Do Brasil, feitos na Alemanha: bombons levam prêmios em concurso mundial
No mundo da chocolateria, a premiação da Academy of Chocolate de Londres é uma das mais importantes. Em 2023, marcas brasileiras conquistaram o pódio com criações que levam caipirinha e frutas tropicais. Mas também teve uma confeiteira brasileira "escondida" por trás de uma marca alemã que levou seis prêmios.
É Liliane Leopoldino, mineira de Uberlândia que comanda a Pralilinen, uma pequena manufatura sediada em Stuttgart. Ela decidiu enviar para avaliação cinco bombons recheados e uma pasta, todos prestigiados no concurso.
"Toda vez que penso 'cansei, não quero mais', a premiação vem como um 'não desista, você está no caminho certo'. É uma motivação, mesmo quando tudo parece não estar bom", afirmou Liliane.
O pensamento de desistência é breve, mas comum na cabeça de quem decide ter o próprio negócio. "É muito difícil empreender no Brasil e em outro país é ainda muito mais. Uma língua diferente, cultura diferente, e a chocolateria fora do Brasil é muito masculina."
Além de transformar em profissão um hobby que começou na adolescência, ela decidiu espalhar pela Europa os sabores brasileiros e as inspirações familiares.
Com isso, agradou o paladar dos jurados do concurso, que concederam honra aos seguintes doces:
- Bombom de figo com doce de leite (ouro): um doce clássico quando se pensa em Minas Gerais.
- Bombom de banana com caramelo (ouro): Liliane tem boas memórias das muitas bananadas que o pai fazia com a fruta colhida nos pés de banana no quintal de casa.
- Bombom de coco com chocolate (prata): faz referência ao cocão, uma sobremesa que a avó de Liliane fazia em todas as reuniões de família. Confira a receita aqui.
- Bombom de crocante de cumaru (prata): uma especiaria brasileira de que Liliane gosta muito e misturou com avelã.
- Bombom de goiabada com parmesão (bronze): uma releitura da querida sobremesa romeu e julieta.
- Pasta de coco queimado com amendoim (bronze): saudosa das festas juninas, criou o item com referências da época.
Em 2022, Liliane também foi premiada pela Academy of Chocolate: levou um ouro com um bombom de caipirinha, e um bronze para o de baunilha com framboesa.
Desafio em terras germânicas
O reconhecimento tem sabor especial para uma empresa de mãos brasileiras que começou na Alemanha. "Me mudei com meu marido em 2019 e vi o quão difícil era trabalhar com meus chocolates lá", conta.
Para abrir um negócio no país, ela diz, é preciso ter formação em confeitaria e um curso específico para gerenciar o empreendimento, o que Liliane não tinha. "Fiquei bem desesperada na época."
Em busca de ajuda, conseguiu minimizar os requisitos: comprovou experiência no ramo, incluindo as aulas de confeitaria que ministrou no Brasil, mostrou o currículo com formação em administração e cursos complementares.
Depois, fez uma prova teórica que, aprovada, concedeu o certificado para abrir a empresa em novembro de 2021.
Newsletter
BARES E RESTAURANTES
Toda quinta, receba sugestões de lugares para comer e beber bem em São Paulo e dicas das melhores comidinhas, de cafés a padarias.
Quero receberMas, diferentemente do Brasil, as políticas alemãs não permitem produção de alimentos em casa, então Liliane alugava uma cozinha industrial por hora para fabricar os doces e vender online.
Após a primeira premiação, ela sentiu que a empresa estava mais organizada e conhecida na região. Já era 2023. "Participei de muitas feiras de comida, de design. E na Alemanha eles valorizam muito o produto regional, foi 'dando bom'", conta.
Foi por meio desses eventos que lojas locais se interessaram em vender os bombons dela, um canal de venda que se somou ao comércio online e à venda na porta da manufatura para quem encomendar.
O plano de médio a longo prazo é ter uma loja física para vendas, uma demanda dos clientes que perguntam e valorizam o contato com quem produz.
Conquista o paladar e os olhos
Para fazer os bombons com sabor de Brasil, alguns ingredientes são essenciais, como a cachaça e a goiabada. Quando vem ao país, leva a mala carregada de itens e outros insumos que vão durar muito tempo.
Liliane brinca que, para visitá-la na Alemanha, é requisito levar algum ingrediente brasileiro. Já o chocolate, os laticínios, frutas e queijos são comprados em Stuttgart mesmo.
Aos poucos, ela foi conquistando o paladar local com os quitutes. "O alemão é mais bloqueado para experimentar algo novo, tem de convencer, explicar que é diferente e especial, contar a história por trás."
Além do sabor, os bombons conquistam pelo visual, porque a confeiteira pinta cada um com manteiga de cacau colorida. Uma obra de arte. "Tem gente que acha legal, outros perguntam se é comestível e dizem que dá dó de comer."
Deixe seu comentário