Galvão sobre a paixão por vinhos: 'Investi quase tudo o que ganhei na vida'
Tânia Nogueira
Colaboração para Nossa, de Armação dos Búzios*
05/09/2023 14h06
Galvão Bueno é produtor de vinhos, tem uma vinícola na região de Montalcino, na Itália, e outra na Campanha Gaúcha, e fala sobre o tema com os mesmos entusiasmo e desenvoltura de suas narrações esportivas.
Quando lançou a primeira safra do Paralelo 31, Galvão conta que foi chamado de pretensioso. Hoje, porém, é um produtor bastante respeitado.
Relacionadas
No ano passado, ele foi uma das atrações do festival Wine in Búzios e concedeu durante o evento uma entrevista exclusiva a Nossasobre a sua paixão por vinhos. Confira os melhores momentos:
Nossa: O vinho é um negócio ou um prazer?
Galvão Bueno: Tenho uma paixão, senão não teria dedicado os últimos 14 anos a isso e investido praticamente tudo o que ganhei na vida. Tudo começou com as minhas viagens pelo mundo para a Fórmula 1. Viajava com o Reginaldo Leme. A gente tomava destilado, cerveja... Onde a gente estivesse, em Portugal, na Espanha, na Itália, na França, nos restaurantes, em toda mesa tinha uma garrafa de vinho. Eu dizia: "Ô Regina, tamo errado, cara!. Todo mundo tá tomando vinho."
Nossa: Qual foi o primeiro grande vinho que você bebeu?
Galvão Bueno: Na Copa do Mundo de 1982 na Espanha. Cobríamos quatro cidades diferentes, uma longe da outra, então, arrumamos um hotel no meio do caminho. Na primeira noite, no jantar, pedi a carta de vinhos. Tinha lá um Vega Sicilia. Já tinha escutado o Boni falar desse vinho. Perguntei pro Sérgio Noronha: "E aí, tem coragem?" E tomamos.
Na segunda vez que dormimos nesse hotel, liguei pro Boni: "A culpa é sua. Você fica falando do vinho. Cada noite que dormirmos aqui, vamos tomar esse vinho e levar a nota.". Ele respondeu: "Feito"! O Boni é fantástico, inigualável. Daí para frente, a paixão só aumentou.
Até eu fazer o meu primeiro vinho, o Paralelo 31, se passaram 26 anos. Na verdade, ele foi feito pelo Michel Rolland (enólogo francês) e pelo Adriano Miolo (enólogo da Miolo), mas, para me agradar, disseram que foi feito a seis mãos. Só dei o nome. Hoje participo de tudo. Gosto de dar meus palpites!
Nossa: Como o Adriano Miolo entrou nessa?
Galvão Bueno: Conhecia o Darci, o pai dele. Em 2008, comprei a Bellavista, uma propriedade de 150 hectares em Candiota, na Campanha, por indicação do Adriano. Foi ele quem disse que eu devia montar minha própria vinícola. Quando vi, era sócio da Miolo. Já vendi minhas ações de volta para eles, mas meus vinhos ainda são feitos nas instalações da Miolo. Hoje tenho treze rótulos no Brasil e três na Itália. Estamos terminando de construir a cantina na Bellavista.
Nossa: A empresa já se pagou?
Galvão Bueno: Voltar para o meu bolso, o dinheiro investido não voltou. Mas a propriedade valorizou e vende mais do que gasta. Então, estou satisfeitíssimo.
Nossa: Parece haver uma relação entre futebol e vinho. Muitos profissionais da área acabam trabalhando com vinho.
Galvão Bueno:
Vinho é apaixonante. Na Europa, os jogadores se apaixonaram pelo vinho. O Ronaldo Fenômeno, o Hernandes, o Maldini, entre outros, são donos ou sócios de vinícolas. O Taffarel tem uma importadora. Os jogadores ganham muito dinheiro. E precisam fazer um investimento bem feito porque a carreira é curta.
Nossa: Seus amigos também bebem vinho?
Galvão Bueno: Toda terça-feira, temos uma reunião no Rio, na qual cada um leva uma garrafa de vinho. É numa pizzaria no Jardim Botânico. Somos os queridões. Boa parte da história da Globo senta-se a essa mesa. A gente come pizza, bebe vinho e fala mal da vida alheia. De política, quase não se fala. Mentira! Falamos pra caramba. É uma coisa muito gostosa, né, Arnaldo?
Em São Paulo, tem os jantares de segunda na Cantina do Lellis. O Arnaldo diz que eu tenho a chave do restaurante. Vai todo mundo embora e eu fecho na hora em que a gente sai.
* Com conteúdo publicado em 28/10/2022