Hollywood do Deserto leva à África gravações, de '007' a novela brasileira
O tour aos estúdios da Universal, Warner Bros e Paramount em Los Angeles, nos Estados Unidos, se tornou tradicional na terra da sétima arte. Entretanto, longe dali, no continente africano, um passeio cinematográfico aos sets de filmes famosos tem atraído visitantes de todas as partes do mundo.
Apelidado de Hollywood Marroquina ou Hollywood do Deserto, os estúdios Atlas e CLA, localizados na cidade de Ouarzazate, no sudoeste do país, oferecem tours semelhantes para curiosos e fãs de cinema.
São desde templos egípcios, mosteiros tibetanos, cidades bíblicas e outros cenários históricos disponíveis para visitação.
Fundado em 1983, o Atlas foi precursor em sediar grandes produções, a primeira delas foi a comédia de aventura "A Joia do Nilo" (1985) estrelado pelos atores Michael Douglas, Kathleen Turner e Danny Devito. Logo em seguida, veio "007 Marcado para a Morte" (1986) com Timothy Dalton, décimo quinto filme da franquia do agente secreto James Bond.
São mais de 200 filmes e séries rodados no Atlas desde os anos 1980, entre os mais famosos destacam-se: "Gladiador" (2000), "Ben-Hur" (2016), "Cruzada" (2005), "Alexandre — O Grande (2004), "A Múmia" (1999), "Asterix e Obelix - Missão Cleópatra" (2022), "A Paixão de Cristo" (2004) e até "Game of Thrones" (2009).
Com paisagem rochosa e desértica — e temperaturas escaldantes no verão e noites frias no inverno — os cenários naturais da região são usados principalmente para reproduzir lugares como o Oriente Médio, cuja logística seria praticamente impossível, sobretudo por razões de segurança.
Mesmo outros destinos mais próximos e 'tranquilos' já foram emulados no set africano. No filme de terror "Viagem Maldita" (2006), as colinas e planícies áridas marroquinas representaram o deserto do Novo México, nos Estados Unidos, onde a história se passa. O sucesso do filme garantiu uma sequência filmada na mesmo local um ano depois.
A Hollywood é aqui
O tour em Ouarzawood (uma junção do nome da cidade com Hollywood) permite ao visitante conhecer os sets reais e, se tiver sorte, testemunhar uma filmagem, ou mesmo se deparar com algum famoso.
Por lá já passaram celebridades como Russell Crowe, Liam Neeson, Cate Blanchett, Nicole Kidman, Leonardo DiCaprio, Angelina Jolie, Rodrigo Santoro, Jean-Claude Van Damme e muitos outros. Até mesmo atores brasileiros circularam na região. A novela bíblica brasileira Jezabel (2019), exibida pela Rede Record, teve cenas gravadas nos estúdios e em paisagens desta área do Marrocos.
Embora a entrada dos estúdios possa parecer cafona com suas enormes imagens faraônicas ou mesmo lembrar uma cidade fantasma se não estiver em uso; a visita guiada permite ir além dos cenários.
Durante o percurso, o turista pode explorar os bastidores (algumas construções são apenas fachadas), ouvir histórias curiosas sobre objetos usados em cena e conhecer outras peculiaridades.
Em comparação aos três famosos estúdios localizados em Los Angeles, a visita ao 'Projac africano' é muito mais barata; custa em torno de R$ 40 por pessoa e dura aproximadamente 1 hora (guia opcional é pago a parte).
Se o passeio incluir a fortificação do filme "Cruzada", o valor aumenta para cerca de R$ 55. Entretanto, não espere uma estrutura igual à dos estúdios americanos: não existem placas, por exemplo, indicando quais filmes foram realizados ali. Além disso, o itinerário pode ser alterado se houver uma filmagem em andamento.
Mais um estúdio no passeio
Erguido em 2004, o estúdio CLA foi fundado pelo consagrado produtor italiano Dino De Laurentiis em parceria com a Cineccita Studio, de Roma, e uma empresa marroquina.
Menos popular que o Atlas, ele também sediou vários projetos cinematográficos em seus três enormes cenários adaptáveis para serem reutilizados em diferentes obras, em adição a uma localização privilegiada próxima a desertos.
Um deles é uma cópia fiel de um vilarejo berbere (povos do norte da África) conhecido como kasbah, com seus muros altos e torreões nas extremidades. Além dele, kasbahs reais da região são usados nas filmagens. É o caso do Ait Ben Haddou, nas Montanhas Atlas, considerado um Patrimônio Mundial pela UNESCO. Ali foram rodadas cenas de filmes como "A Múmia, "Gladiador", entre muitos outros.
Outro set conhecido é o barco usado na refilmagem do clássico "Ben-Hur". Além de um povoado cenográfico utilizado em "O Príncipe da Pérsia", onde modificações são realizadas para se adequar ao período em que se passa a obra. Com relação à visitação, o diferencial são as exposições de figurinos e adereços utilizados em longas conhecidos.
O tamanho do CLA impressiona. O complexo ocupa uma área de 150 hectares, ideal para produções de época que exigem espaços imponentes. São dois estúdios de gravação climatizados com 1.800 m² cada, um deles com piscina.
Soma-se a isso: 20 camarins, cinco galpões para guardar adereços e equipamentos; quatro oficinas de cenografia distribuídas em uma área de 2.400 m²; um ateliê para a fabricação de figurinos; um restaurante e cozinha com capacidade para servir 200 refeições e um espaço VIP separado para elenco e direção. O estacionamento acomoda até 400 veículos, desde automóveis, caminhões e trailers. Aliás, diversos veículos usados no filme "Falcão Negro em Perigo", de Ridley Scott, também estão expostos.
'Gladiador' popularizou estúdio no Marrocos
O divisor de águas na carreira do Atlas desde a sua abertura foi o premiado "Gladiador" (2000). Indicado a 12 categorias do Oscar (e conquistando cinco delas), o filme deu projeção mundial ao estúdio ao recriar o Império Romano.
A obra dirigida por Ridley Scott tinha no elenco nomes de peso como Russell Crowe, Joaquin Phoenix e o veterano ator Richard Harris. Com o sucesso de crítica e público, as atenções foram direcionadas para Ouarzazate, que recebeu a alcunha de Ouarzawood — antes era conhecida como "Portal do Deserto".
Crescimento da economia local e cenários de gesso e madeira
A criação do Atlas no início da década de 1980 e do CLA Studios anos depois, possibilitou um ligeiro crescimento econômico no país, além de ter também estimulado o turismo na cidade.
A equipe técnica que trabalha nessas produções é majoritariamente local, empregando centenas de pessoas como mão de obra. Isso sem deixar de mencionar os empregos indiretos, como figuração, fabricantes de cenários, artesãos, dublês e tradutores.
Em uma ocasião, para uma película, uma Jerusalém foi construída por cerca de 600 homens em tempo recorde de três meses em um terreno de cinco hectares. Para "Asterix e Obelix — Missão Cleópatra", com Gérard Depardieu, mais de 2.500 figurantes foram usados.
Mas não é apenas a geografia diversificada com suas colinas e desertos, ou mesmo o clima quente com mais de 300 dias de sol, que atrai os profissionais de cinema. Existem incentivos e facilidades para essas produções estrangeiras de orçamentos milionários.
Alguns desses estímulos, segundo ambos os estúdios, são: rápida aprovação das licenças de produção; custos competitivos (cerca de 30% inferior aos estúdios europeus); descontos da companhia aérea nacional (cujo aeroporto está localizado a 8 km); hospedagem em hotel próximo ao set para otimizar tempo; e isenção de IVA (Imposto sobre Valor Acrescentado) para todas as compras de bens e serviços no Marrocos.
Apesar de ter acolhido várias produções épicas, a visita não agrada a todos. Segundo opiniões de visitantes em plataformas turísticas especializadas, o tour pode deixar a desejar para quem é cinéfilo, devido aos cenários falsos feitos basicamente de madeira e gesso; pinturas que são, na verdade, papel de parede; e colunas de templos egípcios móveis — mas que na telona parecem autênticos.
Alguns apontaram também má conservação de algumas peças, embora a avaliação de modo geral seja positiva. Todavia, a mentira faz parte da magia do cinema, em que a arte usa a ilusão para criar a realidade.
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