Vulcões, Andes, Amazônia e Galápagos: Equador vai muito além da violência
Todo começo de janeiro, o jornal americano "The New York Times" publica sua influente lista de 52 lugares para visitar no ano que se inicia. Em 2024, Quito foi um dos destinos escolhidos.
"Quando o novo metrô estiver 100% operacional este ano, suas 15 estações conectarão a cidade de norte a sul, facilitando os viajantes a explorar das igrejas primorosamente preservadas do centro histórico, patrimônio da Unesco, aos modernos distritos exibindo torres vanguardistas projetadas por nomes como Bjarke Ingels e Moshe Safdie", descreveu o diário.
A indústria do turismo equatoriano e a imprensa especializada do país nem tiveram tempo de repercutir o feito. No mesmo dia da publicação do especial, um líder da facção criminosa Los Choneros fugiu da prisão, mergulhando o Equador, ao longo da semana passada, no caos.
Homens mascarados e armados invadiram um estúdio de TV. Rebeliões estouraram em presídios, explosões, tiroteios, veículos incendiados e lojas saqueadas viraram o cenário de um país marcado pela extrema violência nos últimos anos.
O "New York Times" precisou atualizar sua lista e inserir um alerta no texto sobre Quito, avisando seus leitores que o Equador havia acabado de entrar em estado de emergência. O turismo no país, infelizmente, vai ter que esperar.
O que o Equador tem
O Equador tem o tamanho do Rio Grande do Sul, e nessa pequena área cabem cenários tão diferentes quanto os Andes, a Amazônia e praias do Pacífico. É um dos cinco países com mais espécies de aves do planeta (mais de 1,6 mil). Tem mais de 4 mil tipos de orquídeas e sete vezes mais espécies de árvores do que toda a Europa. Um quinto do território está em reservas e parques.
E ainda tem Galápagos, um dos arquipélagos mais famosos do mundo justamente pela biodiversidade impressionante.
Conheça o charme e as belezas desse pequeno país sul-americano que o crime organizado e a violência acabam escondendo do mundo nesses momentos de temor e desesperança.
Quito
Apenas um mês após ter sido inaugurado, o metrô de Quito conheceu a dura realidade do país, com a explosão de violência de janeiro. Os trens passaram a operar em horários reduzidos e os seguranças revistam bolsas e mochilas dos passageiros, além de destruir todos os objetos esquecidos, segundo o jornal equatoriano "El Telégrafo".
O histórico de violência na capital equatoriana é menor do que em outras regiões. O fluxo turístico, infelizmente, também é menor. Muita gente faz pouco caso de Quito, apesar dos trunfos dessa cidade de 2 milhões de habitantes a 2.850 m acima do nível do mar, em meio a um vale cercado de vulcões.
A ocupação humana data de milhares de anos, mas a Quito moderna foi fundada no século 16 sobre a antiga cidade inca - que, pouco antes da chegada dos espanhóis, rivalizava com Cusco em importância no antigo império.
Apesar dos terremotos, "a cidade tem o centro histórico menos alterado e mais bem preservado da América Latina", descreveu a Unesco ao decretar Quito como patrimônio cultural da humanidade. Quito, aliás, foi a primeira cidade do mundo a ganhar a honraria, em 1978.
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Quero receber"Os mosteiros de São Francisco e de Santo Domingo e a Igreja da Companhia de Jesus, com seus ricos interiores, são puros exemplos da escola barroca de Quito, uma fusão de artes espanhola, italiana, moura, flamenga e indígena", explica o site da entidade.
Fora do centro histórico, a capital tem parques, museus, boa vida noturna e uma das tradições de Ano-Novo mais insanas do mundo.
Vulcões
Estepes salpicadas de hotéis-fazenda que servem de base para caminhadas, cavalgadas e pedaladas são o cenário do vale do Pedregal, ao sul de Quito.
Subir o Cotopaxi, com 5.897 metros de altitude e o segundo vulcão ativo mais alto do mundo, é uma tradição entre os equatorianos. Lá do alto dá para ver a impressionante "Avenida dos Vulcões", uma fileira de mais de 80 vulcões que se estendem por quase 500 km e rasgam o território do país.
Ali perto, a pequenina Baños recebe aventureiros de todo o mundo, que podem escalar os vulcões da região, fazer rafting, relaxar nas fontes de águas termais ou até explorar a Amazônia, já que a cidade é uma das portas de entrada na floresta - onde cientistas descobriram, recentemente, resquícios de cidades que podem ter mais de 2,5 mil anos.
Otavalo
Lagos e montanhas compõem o cenário desta cidade 90 km ao norte de Quito. É outro destino nas nuvens: Otavalo fica a 2.532 m, e seu grande trunfo é a riqueza cultural do povo otavalo.
O enorme mercado indígena toma praticamente toda a cidade aos sábados. Mercadorias básicas, artesanatos e comidas fazem dessa feira, uma das maiores da América do Sul, uma baita atração para quem estiver atrás de lembrancinhas ou preferir assistir às fervilhantes cenas típicas de mercados de rua.
É um destino comum de bate-volta a partir de Quito. Mas o ideal é passar uns dias para conhecer os lagos, cascatas e a natureza da região, considerada uma das mais bonitas do país.
Cuenca
Também localizada nas alturas, a 2.535 m de altitude, Cuenca é tida como a cidade mais bonita do Equador. Santa Ana de los Ríos de Cuenca foi fundada em 1557 e seguia o rigoroso planejamento urbano do Império Espanhol na época. A arquitetura colonial ganhou novos prédios nos séculos 18 e 19.
Hoje com 360 mil habitantes e terceira maior cidade do país, ela não é mais a mesma. Mas o centro histórico, outro patrimônio cultural da humanidade, eleito pela Unesco em 1999, é bem preservado, repleto de ruas de pedras, igrejas, sacadas coloridas e telhados vermelhos.
Galápagos
Se Quito é o primeiro dos patrimônios culturais da Unesco, Galápagos inaugurou a lista dos tesouros naturais, também em 1978. A fama do arquipélago e a distância, a 1.000 km da costa do Equador, fazem dele um destino quase independente. Para muita gente, o Equador é só a base de partida para conhecer as ilhas.
Quer dizer, não tanta gente assim. O acesso às Galápagos é restrito para tentar preservar a natureza, ameaçada pelo crescimento populacional e do turismo nos últimos anos.
Segundo a Associação Internacional dos Operadores Turísticos nas Galápagos, em 2010 desembarcaram no arquipélago 170 mil visitantes. Em 2019, antes da pandemia, foram 270 mil. A Unesco e outras instituições já manifestaram preocupação com as condições do turismo local.
Os operadores defendem um controle mais rígido e sugerem, entre outras medidas, que a taxa de entrada nas ilhas, atualmente de US$ 100, seja maior, mais próxima da de outros destinos, como o Serengeti ou o Butão. No país asiático, os turistas devem pagar US$ 200 por dia.
Para amantes da natureza, o investimento valerá a pena, garantem. As 19 ilhas que compõem o arquipélago já foram descritas como um museu aberto da evolução. Três correntes marítimas se encontram nesse caldeirão da diversidade da vida marinha.
O isolamento e a atividade sísmica propiciaram o surgimento de uma porção de espécies únicas. A flora e a fauna de cada ilha diferem entre si. Cada uma é um mundo à parte.
A iguana-terrestre-das-galápagos, a tartaruga-gigante-das-galápagos e outras espécies inspiraram Charles Darwin em 1835 e podem continuar inspirando muita gente, desde que esse santuário seja preservado.
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