista para os vinhedos e a imponência da cordilheira dos Andes ao fundo. E, claro, as estupendas qualidade e diversidade dos vinhos", diz Arthur Azevedo, vice-presidente da Associação Brasileira de Sommeliers de São Paulo (ABS-SP).
Brasileiros "mandam" na região de Mendoza
O turista brasileiro é chapa da vinícola, que já recebeu elogios rasgados de críticos importantes como Jancis Robinson e Robert Parker — e altas pontuações em diversos guias de vinhos e premiações. Somos maioria entre os visitantes da Catena e, por isso, ela trata de nos mimar com certa deferência.
A vinícola recebe visitantes do mundo todo com carinho e calidez. Trata-se de uma empresa familiar, apesar do porte. Mas há uma preocupação especial com os brasileiros. Membros da equipe falam português, cuidado tomado em gratidão ao prestígio conquistado no Brasil", conta Otavio Lilla, sócio da importadora Mistral, que traz para cá os vinhos de Catena Zapata, hoje dirigida pela médica Laura Catena.
Angélica Cocina Maestra, o restaurante inaugurado recentemente e instalado numa bela construção onde outrora eram feitos espumantes (e onde hoje há uma destilaria e inicia-se a produção de vermute), é outro mimo criado pela família Catena. Brazucas bons de garfo e de copo tiveram um dedo na sua criação, diz Otavio.
"Muitos turitas brasileiros sugeriam que houvesse um restaurante na vinícola. Era uma ideia antiga da família, mas o projeto foi gerado cuidadosamente, sem pressa, pois eles queriam que sua gastronomia fosse excepcional, como são seus vinhos."
A casa de alta gastronomia é gerida por Alejandro Vigil, enólogo da Catena Zapata e dono de sua própria vinícola. O menu em dez tempos, harmonizado com rótulos Catena, do espumante ao vinho de sobremesa, inclui clássicos da culinária internacional e argentina: queijos de cabra regionais, mil folhas de batata, carnes na brasa, timo bovino, gravlax de truta, massas, doces.
Além de comer e beber bem, o visitante pode escolher diversos estilos de passeios, sempre acompanhados de degustações. "Family Is Everything" conta a saga da família na interpretação do terroir andino. "Blending Games" convida o visitante a mesclar vinhos e a criar seu prório corte. "Wine and Music", como o nome entrega, harmoniza vinhos com música.
Melhor época para visitar? A quem busca climas amenos, Otavio indica a primavera ou o verão, quando se aproxima a época da colheita e é possível admirar as uvas maduras nas vinhas. Para quem é dos extremos, o inverno é boa ocasião. A neve e o frio intenso podem dificultar a visita a vinhedos mais altos, que nessa época estão em dormência, mas encantam os fãs de aventura.
O renascimento da uva Malbec
Quando a pirâmide maia foi inaugurada, em 2001, a região de Mendoza não era exatamente mato. Muitas vinícolas já haviam se estabelecido ali havia um bom tempo, incluindo a própria Catena, fundada em 1902 pelo imigrante italiano Nicola Catena. História centenária.
O enoturismo é que era inexistente na Argentina. "O que nos mostravam da cidade era a escola municipal e o corpo de bombeiros", lembra Otavio. Porém, os vinhos de Nicolás Catena Zapata, pai de Laura e neto do pioneiro Nicola, já gozavam de excelente reputação e Malbec já era considerada a uva-símbolo do país.
Poucos anos antes disso, o vinho argentino tinha má fama, era bebida de mesa para acompanhar a pizza e os assados no dia a dia das famílias. Inspirado por experiências exitosas que testemunhou em vinícolas californianas, Nicolás entendeu que era o momento de experimentar com as uvas de que dispunha, lançando mão de um recurso que a natureza oferecia de mão beijada: a altitude dos terroirs andinos.
Nos anos 1980 e 1990, identificou as melhores plantas de seus vinhedos, criou mudas e as levou para o alto, em terrenos a mais de mil metros do nível do mar. Se formos pensar como uma uva, a mudança pode não parecer tão agradável, já que exige um bom trabalho de adaptação, tipo "me tiraram da zona de conforto".
Para se proteger da maior exposição aos raios solares, onde o ar é rarefeito, as frutas criam cascas mais grossas e com mais material corante. Para combater o extremo frio noturno, a planta para de transpirar e mantém maiores níveis de acidez, o que garante longevidade aos vinhos. A maturação lenta e perfeita, nessas condições, também origina taninos mais finos.
Se pensarmos como bebedores de vinho, a coisa fica bem bacana.
As uvas de altitude geram vinhos tintos de fruta muito madura, porém fresca, sem a sensação de compota. Os taninos são macios, a bebida não tem amargor ou adstringência. São vinhos sedosos, de uma cor linda e com um aroma floral espetacular", descreve Arthur, mestre na cadeira sobre Argentina na ABS-SP.
A Malbec, originária da região sudoeste da França e há muito menosprezada em seu próprio berço, beneficiou-se especialmente com a ida às alturas. Introduzida na Argentina no século 19, revelou características peculiares, foi reinventada. "Com a Malbec, Nicolás criou um produto que não existia no mundo. Em comparação, a Malbec da região francesa de Cahors é rústica, tem taninos ferozes", diz.
Borgonha ou Califórnia? Não. Argentina
Foi a uva Chardonnay, no entanto, que abriu as portas do nosso mercado para o vinho argentino, a partir da surpresa de Ciro Lilla ao provar um exemplar do vinho branco dos Catena servido por Elena, mulher de Nicolás, numa feira de negócios.
Otavio relata que Ciro, seu pai e presidente da Mistral, trouxe o Chardonnay ao Brasil e fez com que especialistas o provassem em degustações às cegas. "Isso é Borgonha? É Califórnia?", perguntavam os degustadores, embasbacados ao ouvir a resposta: Argentina.
Voltando à pirâmide maia da Catena, o que se viu depois de seu sucesso foi a explosão do enoturismo na região de Mendoza, hoje com opções variadíssimas para quem quer férias com vinhos, gastronomia, passeios e paisagens de paraíso.
As argentinas Bodegas Salentein (9º lugar), El Enemigo Wines (projeto de Alejandro Vigil, em 10º), Finca Victoria (13º), Bodega Colomé (24º) e Bodega Diamandes (48º) estão na lista World's Best Vineyards 2023, atestando a importância do país no panorama mundial do turismo entre vinhedos.
A alma de Catena Zapata longe de Mendoza
Não apenas Malbec e Chardonnay fazem a fama de Catena Zapata. Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Pinot Noir, Bonarda, Syrah, Grenache, Petit Verdot, Sauvignon Blanc, Viognier e Sémillon são outras uvas cultivadas e vinificadas em diversos estilos pela bodega.
Com preços para bolsos magros ou muito cheios, a vinícola é democrática e Otavio Lilla sugere um passeio que vai dos rótulos básicos aos intermediários. Para que se tenha ideia da evolução de complexidade dos vinhos de Chardonnay e Malbec, comece pela linha Álamos (cerca de R$ 110), passe pela linha Catena Clássica (na faixa dos R$ 200), até chegar às linhas Catena Alta ou Angélica (acima de R$ 300).
Para os verdadeiramente abonados, os vinhos de Adrianna, o mais celebrado vinhedo da família Catena, são um parque de diversões (com preços que vão de R$ 1 mil a R$ 3 mil, dependendo da safra). São dois Chardonnays e três Malbecs de parcelas selecionadas, cada um com características singulares. E mais o Catena Zapata Malbec Argentino, blend das três principais parcelas da uva tinta do vinhedo Adrianna.
Esses vinhos são fruto de um estudo profundo do solo, da topografia, do clima, de cada uma das parcelas selecionadas. São elaborados numa vinícola tecnologicamente muito avançada. O consumidor reconhece a qualidade dos vinhos da Catena Zapata imediatamente", diz Arthur.
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