Descubra a pequena cidade italiana considerada a mais acolhedora do mundo
A primeira vez que encontrei com Polignano a Mare foi em São Paulo, nos arredores da Avenida São Luís. Estranho? Toda vez que precisava comprar algum volume na Livraria Italiana, atravessando os arredores da Praça da República cruzava com uma banca de jornal onde o dono expunha do lado de fora uma placa azul e branca. A escrita era o nome dessa cidade da região da Puglia, no sul da Itália, que na época não era familiar para mim.
Nunca vou saber o motivo da ligação entre o jornaleiro e Polignano, mas gosto de pensar que assim como a famosa canção de seu cidadão mais ilustre, "Nel blu dipinto di blu" — mais conhecida como "Volare", sim, aquela do refrão Vooooolare, cantare... —, cada vez que olhava a placa, entre uma revista e outra, ele voava com a imaginação até os penhascos e o azul intenso da praia de Lama Monachile.
No mundo de hoje não há margem para o desconhecido. Basta uma dedada nas redes sociais para contemplar em detalhes e com a máxima resolução as imagens de vídeos gravados com drones sobre o céu de Polignano a Mare.
A placa do jornaleiro paulistano e a música de Domenico Modugno eram uma forma naïf de viajar e reconstruir mentalmente, em uma imagem distorcida, os tons de azul de uma cidade que só descobri pessoalmente anos mais tarde e para onde não me canso de voltar.
Polignano a Mare foi premiada com o título de destino turístico mais acolhedor do mundo, vencendo, em 2023, a décima primeira edição do Traveller Review Award da plataforma Booking.com. Não me surpreende.
Poesia para todos os lados
Localizada a menos de 40 quilômetros de Bari, capital da Puglia, Polignano a Mare reúne, literalmente, toda a poesia que você espera encontrar em uma cidade litorânea da Itália. Alguns de seus cantinhos mais cenográficos, como escadas floridas, são decorados com os versos de poesias daquele que é conhecido como Guido il Flaneur, cuja identidade foi um mistério até pouco tempo.
Pouco importa se as palavras foram escritas pelo senhor Guido Lupori, como revelou a mídia italiana.
O que conta é a emoção imediata de perambular livremente e ser premiado com versos como "A casa da poesia nunca terá portas", de Alda Merini, poetisa internada em um centro para doentes mentais e cujo mundo interior não enxergava barreiras entre delírio e lucidez. Se fosse uma pintura, aposto que Van Gogh seria o pintor ideal para transformar em imagens a natureza, inclusive humana, de Polignano. Não tente compreendê-la ou etiquetá-la. Viva a cidade.
Entrando na Piazza Emanuele II, em pleno centro histórico, na fachada de um edifício você encontrará o primeiro indício do que não fazer na cidade: olhar os ponteiros do grande relógio. Se até hoje ele é regulado manualmente, graças a um sistema de cordas, porque você não deveria se conceder o luxo de vivenciar lentamente a atmosfera de Polignano a Mare?
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Quero receberNo ritmo do slow travel
Para apreciar essa cidade no ritmo do slow travel, faça uma parada em um dos locais preferidos de seus habitantes para um café ou sorvete: o Mago del Gelo, na Piazza Giuseppe Garibaldi. Prove o caffè speciale, com amaretto, raspas de limão e chantilly.
Com o paladar satisfeito, percorra uma antiga ponte romana para avistar do alto Lama Monachile ou Cala Porto, cartão postal da cidade. Sua beleza chega a ser covardia: uma enseada de pedrinhas formada pela combinação de águas azuis emolduradas por dois penhascos.
Para uma perspectiva única da praia de Lama Monachile, entre na loja de Peppino Campanella, artesão que realiza luminárias. O terraço da loja (Via Conversano, 9) tem uma vista inigualável. Verdade ou não, vale a pena saber que Polignano a Mare tem vários terraços com vista para o mar e, segundo uma lenda, se apaixonados se beijarem em pelo menos três deles são destinados a se casar.
Outro cantinho imperdível para voltar para casa com fotos incríveis é Porto San Vito, o porto mais antigo de Polignano a Mare, caracterizado por uma abadia e barquinhos coloridos com seus pescadores.
Atualmente, sua população é de aproximadamente 20 mil habitantes, mas eles chegam a dobrar durante o auge do verão ou em ocasiões como o Red Bull Cliff Diving, competição de mergulho que acontece todos os anos na cidade e que reúne os melhores saltadores de penhascos do mundo.
Modugno e a controvérsia com a cidade natal
Cada um de seus habitantes não esconde o orgulho pela própria cidade, mas nem sempre foi assim. No início de sua carreira, o próprio Domenico Modugno, autor de "Nel Blu dipinto di Blu", não revelava tão facilmente as suas origens e fingia ser siciliano. Essa e outras anedotas sobre o cantor de Polignano a Mare foram tema de uma minissérie produzida pela TV estatal italiana, a RAI, e intitulada "Volare - La Grande Storia di Domenico Modugno".
A história superou as divergências e Modugno de braços abertos é representado em uma escultura que parece abraçar simbolicamente a sua terra natal. Ela é uma das atrações mais fotografadas pelos turistas.
Não há como não se sentir acolhido por uma terra que esse ano recebeu, mais uma vez, a Bandiera Blu, classificação italiana atribuída a praias e litorais que se distinguem pela excelência ambiental e qualidade de suas infraestruturas balneárias.
Os mais audazes podem chegar até a praia de Cala Paura e alugar um pedalinho ou barca para explorar as grutas do litoral de Polignano. A mais famosa é Grotta Palazzese, que até a década de 60 não era cessível ao público porque em seu interior ficava a praia particular de uma condessa.
Grotta Palazzese também é o nome de um famoso restaurante panorâmico situado no interior de uma gruta e com vista para o mar. Sua sala principal fica dentro de uma caverna natural e seu cardápio é a base de peixes. A atmosfera vale mais do que os pratos servidos e é preciso reservá-lo com antecedência.
Se você for o tipo que prefere algo mais informal, prove suas delícias do street food local: o panino con il polpo, recheado com polvo, e a tradicional focaccia barese, que pode comprar na Focacceria delle Noci (Via San Vioto, 10). O único perigo é que, assim como Polignano, ela vicia.
O calor humano, que não falta na Puglia, em Polignano faz com que o turista se sinta mais do que bem-vindo. E já pense em quando poderá voltar para a cidade mais acolhedora do mundo.
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