Frio de -30°C e canibalismo: a luta pela sobrevivência após acidente aéreo

Chegou aos cinemas nesta quinta (14) o filme "A Sociedade da Neve", que conta a história de um acidente aéreo ocorrido em 1972 na Cordilheira dos Andes. O longa, dirigido por Juan Antonio Bayona, estreia na Netflix no dia 4 de janeiro. Relembre como foi o acidente:

O que aconteceu

Em 13 de outubro de 1972 o turboélice Fairchild caiu no Vale de Las Lágrimas, na Cordilheira dos Andes. A aeronave levava jovens uruguaios jogadores de rúgbi para uma partida no Chile.

O avião partiu de Montevidéu, no Uruguai. No meio do caminho, porém, a aeronave teve de fazer uma parada em Mendoza devido ao mau tempo. No dia seguinte, as condições ruins persistiram, mas o grupo partiu mesmo assim.

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Imagem: UOL

Uma hora depois da decolagem a aeronave entrou em um "poço de vácuo". O turboélice perdeu velocidade e se chocou com montanhas da região, partindo-se em dois.

Alguns dos sobreviventes de desastre na Cordilheira dos Andes, em 1972, conhecido como Tragédia dos Andes
Alguns dos sobreviventes de desastre na Cordilheira dos Andes, em 1972, conhecido como Tragédia dos Andes Imagem: Divulgação

Mais de dois meses de espera

45 pessoas estavam a bordo da aeronave. De início, 29 sobreviveram. Eles dividiram um espaço de 6,5 metros de comprimento por três de largura no interior da fuselagem.

Do lado de fora, as temperaturas chegavam a -30 ºC. Os sobreviventes dormiam abraçados, em intervalos curtos para evitar o próprio congelamento.

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Sobreviventes do acidente dos Andes descansam ao lado dos destroços do avião
Sobreviventes do acidente dos Andes descansam ao lado dos destroços do avião Imagem: Sobrevivientes de los Andes/LatinContent/Getty Images

Eles consumiam água proveniente de gelo derretido. Pouca comida estava disponível: apenas conservas, bolachas e chocolates haviam restado.

Os sobreviventes começaram a se alimentar de passageiros mortos após uma semana. Os corpos colocados do lado de fora do avião não eram identificados.

Dois dias depois da queda, mais duas pessoas morreram. Outros oito acabaram mortos em uma avalanche que ocorreu um mês após o acidente.

Para passar o tempo, os sobreviventes usavam lápis e pedaços de papel para escrever mensagens aos seus familiares.

Do mais profundo do meu ser, pedi a Deus que esse dia não chegasse, mas chegou e temos que aceitar com fé. E se eu puder ajudar os amigos com meu corpo, eu o farei com muita alegria.
Gustavo Nicolich, uma das vítimas, em carta que escreveu para a mãe

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O humor era uma das formas encontradas pelos jovens para lidar com a situação. Em fotos, eles aparecem sorrindo. "A catarse do riso era o que nos permitia atravessar aquilo", disse Gustavo Zerbino, um dos tripulantes.

Acidente com avião deixou jogadores de rúgbi mais de 70 dias presos na cordilheira dos Andes
Acidente com avião deixou jogadores de rúgbi mais de 70 dias presos na cordilheira dos Andes Imagem: Sobrevivientes de los Andes/LatinContent/Getty Images

Como eles se salvaram

Após diversas tentativas, os sobreviventes montaram uma comitiva com três jovens para buscar ajuda. Em dezembro de 1972, eles percorreram cerca de 60 quilômetros em 10 dias.

No caminho, eles encontraram Sergio Catalán do outro lado de um rio no Chile. Como o barulho impedia que o tropeiro ouvisse o pedido de socorro, os sobreviventes Roberto Canessa e Fernando Parrado escreveram uma mensagem em um papel, lançando o pedido para a outra margem do rio em uma pedra.

Venho de um avião que caiu nas montanhas. Sou uruguaio. Estamos caminhando há cerca de dez dias. Outros catorze permanecem no avião. Também estão feridos. Não têm o que comer e não podem sair nem andar. Por favor, venha nos buscar.
Pedido de socorro dos sobreviventes

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O terceiro integrante da comitiva, Antonio Vizintin, havia retornado antes do fim da caminhada.

Os sobreviventes foram resgatados de helicóptero em dois dias, por causa das condições climáticas.

Como é o filme

Cena do filme "A Sociedade da Neve", da Netflix
Cena do filme "A Sociedade da Neve", da Netflix Imagem: Reprodução/Netflix

O cineasta espanhol Juan Antonio Bayona se interessou pela história em 2011, quando leu um livro escrito por Pablo Vierci sobre o caso.

O longa foi escolhido para representar a Espanha no Oscar. O filme também foi premiado no Festival de San Sebastián e ovacionado no Festival de Veneza.

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A história é contada em espanhol. O filme teve autorização de todos os sobreviventes e enlutados.

As filmagens ocorreram na Argentina, na Espanha, no Chile e no Uruguai durante 141 dias. Veja o trailer:

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