Verão no 'fim do mundo': por que esta é a melhor época de visitar Ushuaia

Apesar dos arredores cobertos por neve em boa parte do ano, engana-se quem associa Ushuaia apenas a seu centro de esqui, o Cerro Castor, um dos mais importantes da América Latina (e com a mais longa temporada de neve do hemisfério sul). É justamente durante a primavera e seu "fresquíssimo" verão, com temperaturas médias em torno dos 12ºC, que o destino vive seu melhor momento.

A alta temporada, de novembro a março, é mesmo a melhor época do ano para explorar os intensos e exuberantes atrativos naturais desta remota região. Durante o verão, os dias são mais longos (com até 18 horas de sol por dia) e as temperaturas bem mais agradáveis.

Nesta época, as rotas de acesso às principais belezas naturais da região ficam completamente desobstruídas, os negócios locais estão todos abertos e é programão fazer trilhas pelo Parque Nacional Tierra del Fuego, navegações e passeios em 4x4 aos lagos da região.

Além disso, a grande temporada dos pinguins em Ushuaia é justamente nessa época, do final do ano até março, com a migração de milhares deles, sobretudo espécies Magalhães e Gentoo, e incluindo muitos filhotes nascendo em janeiro.

Durante estes meses mais "quentes", é possível ver de pertinho não apenas uma infinidade de pinguins, mas também muitos lobos-marinhos e diversas espécies de pássaros — além de raposas e outros animais selvagens.

Mas atenção: mesmo durante o verão, em Ushuaia é sempre bom se vestir para o inverno, levando na mala roupas térmicas, cachecóis, gorros, casacos reforçados e calçados antiderrapantes e impermeáveis — até porque os fortes ventos são constantes e alguns locais podem eventualmente apresentar neve, mesmo nessa época.

Um pouco de história

Remota e exuberante, distante cerca de 3h30 de voo a partir de Buenos Aires, Ushuaia está localizada na chamada Terra do Fogo, território do extremo sul do continente americano repartido entre Chile e Argentina.

A região ganhou esse nome graças a Fernão de Magalhães, que teria ficado fascinado ao ver os yámanas, habitantes originários dali, se comunicarem através de sinais de fogo e fumaça ao longo da costa em sua viagem de circunavegação do globo, ainda no século 16.

Por isso mesmo, Ushuaia já foi a cidade onde absolutamente ninguém queria viver. Afinal, a distância e a dureza do clima não eram mesmo muito convidativas. Até que um presídio, hoje convertido em museu, foi construído bem ali no final do século 19 como parte das estratégias nacionais de repovoamento da região.

No começo deste século, a cidade de estética peculiar e antiquada virou um importante polo industrial e tecnológico e começou a receber também cada vez mais turistas.

Mas foi somente na última década que se consagrou mesmo como um destino turístico "estrela" na Argentina, atraindo visitantes das mais distintas partes do mundo — e, a cada ano, com mais brasileiros incluídos nesses números, é claro.

Hoje, a cidade possui farta infraestrutura hoteleira, de albergues bastante econômicos a hotéis de luxo como o Arakur, parte da coleção da Leading Hotels of the World, instalado no alto de uma montanha, com vista panorâmica para a cidade.

E começa também a ter maior oferta gastronômica, incluindo restaurantes muito autênticos como os excelentes Kalma Restó, do chef Jorge Monopoli, e Rincón Gourmet, instalado na própria casa do chef Ariel Ruiz Diaz.

Um verão de aventuras

Do final da primavera ao verão, Ushuaia é um grande convite à descoberta de suas belezas naturais tão peculiares e exuberantes. Picos nevados, a costa recortada, florestas de pinheiros, "castoreiras", quedas d'agua, sedutora vida selvagem, lagos idílicos.

A cidade é famosa também por suas muitas "árvores-bandeira", chamadas assim porque tremularam tanto graças à força dos ventos locais que ficam praticamente "dobradas" para um lado — e abundam no caminho à Isla Martillo.

Explorar a cidade por conta própria é fácil e prazeroso, com distâncias pequenas, o histórico presídio convertido em museu e belas paisagens sempre à vista. Mas, para a maioria dos passeios pelos arredores, a melhor ideia é sempre apostar em um tour.

O passeio mais procurado é a navegação pelo mítico Canal Beagle (batizado em homenagem à histórica embarcação de Darwin) até a Isla de los Lobos. É provavelmente o passeio mais "democrático" de Ushuaia, pressupondo zero esforço físico e adaptável a qualquer perfil de viajante ou faixa etária. E um dos poucos que opera todos os dias, o ano todo.

São cerca de duas horas e meia de navegação com vistas panorâmicas de Ushuaia, avistamento de leões-marinhos na Isla de los Lobos e cormorões na Isla de los Pájaros. O passeio rodeia também o inconfundível farol de Ushuaia (Faro Les Eclaireurs), onde naufragou o barco Monte Cervantes em 1930.

Na sequência, vem o tour à Isla Martillo, também conhecida como "Penguinera" por justamente reunir no verão uma quantidade impressionante de pinguins — estima-se que sejam cerca de dezesseis mil deles vivendo ali nesta época.

Mas é fundamental adquirir o passeio terrestre, que garante desembarque na ilha, visita ao museu local e a esperada caminhada entre os animais (alerta: muitas agências locais vendem passeios apenas contemplativos, em barco, sem possibilidade de aproximar-se dos animais).

O Parque Nacional Tierra del Fuego abrange algumas das mais espetaculares paisagens da região — e a melhor forma de conhecê-lo é mesmo caminhando. Por isso mesmo, as agências e receptivos costumam oferecer passeios com distintos graus de dificuldade, de simples caminhadas contemplativas a extenuantes trekkings de dia todo.

O passeio de dia inteiro da Tierra Turismo pelo parque passa pelos seus mirantes mais importantes (destaque para o imperdível Lapataia), pela Laguna Negra, Lago Roca, Rio Pipo e Bahía Ensenada, onde fica a estação de correios mais austral do continente —e ainda estica ao "país de la Isla Redonda", uma ilhota remota e peculiar em meio ao parque.

Com crianças, pode ser interessante fazer o passeio Tren del Fin del Mundo (trendelfindelmundo.com.ar, desde R$ 330 por adulto), que percorre a antiga linha de ferro utilizada no repovoamento da cidade em um trajeto de aproximadamente uma hora, terminando à entrada do Parque Nacional. No trajeto, passa por florestas, o rio Pipo e a cachoeira da Macarena, onde faz uma parada panorâmica.

Em geral, os tours pelos arredores de Ushuaia podem ser todos facilmente adquiridos pela internet, em agências como a Tierra Turismo, largamente acostumada a receber viajantes brasileiros. A agência, aliás, criou também alguns tours exclusivos, como o passeio ao Cabo San Pablo, que atravessa a Cordilheira e distintos tipos de paisagens até chegar ao exuberante penhasco debruçado sobre o oceano Atlântico, com direito a um mítico farol inclinado e as impressionantes ruínas do navio Desdemona, encalhado por lá há mais de 40 anos.

Ou ainda a pesca de centolla, o famoso caranguejo gigante da região, com mirantes e cachoeiras no caminho, e o "4×4 Lagos", que passa pelo Cerro Castor, cruza a cordilheira e chega aos mais belos lagos da região, como o imenso Lago Fagnano.

Outra empresa também muito buscada pelos brazucas é a Brasileiros em Ushuaia, mas é possível adquiri-los também com seu próprio agente de viagens no Brasil, na recepção do seu hotel em Ushuaia ou mesmo nas lojinhas e quiosques de receptivos locais que abundam na rua San Martin e no calçadão.

Mas olho vivo: confira sempre, antes de fechar negócio, se ingressos/entradas/taxas já estão todos realmente incluídos no passeio que você escolheu para evitar pegadinhas.

A cereja do bolo por ali é o sobrevoo de Ushuaia em helicóptero, um dos passeios mais custosos (desde US$ 320 por pessoa). Operado localmente pela empresa HeliUshuaia, o sobrevoo de meia hora por Ushuaia e região inclui também uma excepcional aterrissagem em plena cordilheira, bem no topo do Cerro Le Cloche, na metade do passeio — com desembarque e 360 graus da paisagem mais espetacular possível da região ao seu redor.