Nem só de cava vive o espumante espanhol: conheça os classudos Corpinnat
O consumo de vinhos e espumosos não apenas se consolidou no Brasil nos últimos anos, como não para de crescer. Dados recém-divulgados pela empresa de inteligência de mercado Ideal Consulting mostram que os espumantes brasileiros apresentaram crescimento de 2% nas vendas em 2022, e os importados registraram alta de 28% na comparação com 2021.
Entre os importados mais conhecidos pelos brasileiros estão o Champagne francês e o Prosecco italiano. Mas há dois novos atores nesse panorama que ganham cada vez mais adeptos entre os wine lovers do país: o Cava e o Corpinnat espanhóis.
Com características próprias e distintas aos outros dois colegas europeus, o Cava ganhou ampla entrada no mercado, impulsionado principalmente pela gigante Freixenet e outras dezenas de marcas que ganharam espaço nas adegas e cartas Brasil afora.
"Há um apetite por vinhos espumosos no Brasil há muitos anos. Para nós esse é um mercado interessante", afirma Javier Pagés, presidente da D.O. Cava. Segundo dados do Conselho Regulador do Cava, no ano de 2022 houve um crescimento de 24,30% no consumo da bebida, com mais de 249 milhões de garrafas vendidas em todo mundo.
Para os especialistas, porém, um dos principais problemas do Cava é que ele, diferentemente do Champagne, contempla uma ampla gama de produtos, preços, origem, armazenamentos e sabores muito distintos.
É possível, por exemplo, encontrar num supermercado do Brasil um Cava de cerca de R$ 70, que se assemelha mais ao Prosecco, e também achar, nas melhores adegas, versões da bebida que custam mais de R$ 500 — que estão na mesma linha dos Champagnes.
É da insatisfação com a falta de diferenciação clara entre essas duas pontas que surge uma nova denominação para espumantes de alta qualidade: o Corpinnat.
"Primo" do Champanhe
Antes de mais nada, é preciso entender o que faz do Cava, do Corpinnat e do Champagne "primos". Os primeiros Cavas produzidos na Espanha datam de 1872, quando o chamado método tradicional chegou à Sant Sadurní d'Anoia, província a cerca de 30 quilômetros de Barcelona.
O que define um espumante como Cava, Corpinnat ou Champagne é exatamente a utilização deste método, também chamado de champenoise. Diferentemente do método charmat — um dos mais utilizados no Brasil e na Itália —, onde as borbulhas são geradas em tanques de inox, no método tradicional elas surgem de um segundo processo de fermentação que ocorre dentro da própria garrafa.
Rejeição à demonominação Cava
A marca surge da insatisfação de um grupo de produtores de Cava pelo abismo entre quantidade x qualidade dentro da denominação de origem Cava. Para eles, as diferenças que havia dentro da mesma denominação atrapalhava aqueles que produziam um Cava superior.
A falta de especificações, da determinação de origem, entre outros pontos, segundo o coletivo, prejudica e "inferioriza" a terminologia.
Por isso, em 2017, 9 empresas decidiram deixar de usar a denominação Cava e se organizaram em uma nova associação, a Associação de Elaboradores e Vinicultores Corpinnat. Hoje, as bodegas que compõe o Corpinnat são Gramona, Llopart, Nadal, Recaredo, Sabaté i Coca, Torelló, Huguet-Can Feixes, Júlia Bernet, Mas Candí, Can Descregut e Pardas.
Ton Mata, presidente da Corpinnat e CEO da vinícola Recaredo, explica que, além da questão da origem, a reunião se criou também para integração vertical das empresas. Ou seja, discriminar, como se faz na França, se a empresa colhe, produz a base e as fermentações, ou se compra uva ou vinho de terceiros para fazer somente a segunda fermentação, ou se, em alguns casos, já compra o espumante pronto e só coloca eu rótulo.
Apesar de poder ser produzido em diferentes regiões da Espanha, mais de 95% da produção do Cava segue tendo origem na Catalunha.
Mesmo constituindo um grupo que passou a chamar seus produtos de Corpinnat e de ter a restrição de território entre seus principais pilares, o Corpinnat não é uma denominação de origem e sim uma marca coletiva da União Europeia.
A principal diferença é que uma marca coletiva pode ser constituída por um grupo de empresas sem interferência estatal, enquanto a denominação de origem precisa obrigatoriamente de uma administração pública.
O que é o Corpinnat
O regulamento de uso da marca exige que um Corpinnat seja produzido por empresas com vinhedos 100% ecológicos, vendimia (colheita) 100% manual, elaboração do espumante 100% feita na propriedade, largas crianzas, compromisso com variedades históricas e contratos de larga duração e a um preço mínimo garantido com os viticultores provedores.
E o grupo atingiu seu objetivo de criar um produto superior: degustar um Corpinnat se assemelha muito a apreciar um Champagne, oferecendo maior complexidade de sabores e características que o fazem único e uma verdadeira celebração do estilo e sabores Mediterrâneo.
Segundo os produtores, a razão de um produto diferente da Cava comum é a proteção ao território e o uso de mais de 90% de uvas de castas históricas do Penedès (Xarel·lo, Macabeo, Parellada, Malvasía, Garnacha tinta, Monastrell, Sumoll e Xarel·lo vermell).
O espaço determinado para o uso da marca coletiva parte da zona considerada como o núcleo histórico da produção vinícola do Penedès e abrange uma superfície de 997 quilômetros quadrados.
Nos comprometemos com um território que sofre com relação ao preço da uva, mas nós não queremos comprar uvas de qualquer lugar, e sim valorizar as que são originais daqui, dando prestígio e credibilidade aos produtores locais", diz Mata.
Quanto mais tempo guardado, melhor
No caso de um Corpinnat, o mínimo que as garrafas devem ficar armazenadas é 18 meses — e obrigatoriamente as empresas devem possuir ao menos um tipo de 30 e outro de 60 meses de crianza —, mas 62% das garrafas registradas no balanço de 2022 possuem um período de armazenamento entre 30 e 60 meses.
Esse é um dos motivos pelos quais os valores de venda do Corpinnat são mais elevados. Em média, os preços estão acima dos 25 euros (cerca de R$ 133). Já o Cava pode ser encontrado no mercado espanhol a partir de 2 euros (cerca de R$ 10).
"Não queremos criticar o que outros fazem por aí, mas queremos mostrar que fazemos algo diferente, de qualidade superior. Nossa ideia original era, inclusive, que o Corpinnat estivesse embaixo da D.O. Cava, mas não foi possível", conta.
Entretanto, o questionamento era relevante e, hoje, a D.O. Cava também passou a contemplar categorias "superiores" dentro de seus afiliados, como o Cava Reserva (mínimo 18 meses de armazenamento) e Gran Reserva (mais de 30 meses).
O Cava não precisava ser só jovem, fresco e afrutado, mas que também pode ser um espumoso com mais carácter e personalidade Isso traz ao mercado um produto superior, que pode se sentar lado a lado com os melhores Champagnes do mundo e ser avaliado como igual"
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