Ele pedalou 22,4 mil km do Alasca até Ushuaia e bateu recorde mundial
No início deste mês, o maranhense Leandro Carlos da Silva, mais conhecido como "Léo Pedalando pelo Mundo", concluiu uma jornada desafiadora percorrendo 22.434,79 km desde Prudhoe Bay, no Alasca (EUA), até Ushuaia, no extremo sul na Argentina.
Essa travessia estabeleceu um novo recorde pan-americano, e o que é mais incrível, sem suporte. Nascido em Passagem Franca (MA), mas criado em Goiás, Léo iniciou sua jornada em 30 de maio de 2023, em Prudhoe Bay, no extremo norte do Alasca, com o objetivo de estabelecer um novo recorde mundial. Sua missão era alcançar a Bahia Lapataia, localizada em Ushuaia (Argentina), no extremo Sul da América do Sul, em menos de 97 dias.
O maranhense alcançou seu destino após 95 dias, 16 horas e 57 minutos de pedalada, superando o recorde anterior sem apoio por 2 dias, 4 horas e 12 minutos.
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Este feito tem para mim um significado muito grande. Não só para mim, mas para todas as pessoas que estão ao meu redor e me conhecem. Isso demonstra que somos capazes de realizar coisas grandes, desde que tenhamos foco, determinação e disciplina. Leandro Carlos da Silva, ciclista
O recorde anterior dessa travessia do norte do Alasca ao sul da Argentina pertencia ao alemão Jonas Deichman, que o conquistou em novembro de 2018.
Além do recorde, o ciclista brasileiro também estabeleceu uma nova marca para a travessia sem suporte mais rápida da América do Norte, partindo de Prudhoe Bay até a América Central, chegando à Cidade do Panamá em apenas 49 dias, encurtando o recorde anterior de 52 dias.
"Meu início de pedalada no Alasca foi complicado e perigoso porque era muito deserto e tinha aquele frio extremo. Tive que disputar espaço com animais selvagens, como ursos, por exemplo. Já na região do Texas, nos EUA, o calor era muito intenso, enfrentei temperaturas de 49ºC e ventos fortes. Passando pela Venezuela, encontrei dificuldade de comunicação com os amigos, sem sinal de internet, além de falta de segurança, falta de energia elétrica e falta de água potável para beber ou tomar banho'', conta o ciclista.
Além de todas essas dificuldades no decorrer do trajeto, Leo ainda teve que enfrentar os fortes ventos gelados e cortantes somados às temperaturas baixíssimas da Patagônia Argentina.
Engana-se quem pensa que no Brasil, seu país de origem, o ciclista não enfrentou dificuldades. Foi na Amazônia que Leo passou um de seus maiores sufocos: ''Passei de bicicleta numa região indígena e me jogaram pedras, foi bem complicada a situação. O Brasil também tem suas regiões com alta desigualdade e a gente não se sente tão seguro quando passa'', comenta.
Paixão por pedalar
Foi em 29 de agosto de 2018 que o maranhense começou a se dedicar às pedaladas. Sua mãe, que vivia em São Paulo, estava com problemas de saúde e, na ocasião, para ajudá-la no tratamento, a família vendeu alguns bens como o carro e um terreno.
O filho Léo, abalado psicologicamente com toda a situação, comprou uma bicicleta, e nos momentos mais tensos saía para pedalar e arejar a mente com sua bike apelidada de ''Magia''.
A bicicleta de Léo passou por três revisões ao longo da travessia, sendo a primeira nos EUA, a segunda no Panamá e a terceira no Brasil. Durante toda a jornada, foram necessárias quatro trocas de pneus, quatro trocas de cassetes [sistema de engrenagens traseiras fixas] e oito trocas de correntes.
Durante sua travessia, o ciclista não teve apoio de veículo secundário e foi responsável por transportar seu próprio equipamento, dispositivos eletrônicos, lavar suas próprias roupas e providenciar sua comida.
Ao longo do trajeto, Leo dormiu em hotéis, camping e ao relento nas margens das rodovias pelas quais pedalou.
Não tenho arrependimento de nada. Por mais que as coisas não saiam como a gente planeja, quem sou eu para questionar as coisas de Deus? O que me cabe é apenas aceitar, pedir sabedoria e discernimento para entender as coisas que acontecem.
Outros recordes
Em 2019, Leandro Carlos da Silva estabeleceu o recorde das "capitais do Brasil", percorrendo as 27 em 166 dias e cobrindo um total de 18,5 mil quilômetros.
Em 2021, ele se aventurou no recorde do percurso entre o monte Caburaí, em Roraima, até o Chuí, no Rio Grande do Sul, andando 10 mil quilômetros em apenas 44 dias.