Brasileiros ricos na Argentina? Bares e restaurantes da moda cabem no bolso

A sofisticação, porém, não significa preços exorbitantes e inacessíveis na maioria dos casos. Ao contrário. Por causa da crescente desvalorização do peso argentino frente ao dólar e do real brasileiro e do boom do setor turístico após a pandemia, Buenos Aires tem proporcionado um turismo gastronômico de fazer inveja a outras capitais.

Só em 2022, Buenos Aires recebeu 1,5 milhão de turistas estrangeiros, sendo 25% de brasileiros, de acordo com o Observatório de Dados do Conselho de Turismo de Buenos Aires. Essa semana, a cotação do real brasileiro bateu em 170 pesos, possibilitando serviços e produtos de ótima e boa qualidade a preços interessantes. Por isso, fomos a alguns restaurantes de alta e média gastronomia saber por quantos reais o turista poderá desfrutar receitas de alta padrão e fora do circuito tradicional.

Cozinha jovem e emergente

Um dos restaurantes que tem caído no gosto do turista brasileiro é o Mengano, que nasceu há cinco anos, no coração de Palermo. Com luz baixa, um ambiente intimista e uma a cozinha próxima ao cliente, o restaurante do chef Facundo Kelemen, de 35 anos, argentino que tem inovado a cena gastronômica de Buenos Aires, apresenta receitas clássicas portenhas com um toque singular.

Em Mengano, o turista pode conhecer diversas receitas tipicamente argentinas, servidas em pequenos pratos, com porções menores, inspiradas nos bodegões portenhos. Essa variedade é um dos fatores que tem atraído os turistas brasileiros, segundo o chef Kelemen.

O brasileiro gosta porque além do câmbio ser favorável, ele consegue provar diversos pratos da gastronomia argentina em uma única experiência, muito além do churrasco, e que é diferente de qualquer vivência que possam ter no país
Facundo Kelemen, chef

Segundo o chef do Mengano, os pratos que os brasileiros mais pedem são as empanadas fritas de carne, o arroz crocante com frutos do mar e o tartare de carne de cordeiro, além do nhoque de chipa — que custam, respectivamente, R$ 15 (três unidades). R$ 42, R$ 27 e R$ 44. Com poucas mesas, é recomendável fazer reserva.

Metade do valor que em São Paulo

Osaka é um dos restaurantes mais refinados de Buenos Aires e está entre os bairros de Palermo e Colegiales. Com um projeto arquitetônico imponente, a proposta de gastronomia nikkei, uma fusão do melhor da gastronomia japonesa e peruana, é um dos mais procurados pelos apreciadores de receitas especiais, como é o caso da brasileira e criadora de conteúdo digital de moda Caroline Daudt, que reconhece que o câmbio favorável transforma a percepção de caro e barato para o turista brasileiro.

É um restaurante mais caro? Sim, porém para quem vem à Argentina fazer turismo, os preços se tornam muito menores do que no Brasil e isso pra mim como turista transforma a experiência e a viagem em um nível acima
Caroline Daudt, criadora de conteúdo digital

Consolidado há 18 anos na capital portenha, o Osaka se replicou em outras cidades como São Paulo, Santiago do Chile, Lima, Quito, Miami, Bogotá e, em breve, em Punta del Este.

O proprietário da franquia, Agustin Latorre, afirma que 25% dos clientes em Buenos Aires são turistas brasileiros. Além disso, segundo ele, os preços do restaurante na capital argentina são metade do valor do mesmo restaurante em São Paulo. No Osaka de Buenos Aires, o turista pode até dar sorte e encontrar o ator argentino Ricardo Darín, que frequenta o local.

De acordo com o proprietário do Osaka, "em Buenos Aires o turista gastará, em média, 50 dólares no jantar, enquanto em São Paulo ele terá uma experiência pelo dobro do preço", compara.

Receitas "zero carne" na terra do churrasco

Na capital do churrasco argentino o que o turista encontra com facilidade são opções plant based, com restaurantes que não se limitam a um cardápio que tenta "imitar" uma combinação com carne, oferecendo uma experiência aconchegante a preços acessíveis.

É o caso do restaurante Chuí, em Villa Crespo, um match perfeito para o turista ir com a família, amigos, casal ou para quem viaja sozinho. Mas atenção: o local é concorrido — recomenda-se fazer reserva.

O diferencial do Chuí é a preparação dos ingredientes no imenso fogão a lenha, que tem cheiro de fazenda, e está imerso a um jardim gigante, de aproximadamente 600 metros quadrados.

De acordo com o gerente do restaurante, Leon Betancout, um dos pratos preferidos dos brasileiros é o queijo llanero, que lembra o nosso queijo coalho, e os cogumelos. A média de gasto por pessoa, segundo ele, incluindo entrada, principal, sobremesa e bebida, não sai mais do que R$ 75, no câmbio atual.

O turista hospedado no bairro de Palermo Hollywood está a poucos passos de uma opção sofisticada no quesito "carne zero", com o restaurante Sacro, no qual 60% do público é de turistas, de acordo com o chef e responsável Geronimo Larrory Sola, de 24 anos.

Entre as estrelas do lugar estão as sobremesas veganas, cujas apresentações e os sabores fazem jus ao acolhimento e a estética do restaurante, e custam, aproximadamente, R$ 23. Um jantar para duas pessoas, com opções para compartilhar, mais sobremesa, saiu R$ 135.

Drinques a 23 reais no melhor bar do mundo

A hospitalidade é a marca do negócio. Essa é a máxima do badaladíssimo bar portenho Três Monos, que ficou em 11º lugar no ranking do The World's 50 Best Bars de 2023. Um dos sócios do estabelecimento, Charly Aguinsky, afirma que o bar é "cara do público brasileiro" por causa da hospitalidade. Não à toa, o Três Monos ganhou o prêmio de bar mais hospitaleiro em 2023 pelo Michter's Art Of Hospitality Award.

Recebemos muitos brasileiros que se identificam com a nossa proposta de um lugar alegre, alto astral, mais relaxado, menos formal
Charly Aguinsky

A essência de Três Monos é produzir drinques com ingredientes regionais da Argentina, como por exemplo uma sobremesa de batata doce que se transformou em coquetel com licor de milho. Os preços dos drinques de autor custam R$ 23.

Versatilidade, sofisticação e bom preço

Outro bar na moda em Buenos Aires é o Ponto Mona, da reconhecida bartender argentina Mona Gallosi, que há um ano decidiu criar o próprio bar no bairro de Chacarita.

O lugar é praticamente secreto. O espaço tem 500 metros quadrados e conta com três ambientes com propostas diferentes tanto de música, iluminação, atmosfera, cardápio e preços, oferecendo versatilidade para ir com amigos, fazer negócios, ir com namorado ou mesmo se estiver viajando sozinho.

O último ambiente é o mais sofisticado e caro do estabelecimento, com coquetéis de autor como o Khorasan, de pimenta, que custou R$ 22 no câmbio atual. Para comer, bom petisco é a porção de empanadas de frutos do mar, a R$ 23 (duas unidades).

Lado B de Buenos Aires

Se é a sua segunda, terceira ou incontável vez em Buenos Aires, talvez seja o momento de explorar outras geografias e conhecer o restaurante Mess, a 43 quilômetros de Buenos Aires, na cidade de Pilar, na rota B da capital portenha.

Trata-se de uma cozinha criativa e sofisticada comandada por um casal de jovens chefs, Guido Casalinuovo e Celeste Rizian. Dedicado à gastronomia do Oriente Médio, o restaurante aproveita todas as partes de seus ingredientes, cultivados em sua horta particular, inclusive os talos. Destaque para a berinjela defumada, servida com iogurte, por R$ 25.

Para o brasileiro que gosta de ter novas experiências, Mess é a melhor opção. Não há nada parecido na capital, por isso vale a pena esticar até Pilar
Maria Gramacho, brasileira que vive na Argentina há pouco mais de um ano

"Eu amo cozinhar e fiquei surpreendida com os preços se tratando de um lugar de alta gastronomia", completa Maria. O cardápio do Mess varia de R$ 12 a R$ 55 no câmbio paralelo.