Maconha e briga de galo: guia de viagem feito há 50 anos tem dicas surreais
Uma primeira edição do tradicional guia de viagem Lonely Planet, publicada em 1973, foi localizada pelo jornal britânico The Telegraph e revela um mundo bastante diferente para viajantes — profissionais ou não.
Escrito pelo seu cofundador, Tony Wheeler, ele ensina a navegar a Ásia com um orçamento econômico e relata trechos da experiência do jornalista britânico ao lado de sua sócia e esposa, Maureen, por diversos países do continente através de percursos clássicos da era, como a "Trilha Hippie".
Algumas das dicas são incrivelmente honestas — ainda que eticamente questionáveis —, mas não seriam possíveis em 2023. Confira os mais curiosos conselhos que eram dados a turistas há 50 anos:
Tapete de criança
Em 1973, a opção recomendada de hospedagem no Irã era acampar. "Você nem precisa de uma barraca já que na maoioria deles há tendas já montadas com camas. Isfahan tem dois acampamentos — um central e um agradável albergue da juventude com acampamento no jardim, mas que é exorbitante: cerca de US$ 1,50 por noite para duas pessoas". A diária hoje seria equivalente a US$ 8,50 ou R$ 42,25. Caro?
O guia ainda dava a dica que a melhor lembrancinha do país era um belo tapete persa. "Se o preço for importante, você pode se dar bem em um centro regional como Tabriz ou Isfahan. Leis contra o trabalho infantil mais rígidas estão gradualmente enfraquecendo a indústria, então compre agora enquanto as crianças ainda estão sendo exploradas!", ensinava, surpreendentemente, o editor.
Cookies de haxixe e maconha liberada
Nos anos 70, Cabul era considerada a "Paris do Leste" e, por isso, os Wheelers avisavam os leitores a ficarem espertos com o preço dos souvenires para não cair em "ciladas" para turistas. Mas a dica mais excêntrica a respeito do país indicava que o Afeganistão era um destino surpreendentemente permissivo com drogas.
"A maconha, é claro, é um produto muito vendido no Afeganistão, e, contanto que você compre apenas em pequenas quantidades, é extremamente improvável que tenha algum conflito com a lei." O jornalista ainda relembrou que encontrou, na fronteira, um grupo de americanos "chapados" que tinha passado cerca de seis horas cheirando cocaína com agentes da alfândega. E, por fim, recomendou:
"A higiene nas padarias afegãs não é tudo que alguém poderia pedir, mas algumas delas oferecem 'extras' como cookies de haxixe."
Briga de galo e bons banheiros
O guia relata que uma das principais formas de entretenimento em Bali nos anos 70 eram as brigas de galo. "Muitos balineses mantêm galos de briga e você frequentemente os vê à beira da estrada observando quem passa — para que não fiquem entediados entre as rinhas. Você muitas vezes vê um dono fazendo respiração 'boca a bico' e ressuscitação entre as rodadas".
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Quero receberWheeler se declarou um fã dos banheiros indonésios. "Uma coisa com que você vai ter que se acostumar na Indonésia é a posição no banheiro que você vai adotar até voltar para a Europa. O toalete são dois apoios para os pés e um buraco no chão. Não se preocupe, logo você vai achar o agachamento bastante natural e é fisiologicamente melhor para você — metade da constipação da civilização ocidental é casuada pelo nosso hábito de executar funções corporais enquanto sentados."
Ele ainda deu o passo a passo para tomar banho por lá. "Você também vai se acostumar com os banhos indonésios — um grande tanque de água e uma cumbuca de plástico. Você pega água do tanque e despeja sobre sua cabeça, não mergulhe nele!"
Bico de acompanhante
Bastante elogiada por sua limpeza, a Cidade-Estado de Singapura não era tão receptiva aos cabeludos nos anos 70. "Se o seu cabelo puder ser remotamente descrito como longo, eles provavelmente vão querer ver provas consideráveis de sua viabilidade financeira ou sua passagem para deixar Singapura — preferivelmente naquela mesma tarde! Para evitar transtornos, corte o cabelo ou use uma peruca curta".
Ainda havia uma dica de trabalho — impensável em 2023 — especialmente para as mulheres: "Garotas podem conseguir um dinheiro fácil trabalhando para os serviços de acompanhantes — eles são bastante respeitáveis".
Cuidado com DSTs
Ao recomendar um hotel de Bangcoc, o editor dá um aviso. "Esforços podem ser feitos para preencher a sua conta (se você for homem) com 'talentos' locais. Tome cuidado — Bangcoc desenvolveu algumas pesadas formas de doenças venéreas [sexualmente transmissíveis, como são conhecidas hoje]", explicou a respeito do movimentado mercado da prostituição tailandesa nos anos 70.
Litrão de sangue
Para quem viajava com pouco dinheiro, o Kuwait era uma boa pedida — caso você estivesse disposto a dar, ou melhor, vender o próprio sangue. Literalmente.
"Você pode fazer estoque de tudo com preços baratos aqui e conseguir atendimento médico de graça. O preço pelo sangue no Kuwait é provavelmente o mais alto em todo o mundo, então venda de 500 mL a 1L se você estiver duro. O único problema é, se você estiver liso [antes de chegar], não vai conseguir entrar porque vistos podem ser difíceis. Invente uma boa história sobre ser um estudante de religiões ou culturas", ensina.
Curvas na moda
Além de reclamar bastante da sujeira e da lerdeza dos trens indianos, Wheeler faz uma observação quiçá indelicada sobre a cultura local ao recomendar uma visita ao cinema — ressaltando a preferência da sociedade por mulheres curvilíneas. "Em um país onde inanição é encontrada em cada esquina e onde não há nenhum glamour em ser magro, um outdoor de um filme indiano parece o 'antes' de uma propaganda de dieta".
Outras pérolas
Há ainda no guia algumas observações curiosas sobre a realidade política do período — como reclamações das dificuldades de entrar no Vietnã em meio à guerra com os EUA e o fato de que um Iraque "socialista" era receptivo aos britânicos.
Além disso, é desenhado um verdadeiro 'mapa da mina' sobre a disponibilidade das mais variadas drogas.
"Em Bali, cogumelos descem bem... Na Índia, Paquistão e Nepal, haxixe e maconha podem ser encontrados em praticamente qualquer lugar. Conhecedores dizem que a qualidade no Nepal não é a melhor, mas deliram com a maconha da Caxemira. Afeganistão é o paraíso dos maconheiros. Ópio também está amplamente disponível, se você curte coisas mais pesadas."
Wheeler ainda faz um alerta a respeito do assédio a mulheres na Ásia, com uma dica digna de Hemingway. "Não há como realmente evitar a mão boba. É humilhante para as garotas e frustrante para o potencial cara protetor. Por isso, se você puder meter a mão em um destes desgraçados, aproveite e dê umas porradas nele".
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