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Como é e quanto custa o novo trem que liga Miami e Orlando

Embarcamos no Brightline e testamos as duas categorias de vagões: a Smart e a Premium Imagem: Divulgação

Natália Manczyk

Colaboração para Nossa, de Miami, Estados Unidos

21/11/2023 04h00

Não sou do tempo em que as famílias iam passear em novos aeroportos para conhecer as novidades. Mas, ao pegar o trem Brightline, que desde 22 de setembro faz a rota entre Miami e Orlando, me senti dentro de uma foto de família em preto e branco de 1960 em que meu pai, meus tios, meus avós e bisavós posavam segurando balões ao lado da pista do aeroporto de Congonhas.

É que a espera pelo trem que liga as duas cidades mais turísticas da Flórida durava desde 2019, quando as obras foram iniciadas, e bastou a oportunidade de eu usar o novo trem para que conhecidos me acompanhassem até a estação de Miami só para ver a "atração".

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O trem da Brightline liga Miami a Orlando, onde estão os parques Disney, Universal e SeaWorld Imagem: Divulgação/Brightline

A MiamiCentral Station não é nova: existe desde 1896 e foi remodelada e reinaugurada em 2018 junto com a rota entre Miami, Fort Lauderdale e West Palm Beach. Já a estação de Orlando, integrada com o aeroporto, é que abriu há pouco, no terminal C, em 22 de setembro, junto com a linha que liga Miami e Orlando por meio de 30 trens diários (15 saídas de cada cidade), praticamente uma saída por hora.

No estado da Disney, em que tudo é possível, fazia sentido eu esperar uma estação tal qual as europeias, adornadas com relógios antigos ou colunas. Ou poderia ser também como as estações de Nova York e New Jersey, sem luxo algum.

Mas as estações de Miami e Orlando mostram que são diferentes das outras pelo mundo: do piso aos balcões e aos telões de led, tudo brilha. Futurísticas, parecem um shopping do mais moderno.

A moderna estação de trem de Miami Imagem: Natalia Manczyk/UOL

A MiamiCentral Station fica no Downtown e os passageiros podem chegar usando o trem gratuito que roda pela cidade, o Metromover. Apesar desse baita incentivo, parece que os moradores não estão lá muito habituados a ir até a estação com o transporte público (aliás, literalmente público), já que duas pessoas a quem pedi informação não sabiam direito em qual parada descer. Para ajudar, lá vai: da Wilkie D Ferguson Station anda-se apenas um minuto.

Vagões novinhos

O Brightline parece lembrar a todo tempo que apesar de oferecer o trajeto de trem, a similaridade com a Europa termina aí. As diferenças para o sistema europeu são muitas. A primeira é a mais óbvia: o quão novo é o trem, equipado com poltronas de couro, bandejas "dois em um" (com espaço para apoiar tanto o celular quanto o notebook), wi-fi, tomadas USB e banheiros espaçosos com tecnologia touchless em tudo, o que eleva o nível de higiene.

Vagão Premium dos trens Brightline Imagem: Natalia Manczyk/UOL

São duas classes, a Smart e a Premium. Na Smart, o bilhete custa a partir de US$ 79 (mas há promoções sazonais) e, assim como as passagens aéreas, quanto mais próximo da data mais aumenta o preço. Com dois dias de antecedência, por exemplo, paguei US$ 99.

Além da tarifa, há uma taxa a mais e mais uma diferença para os trens europeus: enquanto nos trens comuns da Europa cada um pode levar o quanto quiser (basta ter a destreza de conseguir carregar tudo entre escadarias, calçadas e corredores), no Brightline o bilhete da classe Smart inclui apenas um item pessoal e uma mala de mão.

Caso você tenha bagagem, deve pagar uma taxa de US$ 25 por mala na hora da compra da passagem e despachá-la chegando na estação com pelo menos 15 minutos de antecedência do embarque (já se quiser mais uma mala de mão o preço é US$ 10).

Vagão da classe Smart, a mais econômica Imagem: Natalia Manczyk/UOL

Pode parecer exagero a cobrança e o preço, mas na hora de entrar no trem você vai agradecer pela tranquilidade. Não tem aquele corre-corre dos passageiros de trens na Europa para disputar espaço nos poucos bagageiros disponíveis nem gente para lá e para cá se apertando com malonas nos corredores tentando encontrar espaço para a bagagem. É só subir no trem e sentar no seu assento numerado.

A experiência

A estação de Miami e o aeroporto de Orlando estão separados por 373 km. São exatamente 3h30 de trem ou 3h34 de carro seguindo pela Turnpike, uma estrada sonolenta em que se dirige por uma reta de 135 km sem muitos atrativos.

Pois é. Embora o Brightline alcance 200 km/h, o tempo é praticamente o mesmo do carro por conta das paradas pelo caminho: o trem faz curtas paradas em Aventura, Fort Lauderdale, Boca Raton e West Palm Beach. Já o voo leva uma hora e é até possível encontrar passagens pelo mesmo preço, mas lembre que você deve chegar com pelo menos duas horas de antecedência e o tempo pode não ser tão bem utilizado como no trajeto de trem.

A estação de Miami tem lojinhas, cafeterias e salas de espera ao estilo dos aeroportos Imagem: Natalia Manczyk/UOL

Talvez pela mesma ansiedade dos meus bisavós de ver um aeroporto, cheguei na estação de Miami com 45 minutos de antecedência do embarque — e não precisa tanto. A ansiedade, na verdade, era para entender como seria despachar a mala. Não havia fila nem espera. Foi só chegar em um balcão e, assim como nos aeroportos, pesar a mala e entregá-la ao atendente, que colocou uma etiqueta igualzinha às das malas despachadas em aviões.

As plataformas abrem só dez minutos antes da partida do trem — e que bom, porque a sala de espera, mesmo na classe mais básica, foi feita para impressionar no nível de conforto.

Sofás com mesinhas e tomadas, no maior estilo coworking, fazem a espera ser relaxante, logo depois de passar por uma máquina de raio-X sem as exigências e o estresse dos aeroportos.

Sofás, mesinhas e lounges tornam a espera pelo trem mais relaxante Imagem: Natalia Manczyk/UOL

Em todas as estações, os passageiros podem saber que vão encontrar o mesmo nível de conforto, além do bar e restaurante Mary Mary e do MRKT, um mercado desses sem caixa para pagar: é só passar o cartão de crédito na entrada e pegar o que você quer. Câmeras nos tetos reconhecem o produto e a cobrança é feita automaticamente, sem perda de tempo.

Já no trem, não há um vagão-restaurante como em muitos trens europeus, mas um atendente passa com um carrinho oferecendo bebidas, snacks e sanduíches pagos à parte para quem viaja com a tarifa mais básica.

Não sei se é a simpatia dos atendentes, o design dos lanches ou os ares norte-americanos mesmo, mas bastou entrar em um trem nos Estados Unidos para gerar a vontade de comprar os refrigerantes e snacks.

Bateu a fome? Atendentes passam com carrinhos de snacks e bebidas Imagem: Jeffrey Greenberg/UCG/Universal

E, assim como nos aviões, em determinado momento passa outro funcionário só para recolher o lixo. "E para eu recolher a mala despachada no fim da viagem? Demoraria?", pensava eu com o computador aberto à minha frente durante o trajeto. Que nada. Nem dez pessoas haviam despachado as malas, e não existe esteira de bagagem. Na estação de Orlando é só ficar em frente a um balcão que um funcionário vai entregando as malas e conferindo o comprovante.

Tarifa Premium

Na volta a Miami, experimentei a tarifa Premium, que custa a partir de US$ 149 e já inclui uma mala despachada, além de outros benefícios. Um dos principais é o Lounge Premium, feito tal qual uma sala vip dos aeroportos.

É realmente vip: entre poltronas confortáveis, sofás e mesas para trabalhar, ficam à disposição ainda ipads, scanners e impressoras, um bufê com comidas de acordo com a hora do dia, uma máquina de café, geladeiras com refrigerantes, e, para completar, uma máquina toda digital self-service de coquetéis, cervejas e vinho.

Lounge Premium em Orlando: como as salas VIP dos aeroportos Imagem: Natalia Manczyk/UOL

Já o vagão para quem comprou a passagem Premium é especial: são cinco centímetros a mais de largura das poltronas, mas a verdade é que diferentemente dos aviões, a tarifa mais básica já tem poltronas bem confortáveis.

O que faz mais diferença é o serviço de bordo. Logo na saída, foi distribuída uma toalhinha embalada para cada passageiro. Depois, a atendente passou mais duas vezes com o carrinho de bebidas.

"Temos vinho, cerveja e coquetéis", disse a funcionária. Vendo tanta gente com vinho nas bandejas, preferi checar antes de pagar a bebida em dólares. Sim, qualquer das bebidas estava incluída no preço.

Nos vagões Premium, tem serviço de bordo como nas viagens de avião Imagem: Natalia Manczyk/UOL

Depois, ainda foi servida uma bandeja como nos aviões, com um lanche completo: no meu caso, salada caprese, sanduiche italiano de ciabata com prosciutto e salada de frutas.

Como o trem foca na mobilidade, com a passagem Premium eu e todos os outros passageiros do vagão teríamos direito a Uber gratuito em Miami para endereços a até 5 milhas (8,04 km) de distância. Era o meu caso. Só não sabia que eu tinha que agendar antes de pegar o trem.

Outras opções em Miami são shuttles por US$ 10 para o aeroporto; aluguel de bicicletas elétricas em frente à estação e conexão com outros transportes públicos de Miami.

Não teve foto de família, mas o trem é tão inovador que até valeria o registro para a posteridade.

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