Brasileiro cruza a América de mochila produzindo e vendendo comida vegana
Quatro anos atrás, o viajante e empreendedor Guilherme Verdiani resolveu que iria explorar a América do Sul por três meses. Para isso, começou a trabalhar como garçom na cidade de Garopaba, em Santa Catarina. "A ideia era juntar o máximo de dinheiro possível", conta.
O objetivo era buscar lugares em que pudesse escalar montanhas e fazer todo o trajeto no menor custo possível. A acomodação seria sempre em hostels, por meio de couchsurfing e usando o work exchange, uma espécie de voluntariado, no qual a pessoa trabalha em troca de hospedagem.
A única dificuldade que se impôs é que o brasileiro é vegano e não são todos os lugares que oferecem alimentação sem nenhum produto de origem animal.
Viagem começou na Argentina
Guilherme e sua ex-companheira começaram o roteiro por Mendoza, na Argentina, conhecida por ter grandes vinícolas. Ali que eles iriam escalar uma montanha de quase seis mil metros de altitude chamada Cerro Plata.
Depois seguiram para Patagônia, El Chatén e El Calafate. Na sequência, viajaram de carona até o extremo sul do Ushuaia, lugar conhecido como o fim do mundo. "Alguns trechos também peguei ônibus e nessa parte dormia fazendo couchsurfing", relembra ele.
E os custos eram realmente muito poucos: 30 reais por dia e, em casal, aproximadamente 60 reais.
Eu levava toda minha casa nas costas e fazia intercâmbio. Meu custo era extremamente baixo", conta.
Guilherme Verdiani
A ideia dos dois era seguir na estrada e se capitalizar exercendo algumas atividades remuneradas enquanto conheciam novas cidades e países.
Atacama e comidas veganas
Ao sair do território argentino, Guilherme seguiu para São Pedro do Atacama, no Chile. Por lá ficou aproximadamente cinco meses e começou um novo voluntariado. E foi ali que sua relação com a gastronomia vegana se intensificou.
Como já estava fazendo work exchange em um hostel, mas teria alguns custos extras, ele usava a cozinha do estabelecimento para fazer doces veganos e vender para turistas. "Aprendi a fazer pão vegano, pão de hambúrguer, pão de batata, coxinha e vendia à noite. Lá não tinha muita opção vegana, sobretudo na janta", diz.
Embora vendesse só produtos sem nenhum ingrediente de origem animal, o brasileiro conta que boa parte de seu público não era vegano e comprava para ajudar ou experimentar. As opções foram aumentando o cardápio, com brownies, bolos e outros. "Fui ficando bom nisso", diz.
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Quero receberA estadia, que era para ter durado um mês, se transformou em cinco, e o viajante viu ali uma oportunidade de fazer muito dinheiro enquanto conhecia mais uma cidade. Ele conta que chegava a fazer 100 dólares no dia com a venda dos doces.
Durante sua permanência na cidade, ele tentava viver a cultura local comendo com chilenos que, em algumas ocasiões, adaptavam pratos à base de carne para versão vegana.
Abacate mais caro que queijo
Mas quando ele pegou a estrada de novo rumo ao sul, precisou abrir mão do veganismo por conta do preço dos alimentos. "Era mais barato comprar um queijo do que um abacate, a pecuária ali é mais forte que a agricultura e tínhamos dificuldade em encontrar vegetais. A parte mais crítica foi no Chile mesmo, na Carretera Austral", diz.
Depois, o viajante seguiu para Salar de Uyuni, na Bolívia, e permaneceu por três meses no local. Conheceu ainda Santa Cruz de la Sierra, La Paz e outros lugares. Enquanto isso, fazia trilhas e continuava procurando altas montanhas para escalar. Durante esse período, ele não precisou trabalhar por quase cinco meses.
Guilherme também passou rapidamente pelo Peru, mas optou por seguir para o Equador. Para sua surpresa, uma viagem que seria de alguns meses estava se transformando em quase um ano.
Comida vegana na praia
Ao chegar em território equatoriano, ele seguia para Montañita, conhecida por ser a "Cancún da América Latina", onde acreditava haver muitas possibilidades de trabalho. Mas diz que não curtiu a vibe do local e partiu para cidade vizinha.
Em Olón, começou novamente a vender comida na praia. Ele oferecia empanadas, bolos e outros pratos. Nesta época também foi convidado por um dono de hostel — que tinha uma cozinha 'subutilizada — para fazer pratos no local.
"Não tinha praticamente custo nenhum. Além disso, trabalhei em um outro café e segui no país morando quase um ano assim", conta.
Seguindo viagem, em Guaiaquil ele voltou ao turismo de aventura e chegou a uma das montanhas mais altas da Terra.
Subi o Chimborazo, a montanha mais alta do Equador e considerado o ponto mais perto do Sol na Terra. Ele é mais perto que o Everest, pois fica na linha do Equador, então em termos absolutos tem mais atitude que o Everest desde o centro da Terra.
Guilherme Verdiani
Hamburgueria vegana em Quito
Quando chegou à capital equatoriana, Quito, ele começou a procurar trabalhos como cozinheiro em diversos restaurantes veganos. Guilherme desenvolvia menus de sopa, prato principal e sobremesa. "Eu fiquei 20 dias no trabalho e fiz 20 almoços diferentes. Eu percebi que tinha talento para isso e acabei aprendendo pratos típicos", diz.
O país vivia uma crise econômica e política e ele não conseguiu se manter nos dois empregos em restaurante que arrumou. Nessa parte da viagem, ele estava longe do Brasil havia mais de dois anos.
Como os restaurantes estavam fechando, resolveu criar um negócio próprio e começou a fazer almoços para entrega. A ideia deu certo e ele chegava a vender mais de 300 por dia para empresas. No entanto, a pandemia já estava começando a crescer no país e ele viu uma diminuição de pedidos por muitas pessoas estarem em casa.
Mesmo diante da crise sanitária, ele viu uma oportunidade de continuar investindo em seu talento culinário e desenvolveu um hambúrguer gourmet vegano. Com a ajuda de uma amiga fotógrafa, criou uma página nas redes sociais, postava fotos dos pratos e, dessa forma, foi ganhando clientes.
Eu fazia tudo e tinha uma boa margem de lucro. Eu criava o pão e tudo. Você tem que se dedicar, sobretudo no fim de semana. Na primeira semana um cara encomendou 32 hambúrgueres e só nesse pedido eu paguei um mês e meio de hospedagem.
Guilherme Verdiani
No fim de 2020, ele já estava participando de feiras e eventos veganos e não queria deixar o país. Ao voltar para o Brasil para uma breve visita, ele ficou preso aqui depois que as fronteiras fecharam novamente devido aos novos surtos de covid-19. "Eu fiquei no Brasil e estava meio perdido. Não tinha renda e tive que voltar para casa dos meus pais", conta.
Volta ao Brasil
Como Guilherme já havia trabalhado com culinária vegana em diversos países, na sua volta ao país resolveu investir na área. Engenheiro por formação, ele não se via mais trabalhando na profissão e, aos poucos, foi se inserindo nesse mercado gastronômico.
Ele investiu nas vendas online e começou a participar de outros eventos em São Paulo e, atualmente, trabalha só com culinária vegana. "Eu forneço doces veganos para restaurantes e empórios veganos."
Mesmo dando uma pausa momentânea nas viagens, ele conta que pretende sair do país ano que vem e mudará para um novo continente.
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