Misterioso desaparecimento de submarino levou à descoberta do Titanic
O submarino INS Dakar havia passado mais de 20 anos a serviço da marinha britânica quando, em 1965, foi adquirido pelos israelenses. No começo de 1968, ele estava em uma missão no Mediterrâneo e, do nada, desapareceu. No dia 25 de janeiro, com 69 tripulantes, mandou sua última mensagem. Israel suspeitou que os soviéticos pudessem ter algo a ver com o acidente, mas as teorias mais aceitas hoje falam de falha humana ou mecânica.
Dois dias mais tarde, o submarino francês Minerve, com 52 pessoas a bordo, foi pego em uma tempestade ao voltar para a base, em Toulon, na Riviera Francesa. A embarcação só seria reencontrada em 2019, partida em três pedaços, a 2,3 mil metros de profundidade.
O K-129 era um submarino soviético que integrava a frota do país no Pacífico. Não era qualquer embarcação, mas a primeira que podia carregar e lançar mísseis balísticos. Um tremendo avanço na tecnologia militar.
Em 8 de março também de 1968, após uma patrulha no Pacífico Norte, o K-129 não enviou a mensagem protocolar que se aguardava dele. Algo estava errado, e a URSS iniciou uma busca frenética que envolveu 36 navios e dezenas de aeronaves. Após dois meses, o país desistiu de tentar encontrá-lo.
Os americanos, ressabiados com tamanho interesse de Moscou por um submarino, começaram suas próprias buscas. Foram bem-sucedidos: o K-129 estava próximo ao Havaí, a 5 mil metros de profundidade, e poderia oferecer um banquete à CIA. A agência se aliou ao excêntrico magnata Howard Hughes para bancar uma expedição que, seis anos mais tarde, recuperou a embarcação. Se a CIA obteve torpedos e documentos preciosos da União Soviética, não se sabe ao certo.
Menos de três meses depois do naufrágio do K-129, um submarino nuclear americano, chamado Scorpion, desapareceu com sua tripulação de 99 pessoas. Ele estava no Atlântico, retornando de uma missão no Mediterrâneo, observando atividades soviéticas próximo às Ilhas Canárias.
O Scorpion não deu mais sinais, e um grande esforço, dos dois lados do oceano, foi feito para localizá-lo. Mas dezenas de navios e outros submarinos não foram capazes de encontrá-lo rapidamente. Somente no fim de outubro os destroços do Scorpion deram as caras, a 3 mil metros de profundidade, próximos dos Açores.
Os quatro naufrágios, em tão pouco tempo, em plena Guerra Fria, são um mistério com ares de roteiro de "007". Envolvem diretamente as superpotências do século 20 e aliados importantes dos americanos. O tempo passou, as causas não foram descobertas (ou, ao menos, reveladas), e os acidentes acabaram esquecidos no tempo.
Nos anos 1980, um prestigiado oceanógrafo foi chamado para investigar o sumiço do submarino americano. Mas sua missão acabou ofuscada pelo que ele acabou descobrindo "nas horas vagas": os destroços do Titanic.
O naufrágio mais famoso do mundo
Já se passaram 26 anos do filme de James Cameron, um dos maiores marcos da história do cinema. O desastre é um assunto tremendamente popular até hoje, tanto que uma das notícias mais faladas de 2023 foi o acidente do submersível Titan, que implodiu ao levar turistas ao fundo do mar para ver o navio.
Por essas e outras, podemos ter a sensação de que os destroços "sempre" estiveram aí, em um ponto conhecido do oceano. Mas, pela maior parte do tempo desde que afundou, em 1912, a localização do navio foi um mistério.
Em 1977, o oceanógrafo americano Robert Ballard, ex-militar especializado em geologia marinha, fez sua primeira tentativa de localizar os destroços do transatlântico mais famoso de todos os tempos. A missão quase terminou em desastre.
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Quero receberBallard estava em um navio-sonda equipado com um caro (e emprestado) equipamento de sonar, com câmeras fixadas na ponta do tubo de perfuração. Mas, no meio da madrugada, o tubo se rompeu e as máquinas foram para o fundo do mar.
Ele não desistiu, apesar do fracasso. Em 1982, Ballard se reuniu com a Marinha em busca de patrocínio para o desenvolvimento de um veículo subaquático operado remotamente, ou ROV, na sigla em inglês.
O ROV, chamado Argo, transmitia vídeos ao vivo, o que era um grande salto tecnológico para os oceanógrafos - e uma mão na roda para os militares. A Marinha topou bancar o investimento, desde que Ballard usasse a novidade, e toda a sua experiência de quem já trabalhava com submersíveis desde os anos 1960, para ajudá-la a resolver um assunto antigo.
Caberia a ele localizar os destroços do Scorpion. Se possível, também os de outro submarino nuclear americano naufragado, o Thresher.
Se Ballard localizasse os dois, poderia aproveitar para fazer o que quisesse no tempo restante. Quer dizer, a Marinha não deu permissão explícita para ele tentar encontrar o Titanic, mas foi o que Ballard fez.
A expedição do Thresher e do Scorpion foi bem-sucedida e deu ao explorador uma lição valiosa. Destroços mais pesados afundam diretamente para o fundo do mar, enquanto os mais leves são levados pelas correntes, deixando um rastro.
O oceanógrafo usou isso a seu favor - e precisava, porque a concorrência era pesada. A Marinha lhe dera apenas duas semanas para as buscas, e um time bancado por um magnata do petróleo texano também estava na caça do Titanic.
Ballard se aliou ao navio de pesquisas francês Le Suroît, que tinha um sonar poderoso para escanear a área. Ele esperava que os franceses localizassem os destroços e que ele chegaria depois para fazer as imagens.
Mas não foi o que aconteceu. Com base na experiência recém-adquirida, o time de Ballard estimou a distância entre os destroços do Titanic e começou a vasculhar quadrante por quadrante, tediosamente, como se estivesse preenchendo todos os quadradinhos do Batalha Naval.
Em 31 de agosto de 1985, a tripulação não encontrou nada, de novo. "Naquela noite, estudando o mar, Ballard pensou se ele simplesmente não estava procurando no lugar errado", escreveu Michael Burgan em "Finding the Titanic" (inédito em português). "Havia até a chance de um terremoto submarino décadas antes ter agitado a lama e coberto os destroços do Titanic."
A sorte chegou no dia seguinte. Em 1° de setembro, eles acharam os primeiros pedaços do transatlântico. Um feito enorme, em uma carreira recheada de sucessos.
Em 1989, Ballard descobriria o navio nazista Bismarck e, em 1998, o porta-aviões americano Yorktown, ambos afundados na Segunda Guerra. Mas essas e outras vitórias não importariam mais, porque ele virou "o homem que encontrou o Titanic".
Fim do mistério dos submarinos?
A missão da equipe de Ballard era descobrir o que aconteceu com os reatores nucleares dos dois submarinos e checar se houve vazamento ou algum dano ambiental sério. Além disso, a Marinha queria esclarecer de uma vez algo que foi levantado em 1968: os soviéticos afundaram o Scorpion?
A resposta foi um duplo "não". Não houve vazamento de material radioativo e não, os russos não afundaram o submarino. O desastre ocorreu por alguma falha mecânica.
Em suas memórias, Ballard lembrou que os militares ficaram tensos com a atenção dada à descoberta. Afinal, sua missão era secreta e a Guerra Fria ainda estava rolando.
"Mas as pessoas estavam tão focadas na lenda do Titanic que ninguém ligou os pontos", escreveu. Só no fim dos anos 1990, quando Leonardo Di Caprio já estava no fundo do mar no imaginário coletivo cinematográfico global, essas informações vieram a público.
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