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Você sabia? Bar onde nasceu o bauru também inventou o 'é pique, é pique'

O tradicional bauru do Ponto Chic, em São Paulo Imagem: Reprodução/Facebook

Glau Gasparetto e Thaís Lopes Aidar

Colaboração para Nossa

26/12/2023 04h05

Se o "Parabéns a você" é herança americana, adaptado para o português no início dos anos 1940, o coadjuvante musical das festinhas tem raiz bem brasileira.

O coro do "É pique, é pique, é pique" nasceu em território paulista e tem uma relação direta com o famoso sanduíche bauru. Isso porque ambos surgiram dentro do icônico bar boêmio e restaurante Ponto Chic.

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A casa foi inaugurada no Largo do Paissandu em 1922, mesmo ano da Semana de Arte Moderna, evento cultural que abriu as portas para o movimento modernista no país. Não à toa, passou a ser reduto de artistas e intelectuais da época.

Fachada do prédio do Ponto Chic, no Largo do Paissandú Imagem: Inês Bonduki/Folhapress

A cerca de um quilômetro dali funcionava a Faculdade de Direito do Largo São Francisco — hoje Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP). O Ponto Chic também foi adotado pelos estudantes e se tornou ponto de encontro das turmas para qualquer ocasião. Lá, a roda de conversas e as risadas eram garantidas e foi entre os muitos bordões que nasceu a canção.

Segundo Angelo Iacocca, autor do livro "Ponto Chic — Um bar na história de São Paulo" (Senac São Paulo), esses alunos já eram conhecidos pelas trovas universitárias e pela criatividade em suas cantorias, que costumavam contaminar o ambiente.

A equipe do Ponto Chic, na década de 1950 Imagem: Reprodução

Origens para lá de inusitadas

O "é pique, é pique" que puxa o coro, por exemplo, na verdade era uma referência ao barulho da tesoura de Ubirajara Martins, um dos acadêmicos. Frequentador assíduo, ele gostava de aparar o bigode ali mesmo, entre as mesas. Por gozação, seus amigos incluíram o som na letra.

Já o verso "é hora, é hora" vem de uma parte obrigatória da vida boêmia: a cerveja gelada. Como na época as geladeiras eram insuficientes para resfriar a bebida, a turma precisou esperar até que barras de gelo fizessem o trabalho por meia hora.

Quando o fim do tempo se aproximava, eles entoavam: "Meia hora, meia hora, é hora, é hora, é hora".

Balcão da unidade Paissandú Imagem: Divulgação

Já o "Rá-tim-bum" foi uma brincadeira com um visitante indiano, um rajá, que esteve na faculdade. Como seu nome soava algo parecido com Timbum, bastou combiná-lo com a primeira sílaba do título do governante para originar o rá-tim-bum que antecede as palmas finais.

Ponto Chic, o berço do bauru

Além do pós-parabéns, o Ponto Chic coleciona histórias e lendas que permeiam a vida boêmia e a própria culinária paulistana. Afinal, foi ali que também nasceu o aclamado sanduíche bauru, hoje considerado Patrimônio Imaterial do Estado de São Paulo.

Foi criado por um estudante de direito, o Casimiro Pinto Neto, que tinha o apelido de 'bauru' por ser natural da cidade no interior paulista Angelo Iacocca

Copiado por lanchonetes do país inteiro, o lanche até hoje oferecido em uma das três unidades do Ponto Chic (na original, no Largo do Paissandu, e nos bairros Paraíso e Perdizes) segue a receita original, com ingredientes autênticos.

O bauru Ponto Chic: mesma receita desde a década de 1930 Imagem: KEINY ANDRADE/FOLHAPRESS

Desde a década de 30, o clássico sanduíche leva fatias de rosbife, tomates em rodela e pepino em conserva, queijos fundidos em banho-maria (prato, estepe, gouda e suíço) e é servido no pão francês.

A inspiração para o lanche que Casimiro pediu ao sanduicheiro Carlos — e desencadeou os pedidos dos amigos que sempre solicitavam: "Me vê um sanduíche do Bauru" — foi "O Livro das Mãezinhas", de 1937, que o fez pensar em um prato que equilibrasse carboidratos, proteínas e vegetais.

Histórias que perpetuam

O Ponto Chic é hoje comandado por Rodrigo Alves. Seu avô, Antônio Alves de Souza, saiu de Franca, no interior paulista, e trabalhou como garçom no restaurante. Anos depois, ele e o filho José Carlos Alves de Souza adquiram o restaurante de um dos fundadores, Odílio Cecchini.

O atual administrador busca manter vivas as histórias do "É pique" e do "bauru" enquanto foca em inovar para atender às necessidades modernas. Para ele, tais criações que surgiram dentro do Ponto Chic foram moldando o local, que conseguiu participar ativamente da construção da capital e seus jeitos.

Antonio Alves de Souza e sua esposa, Nina, no Ponto Chic Imagem: Divulgação

O bauru é um sanduíche único: a mistura do quente com o frio, o queijo se fundindo com o rosbife, o tornam inigualável. Isso o tornou um representante da culinária paulista Rodrigo Alves

Além do sabor diferente e da receita tradicional, o herdeiro do Ponto Chic também destaca a mistura de culturas, tão típica da cidade, como um ponto importante para o sucesso do sanduíche.

"Foi misturando essas tradições de vários povos que, para nós, é uma honra ver o bauru sendo o sanduíche mais famoso do Brasil, mesmo com a receita sendo alterada em diferentes lugares", comenta.

Valorizar a origem é manter o legado vivo

Feliz pela valorização do bauru, Rodrigo também se orgulha da origem do coro que acompanha o "Parabéns a você". Mais que ter seu restaurante envolvido na história de São Paulo, a popularização da música difundiu a própria história do bar, chegando às casas brasileiras em um momento tão especial, que é a comemoração de aniversários.

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