Triângulo amoroso nas alturas: a história da lenda com vulcões no Atacama

Vulcões no deserto do Atacama, no Chile, são uma atração turística. E uma lenda em particular conquista os visitantes da região. Povos originários interpretavam os vulcões como poderosas entidades —a história de amor é inspirada em um fenômeno natural extremamente raro.

Guerreiros e donzelas

Os vulcões assumem a forma de entidades e são responsáveis pela proteção e cuidado da população, segundo os atacameños, povo originário da região. A lenda diz que os vulcões seriam poderosos guerreiros; e as montanhas, belas donzelas. A história está registrada em livros, pesquisas e até em cartilha do governo do Chile.

O vulcão Licancabur, um dos maiores da região, é considerado o protetor do povoado de San Pedro —a formação pode ser avistada da maior parte das atrações turísticas do povoado.

O vulcão Licancabur é um dos maiores da região do Atacama
O vulcão Licancabur é um dos maiores da região do Atacama Imagem: Jonathas Cotrim / UOL

Conta a lenda que Licancabur e Juriques —o vulcão localizado ao lado do Licancabur— são irmãos. Eles têm a mesma força e poder.

O problema é que ambos se apaixonaram por uma montanha que se localizava ao lado deles, chamada Cerro Quimal. Apesar da disputa entre os irmãos, o coração de Quimal tinha um escolhido: ela correspondia à paixão de Licancabur.

Enciumado pela preferência da montanha por seu irmão, e ainda com inveja por ver Licancabur idolatrado pelos atacameños, Juriques tramou contra o casal, ludibriou o irmão e tentou roubar Quimal à força.

Ao saber disso, Licancabur entrou em uma poderosa erupção e "decapitou" o irmão. Por isso, o vulcão Juriques tem esse nome, que significa "sem cabeça" —enquanto Licancabur significa "vulcão do povo".

Diante do conflito entre os irmãos, o pai deles, o vulcão Lascar —considerado um dos vulcões mais ativos da cordilheira dos Andes— encontrou uma solução para resolver a briga: ele decidiu enviar Quimal para longe de todos, a mais de 100 quilômetros de distância. É por isso que, atualmente, ao lado de Licancabur e Juriques, existe um grande espaço vazio, pois era onde ficava Quimal.

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A história não tem final triste: comovido com a história de amor entre Licancabur e Quimal, Lascar decide conceder ao casal uma única chance para eles se amarem: em apenas um dia do ano, no solstício de inverno, Licancabur pode alcançar a montanha, localizada na Cordilheira de Domeyko.

Fenômeno natural

Deserto do Atacama
Deserto do Atacama Imagem: Jonathas Cotrim / UOL

A história é ancorada em um fenômeno natural raro. O "encontro" entre Licancabur e Quimal realmente acontece: uma vez por ano, no solstício de inverno, em junho, a sombra do vulcão se estende de tal forma que percorre toda a distância entre eles e alcança a montanha. O fenômeno acontece pois o sol se põe exatamente atrás do vulcão, o que permite o alongamento da sombra por cerca de 100 quilômetros, cobrindo todo o vale em que está San Pedro do Atacama.

Paisagens de tirar o fôlego

Localizado no norte do Chile, o Atacama é um deserto super seco. Apesar disso, é repleto de cenários de tirar o fôlego, com grande diversidade de paisagens: vulcões, gêiseres, lagoas congeladas, montanhas coloridas e desertos de sal —os chamados "salares".

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No meio deste grande deserto, o povoado de San Pedro do Atacama concentra a maior parte da atividade turística. É nele que a maioria dos turistas e mochileiros ficam hospedados e aproveitam campings, hostels, hotéis, restaurantes e bares. Passeios guiados pela região também narram a lenda —e alguns se aventuram a subir os vulcões famosos.

O povoado tem menos de 5 mil habitantes e está situado entre três grandes cordilheiras: Domeyko, de la Sal, e os Andes, a maior delas e que se estende até o sul da Colômbia, de onde se bifurca em três. É lá que se localizam os maiores vulcões e montanhas da região.

Uma lenda dos povos originários do Atacama coloca os vulcões da região como poderosas entidades
Uma lenda dos povos originários do Atacama coloca os vulcões da região como poderosas entidades Imagem: Jonathas Cotrim / UOL

Observadores do céu

Os povos atacameños habitavam a região antes do Império Inca. Eles tinham noções de astronomia bastante avançadas para a época, com o acompanhamento preciso das estações do ano por meio da observação celeste. Isso permitia que soubessem a época de plantio e colheita de itens alimentícios, como o milho e a quinoa.

O encontro dos vulcões também servia como orientação para os atacameños. Isso porque eles sabiam precisamente que o inverno havia chegado justo quando o sol se punha exatamente na direção do pico do Licancabur.

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