'Amuleto' de naufrágio épico volta aos confins da Terra 107 anos depois

A história do naufrágio e heróico resgate dos membros da expedição antártica do navio Endurance é uma das aventuras mais épicas e reverenciadas dos tempos contemporâneos.

E a partir de agora, mais de 100 anos depois do incidente, o "amuleto" de um de seus sobreviventes volta aos confins da terra e poderá ser apreciado por viajantes que passem pela remota ilha da Geórgia do Sul, território ultramarino britânico já quase na região antártica.

A expedição do Endurance se tornou uma das mais lendárias de todos os tempos
A expedição do Endurance se tornou uma das mais lendárias de todos os tempos Imagem: Getty Images

Os irmãos John e David James, moradores da Cidade do Cabo, com seus 80 e poucos anos e filhos de Reginald James, um dos tripulantes da espetacular expedição liderada por Sir Ernest Shackleton, resolveram doar a medalha de honra conferida pelo governo britânico ao pai ao museu da Geórgia do Sul.

Reginald William James, morto aos 73 anos em 7 de julho de 1964, foi um físico e professor britânico que participou da "Expedição Trans-antártica Imperial" de Shackleton, a bordo do navio Endurance, entre 1914 e 1916. Após ser resgatado em Elephant Island em 1916, James lutou na Primeira Guerra Mundial e se tornou posteriormente professor universitário na Inglaterra e na África do Sul.

A medalha de honra conferida pelo governo britânico foi doada ao museu na Geórgia do Sul
A medalha de honra conferida pelo governo britânico foi doada ao museu na Geórgia do Sul Imagem: Divulgação

A histórica medalha foi entregue ao finlandês Kai Ukkonen, capitão do navio SH Diana, da armadora Swan Hellenic, em 21 de novembro, na Cidade do Cabo, na África do Sul — e devidamente recebida pela equipe do museu instalado em Grytviken no último dia primeiro de dezembro, quando o navio fez sua escala por lá durante uma travessia de 21 dias com 75 passageiros.

A família de Reginald James há tempos desejava doar a medalha polar ao excelente museu da Geórgia do Sul (que conta com diversos objetos, fotografias, maquetes e memorabilia relacionados ao Endurance) para manter a história e o nome de Reginald vivos, mas não tinha meios de fazer a medalha chegar em segurança até o remoto destino.

Medalhas do sobrevivente do Endurance fizeram um longa jornada para serem entregues na cerimônia
Medalhas do sobrevivente do Endurance fizeram um longa jornada para serem entregues na cerimônia Imagem: Divulgação
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Quando souberam que o novo navio da Swan Hellenic (SH Diana, inaugurado em 2023) faria uma travessia da Cidade do Cabo até a Antártica passando pela ilha, entraram em contato para solicitar o transporte especial do objeto, avaliado em mais de 45 mil libras (cerca de R$ 280 mil no câmbio atual).

No último dia 1º de dezembro, após uma movimentada travessia Atlântica na qual o navio enfrentou violentas tempestades e ventos compatíveis com furacões de categoria 1, a medalha de Reginald James foi entregue ao segurança ao museu, com direito a uma pequena cerimônia formal na igreja de Grytviken, para a qual todos os 75 passageiros e parte da tripulação do SH Diana foram convidados.

A igreja de Grytviken foi o palco da cerimônia, acompanhada pelos tripulantes do SH Diana
A igreja de Grytviken foi o palco da cerimônia, acompanhada pelos tripulantes do SH Diana Imagem: Divulgação

Os irmãos James também doaram ao museu da Geórgia do Sul dois livros: o primeiro rascunho digitado do diário que Reginald James manteve durante toda a expedição do Endurance e tempo à espera de resgate na Ilha Elefante (incluindo desenhos e anotações feitas à mão por ele) e uma copia de "South by Sir Ernest Shackleton" (incluindo uma mensagem pessoal do lendário explorador na primeira página).

Entretanto, ambos estão em delicado estado de conservação e precisarão ser restaurados antes que possam ser exibidos no museu.

 Os irmão James também doaram dois livros, um deles o rascunho do diário que Reginald James manteve durante toda a expedição
Os irmão James também doaram dois livros, um deles o rascunho do diário que Reginald James manteve durante toda a expedição Imagem: Divulgação
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A expectativa é que, em breve todos, os três objetos doados possam ser devidamente apreciados por quaisquer visitantes da remota ilha no extremo sul atlântico. A Swan Hellenic (com dois navios atualmente em operação, SH Diana e SH Vega) é uma das armadoras de cruzeiros de expedição que têm a Geórgia do Sul incluída em distintos itinerários turísticos em 2024 e 2025.

Uma expedição lendária e inesquecível

Sobreviventes do Endurance, a lendária expedição de Shackleton à Antártida
Sobreviventes do Endurance, a lendária expedição de Shackleton à Antártida Imagem: Getty Images

O case Endurance tem uma verdadeira legião de fãs no mundo inteiro até hoje. É um caso tão emblemático das navegações polares que têm diversos filmes, livros e documentários constantemente produzidos sobre ele.

O Endurance era um veleiro de três mastros que, liderado por Ernest Shackleton e tocado por 27 tripulantes, navegou para o continente branco na Expedição Trans-Antártica Imperial em 1914.

Mas, um ano depois, a embarcação ficou presa no gelo polar e acabou afundando no Mar de Wedell, na Antártica.

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Os sobreviventes conseguiram se manter até o resgate, sob o tenebroso clima antártico
Os sobreviventes conseguiram se manter até o resgate, sob o tenebroso clima antártico Imagem: Getty Images

A tripulação conseguiu escapar em botes salva-vidas até a remota e inóspita Ilha Elefante, onde parte dos homens permaneceu se alimentando de pinguins e focas até um heroico resgate liderado por Shackleton, a partir da Geórgia do Sul, oito meses depois.

Toda a tripulação do Endurance sobreviveu e teve sua bravura reconhecida pelo governo britânico ao retornarem em segurança para suas casas.

O Endurance foi encontrado a mais de 3 mil metros de profundidade, em 2022
O Endurance foi encontrado a mais de 3 mil metros de profundidade, em 2022 Imagem: Falklands Maritime Heritage Trust

O Endurance foi finalmente descoberto em março de 2022, quase 107 anos após seu naufrágio, a mais de três mil metros de profundidade no mar antártico — e em condições excelentes de conservação. Tornou-se então monumento histórico e protegido pelo Tratado da Antártida.

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