Esporotricose em gatos tem cura e posse responsável é chave para prevenção

Há pouco mais de dois meses, Pietro vive isolado em um quartinho nos fundos da casa da família que o adotou. Apesar de já ter saído do período crítico quando tinha feridas abertas e purulentas e de apresentar um quadro de melhora progressiva, ainda sofre com doses diárias de antifúngicos fortes, antibióticos, além de um remédio protetor para o fígado.

O isolado protagonista dessa história é um simpático gatinho preto em tratamento de esporotricose (a doença causada pelo fungo Sporothrix brasiliensis, atualmente em descontrole em alguns estados do Brasil e países da América do Sul), que acomete não só felinos como ele, mas também cães e humanos e já foi relatada entre equinos, bovinos e roedores.

Pelo fato de o fungo estar presente no ambiente e de forma mais comum na terra e em troncos de árvores é que existe a falsa ideia de ser uma "doença de gatos", já que os felinos têm o hábito de afiar as garras em troncos e de enterrar seus dejetos, adquirindo assim o fungo com mais facilidade nas unhas.

Há uma predileção da espécie brasiliensis pelo felino, mas há esse gênero de fungo em plantas, espinhos de flores, minas. Inclusive, é uma doença considerada ocupacional inclusive pelos jardineiros. O gato é uma vítima da doença e não o culpado, explica a veterinária dermatologista Ana Claudia Balda, diretora da escola de medicina veterinária da FMU e sócia proprietária da clínica Derme for Pets.

Ela também afirma que os gatos não castrados acabam se envolvendo mais em brigas pelas fêmeas e dessa forma inoculam o fungo na pele de outro gato pela arranhadura. A doença pode ser transmitida por arranhadura, mordedura ou contato com a lesão de pele.

O gatinho Pietro
O gatinho Pietro Imagem: Arquivo pessoal

Foi o que provavelmente aconteceu com o Pietro antes de ser adotado pela professora Erica de Liandra Salvador, 42 anos, que foi quem notou as primeiras feridas na pele do gatinho, mas achou que fossem machucados comuns. O ritmo acelerado com que as feridas pioraram e o estado de fraqueza repentino apresentado pelo bichano a fizeram procurar um veterinário com urgência.

Após alguns equívocos no início do tratamento e a partir da adoção de um novo protocolo, Pietro voltou a alimentar-se e começou a melhorar (dos 5 kg que pesava saudável, o gatinho chegou a um quadro de fraqueza com 3,7 kg).

Ele chegou a sofrer até mesmo com o toque da veterinária nas feridas mais profundas e infeccionadas. "Eles sentem bastante desconforto, principalmente quando a ferida está infeccionada. Quando comecei a atendê-lo, não conseguia nem encostar nele porque todo lugar ficava com muito pus, estava bem feio e ele reclamava bastante", diz a veterinária especialista em felinos, Thais Santana Sousa, proprietária da clínica Pulo do Gato, em São Bernardo.

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Na próxima semana, durante mais uma visita ao consultório da doutora que trata do caso do Pietro, é que a Erica vai saber sobre os próximos passos, principalmente quando vai poder voltar a aproximar o bichano de sua irmã mais velha, a gatinha Fiona, e dos humanos, ansiosos pela convivência tranquila e saudável com o gatinho, sem medo de contaminação.

Posse responsável é o pulo do gato

Proteger seu gato é melhor prevenção da doença
Proteger seu gato é melhor prevenção da doença Imagem: Getty Images

Veterinários, especialistas e tutores entrevistados nesta reportagem são unânimes em afirmar que a posse responsável é a solução para minimizar consideravelmente o problema.

Não abandone seu animal se ele estiver com esporotricose, o tratamento é longo mas existe. Coloque telas de proteção nas janelas para evitar que os gatos saiam de casa. Às vezes o gato sai e pode brigar com outros gatos, então ajuda também, diz Fernanda Gutierrez, médica-veterinária da DrogaVET, rede de farmácias de manipulação veterinária.

Como a doença acomete geralmente animais não castrados, é importante destacar a castração. "Acho importante falarmos sobre como a castração impede o gato de sair de casa e se expor ao fungo, a posse responsável também é algo importante nesse contexto, já que vai reduzir bastante esse risco", afirma Ana Claudia.

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Manter o ambiente sempre limpo, visitas regulares ao veterinário e a investigação de lesões observadas na face, patas, perto das unhas e rabo devem ser prioridades.

Cura é realidade

Normalmente, os gatinhos ficam curados após o tratamento, que pode ser muito bem sucedido na maioria dos casos.

"Existe tratamento, é importante que o tutor leve seu animal o mais rápido possível para avaliação do médico veterinário, pois quanto mais cedo começamos a tratar melhor o prognóstico. Há uma correlação da espécie brasiliensis com resistência fúngica, mas de qualquer forma existem alternativas terapêuticas que o médico veterinário pode orientar e sim, a maior parte dos animais, se tratados da forma correta podem ser curados", finaliza Ana Claudia.

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