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Triângulo amoroso nas alturas: a história da lenda com vulcões no Atacama

Atacama é considerado o deserto mais seco do mundo; na foto, Licancabur e Juriques Imagem: Jonathas Cotrim / UOL

Jonathas Cotrim

Colaboração para Nossa

22/01/2024 04h00

Vulcões no deserto do Atacama, no Chile, são uma atração turística. E uma lenda em particular conquista os visitantes da região. Povos originários interpretavam os vulcões como poderosas entidades —a história de amor é inspirada em um fenômeno natural extremamente raro.

Guerreiros e donzelas

Os vulcões assumem a forma de entidades e são responsáveis pela proteção e cuidado da população, segundo os atacameños, povo originário da região. A lenda diz que os vulcões seriam poderosos guerreiros; e as montanhas, belas donzelas. A história está registrada em livros, pesquisas e até em cartilha do governo do Chile.

O vulcão Licancabur, um dos maiores da região, é considerado o protetor do povoado de San Pedro —a formação pode ser avistada da maior parte das atrações turísticas do povoado.

O vulcão Licancabur é um dos maiores da região do Atacama Imagem: Jonathas Cotrim / UOL

Conta a lenda que Licancabur e Juriques —o vulcão localizado ao lado do Licancabur— são irmãos. Eles têm a mesma força e poder.

O problema é que ambos se apaixonaram por uma montanha que se localizava ao lado deles, chamada Cerro Quimal. Apesar da disputa entre os irmãos, o coração de Quimal tinha um escolhido: ela correspondia à paixão de Licancabur.

Enciumado pela preferência da montanha por seu irmão, e ainda com inveja por ver Licancabur idolatrado pelos atacameños, Juriques tramou contra o casal, ludibriou o irmão e tentou roubar Quimal à força.

Ao saber disso, Licancabur entrou em uma poderosa erupção e "decapitou" o irmão. Por isso, o vulcão Juriques tem esse nome, que significa "sem cabeça" —enquanto Licancabur significa "vulcão do povo".

Diante do conflito entre os irmãos, o pai deles, o vulcão Lascar —considerado um dos vulcões mais ativos da cordilheira dos Andes— encontrou uma solução para resolver a briga: ele decidiu enviar Quimal para longe de todos, a mais de 100 quilômetros de distância. É por isso que, atualmente, ao lado de Licancabur e Juriques, existe um grande espaço vazio, pois era onde ficava Quimal.

A história não tem final triste: comovido com a história de amor entre Licancabur e Quimal, Lascar decide conceder ao casal uma única chance para eles se amarem: em apenas um dia do ano, no solstício de inverno, Licancabur pode alcançar a montanha, localizada na Cordilheira de Domeyko.

Fenômeno natural

Deserto do Atacama Imagem: Jonathas Cotrim / UOL

A história é ancorada em um fenômeno natural raro. O "encontro" entre Licancabur e Quimal realmente acontece: uma vez por ano, no solstício de inverno, em junho, a sombra do vulcão se estende de tal forma que percorre toda a distância entre eles e alcança a montanha. O fenômeno acontece pois o sol se põe exatamente atrás do vulcão, o que permite o alongamento da sombra por cerca de 100 quilômetros, cobrindo todo o vale em que está San Pedro do Atacama.

Paisagens de tirar o fôlego

Localizado no norte do Chile, o Atacama é um deserto super seco. Apesar disso, é repleto de cenários de tirar o fôlego, com grande diversidade de paisagens: vulcões, gêiseres, lagoas congeladas, montanhas coloridas e desertos de sal —os chamados "salares".

No meio deste grande deserto, o povoado de San Pedro do Atacama concentra a maior parte da atividade turística. É nele que a maioria dos turistas e mochileiros ficam hospedados e aproveitam campings, hostels, hotéis, restaurantes e bares. Passeios guiados pela região também narram a lenda —e alguns se aventuram a subir os vulcões famosos.

O povoado tem menos de 5 mil habitantes e está situado entre três grandes cordilheiras: Domeyko, de la Sal, e os Andes, a maior delas e que se estende até o sul da Colômbia, de onde se bifurca em três. É lá que se localizam os maiores vulcões e montanhas da região.

Uma lenda dos povos originários do Atacama coloca os vulcões da região como poderosas entidades Imagem: Jonathas Cotrim / UOL

Observadores do céu

Os povos atacameños habitavam a região antes do Império Inca. Eles tinham noções de astronomia bastante avançadas para a época, com o acompanhamento preciso das estações do ano por meio da observação celeste. Isso permitia que soubessem a época de plantio e colheita de itens alimentícios, como o milho e a quinoa.

O encontro dos vulcões também servia como orientação para os atacameños. Isso porque eles sabiam precisamente que o inverno havia chegado justo quando o sol se punha exatamente na direção do pico do Licancabur.

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