De caveiras de animais ao acarajé: por dentro do maior mercado do Benin

O trânsito é caótico, os pedestres se amontoam nas ruas, vendedores de lojas ou barracas disputam a clientela. Até parece uma cidade, mas não é. Às margens do lago Nocué, em Cotonou, no Benin, está um gigante: o Dantokpa, o maior mercado ou feira ao ar livre de toda a África Ocidental, no oeste do continente.

Ali, milhares de pessoas vão às compras - a estimativa é de quase um milhão de visitas por dia.

A oferta de produtos também é enorme. Mais de 40 mil vendedores se espalham por barracas, lojas ou vendem de forma ambulante. A maioria é mulher, já os homens são os maiores responsáveis pelo transporte dentro do espaço.

Todos os dias, esses vendedores de várias partes da África Ocidental chegam logo cedo pela manhã, atracam seus barcos no lago Nocué e começam a dar vida ao mercado.

Táxi-barco levando passageiros ao Dantokpa; os homens são os maiores responsáveis pela parte do transporte no mercado
Táxi-barco levando passageiros ao Dantokpa; os homens são os maiores responsáveis pela parte do transporte no mercado Imagem: Getty Images

Os números do Dantokpa, ou só Tokpa, como os locais o apelidaram, só não são mais impressionantes do que os cheiros das comidas e a diversidade de produtos que são vendidos ali.

Esta "cidade dentro de uma cidade" é o ponto de partida do chef João Diamante na série de quatro episódios, "Origens - Um chef brasileiro no Benin", que estreou nesta terça (17) nos canais do UOL, e foi produzida por MOV.doc, selo de documentários do UOL, em parceria com ECOA, a plataforma por um mundo melhor do UOL, e o Núcleo de Diversidade do UOL.

João Diamante e a jornalista Glória Koessi.
João Diamante e a jornalista Glória Koessi. Imagem: Reprodução / Origens UOL

De caveiras de animais até o acarajé

"Nesse mercado, encontra-se de tudo. Seja roupa, alimento, produtos para o corpo...Você encontra absolutamente tudo", enfatiza Glória Koessi, jornalista, crítica culinária e a primeira pessoa a criar uma feira gastronômica no Benin.

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Não é exagero da Glória. No Dantokpa, é possível encontrar de tudo. Com quase 20 hectares, o mercado se divide em uma parte interna e outra externa.

Mulher vendendo carangueijos na cabeça no Mercado de Dantokpa
Mulher vendendo carangueijos na cabeça no Mercado de Dantokpa Imagem: Getty Images

Dentro, estão os produtos mais caros, como itens importados, tecidos africanos, álcool ou grãos a granel.

Fora, estão as barraquinhas de comidas, de frutas e de carnes. Também é possível encontrar itens que são usados em cultos religiosos no país, como caveiras de animais, ervas, óleos, velas, ossos, couro. Produtos comprados principalmente para fazer talismãs ou pra rituais do vodum, religião mais popular do Benin, que também é uma das raízes do nosso candomblé.

Homem vende caveiras de animais que são usados em celebrações religiosas do Vodum
Homem vende caveiras de animais que são usados em celebrações religiosas do Vodum Imagem: Getty Images

"Em todo lugar que eu vou, seja um país, seja um estado, uma cidade... Eu gosto de começar pelo mercado porque através da comida a gente conhece as pessoas, os costumes e a cultura", explica João Diamante.

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Caminhar pelo Dantokpa é ter uma grande introdução da culinária de toda essa região do continente. Ou melhor, como diz a jornalista e historiadora da culinária americana Jessica B. Harris: "Em todos os lugares para onde você olha, há uma celebração da comida da África Ocidental".

Lesmas enormes que parecem escargots musculosos estão empilhadas em tapetes em uma seção. Em outra, o ar é pungente com o cheiro forte de camarões secos defumados que são usados para temperar pratos. Panelas de barro e tigelas de cabaça são exibidas em todos os tamanhos e formas.
Jessica B. Harris no livro "Uma jornada culinária da África pra América"

Mas para quem é brasileiro, ir ao Dantokpa pode ser ainda mais surpreendente. Além de encontrar muitos alimentos que a gente tem na base da nossa culinária, como quiabo, pimentão, azeite de dendê, as barraquinhas de acarajé são as que mais chamam atenção.

Assim como acontece no Brasil, lá, são mulheres que vendem o prato em suas barraquinhas.

Mas tem uma diferença: eles comem só o bolinho puro, sem os "recheios" que acrescentamos quando essa comida veio de lá pra cá.

Mulheres formam a maioria dos mais de 40 mil vendedores do Mercado de Dantokpa, no Benin
Mulheres formam a maioria dos mais de 40 mil vendedores do Mercado de Dantokpa, no Benin Imagem: Getty Images
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'Uma cidade dentro de uma cidade'

Inaugurado em 1963, o Dantokpa exerce um papel fundamental pra economia do Benin. Com o declínio do algodão no país, ele se estabeleceu como uma das principais fontes de renda para o país.

Os números oficiais são escassos, mas, para se ter uma ideia, em 2006, os dados do governo afirmavam que o Dantokpa arrecadava cerca de 1,5 milhão de euros por mês - o que é visto por pesquisadores como um valor subestimado, já que não leva em consideração o comércio informal entre países em torno do Benin.

"Esse é um mercado, na verdade, que fica no coração de Cotonou. E fica ao lado da Nigéria, do Togo... É um mercado central.", conta Glória Koessi.

Mesmo com a expansão de outros mercados e até mesmo dos produtos industrializados, o Dantokpa segue atraindo pessoas de diversas regiões do Benin - especialmente os citados pela Glória - que estão em busca de alimentos frescos e que muitas vezes só são encontrados ali.

Por essas e outras, o mercado de Dantokpa é muito descrito como "uma cidade dentro de uma cidade".

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Vista de cima do Dantokpa. Pelo tamanho, muitas vezes é definido como 'uma cidade dentro de uma cidade'
Vista de cima do Dantokpa. Pelo tamanho, muitas vezes é definido como 'uma cidade dentro de uma cidade' Imagem: Getty Images

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Acarajé ou akará? Só tem feijoada no Brasil? E quem são os "brasileiros-africanos" do Benin? Pela primeira vez na África, o chef João Diamante mergulha entre passado, presente e futuro da história e do sabor brasileiro. Assista agora "Origens - Um chef brasileiro no Benin":

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