Flats, tweed e pele à mostra: o que vai bombar na moda em 2024

Marrom é o novo preto

Que preto cai bem com tudo, é versátil, traz sobriedade e elegância pouca gente duvida. Mas agora, a cor ganha um concorrente à altura como curinga. Para Airon Martin, fundador e diretor criativo da Misci, uma das marcas pop do cenário fashion nacional, o marrom tem tudo para ser "o novo preto".

As pessoas estão perdendo o medo do marrom, tanto por uma questão de hábito quanto de clima. Essa cor é mais tropical e a sensação de calor ao usá-la é menor Airon Martin

Essa abertura está relacionada ainda à ascensão dos tons terrosos nas últimas temporadas e do burburinho em torno de movimentos como o "quiet luxury" e sua proposta de discrição com cores mais sóbrias.

Moda comfy

Esqueça o vestir-se para causar. A moda em 2024 surge numa linha "comfy", o que numa tradução livre equivaleria a algo como estilo confortável. O momento é das peças leves, tecidos versáteis e acessórios mais discretos, que trazem para a gente liberdade de movimento.

Com as mudanças climáticas, ondas de calor e altas temperaturas, a última coisa que queremos é estar cheios de roupas, com peças exageradas e desconfortáveis Gabriel Miranda, stylist e produtor de moda

Nessa vibe, o especialista aposta nos sapatos flats tipo rasteirinha e abertos como um dos protagonistas do ano. "Eles combinam com qualquer look, do glamour ao despojado".

Minimalismo

Nessa esteira de conforto e leveza, o minimalismo também vem com força. Volta a valer a máxima do "menos é mais".

"Logo depois da pandemia, todo mundo ficou louco para consumir moda exageradamente e trazer aquela estética de festa, agora tendemos ao essencial", explica Airon.

Para o estilista, a moda em 2024 não estará tão focada no produto em si, mas em conectar causas, valores e experiências.

Assim, o minimalismo surge revisitado com materiais mais sustentáveis como, por exemplo, o BeLeaf, alternativa ao couro desenvolvida a partir da planta tropical orelha-de-elefante.

Feito à mão

Além do sustentável, o artesanal também tende a ocupar mais espaço na moda este ano, de acordo com a consultora de estilo e imagem Ana Luiza Romeu.

As pessoas estão valorizando cada vez mais produtos feitos à mão, que sejam únicos, bem feitos e que contem histórias Ana Luiza Romeu

É a hora e a vez do tricô, crochê, rendas e tingimento natural. Na última edição da São Paulo Fashion Week (SPFW), por exemplo, realizada em novembro do ano passado e que apontou as tendências para o verão deste ano, marcas como LED, Marina Bitu, João Maraschin e Santa Resistência já anunciavam essa onda de valorização do trabalho manual.

Resgate do feminino

Para Ana Luiza, outra tendência que deve marcar 2024 é o protagonismo dos elementos que remetem à feminilidade. "Depois de um tempo com looks cheios de referências da moda masculina, a estética que enaltece o feminino volta a ter destaque, afinal nem só de alfaiataria são feitos looks poderosos", prevê a consultora.

Assim, flores, transparências, comprimentos curtos, saia lápis, saias em geral, ombros à mostra, tops sem alça e slip dress devem aparecer nos guarda-roupas e ganhar as ruas por aí. A PatBo foi uma das marcas que já pôs em curso essa ode ao feminino em sua coleção apresentada durante a Semana de Moda de Nova York.

Braços de fora

Se mais pele à mostra deve nortear os looks delas, eles também não ficam atrás e os braços de fora prometem consolidar o "sexycore" na moda masculina.

Diversas marcas daqui e de fora estão investindo não só na regata como também nas camisas sem manga e nos coletes sociais usados sem acompanhamento Naná Freitas, consultor de imagem e estilo masculino

Uma prova disso são os desfiles das últimas semanas de moda masculina em Londres e Milão e da SPFW.

Efeito brilhoso

Quem disse que homens não podem usar brilho? Já consolidadas no vestuário feminino, as roupas cintilantes devem ganhar espaço entre eles, na opinião do estilista Rafael Caetano, professor de moda do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo e do Senac Lapa Faustolo..

Nas semanas de moda nacionais e internacionais, a tendência já vinha se desenhando em desfiles de marcas como Sagaboi, Dior e na do próprio estilista. Ele acredita que nos próximos meses o foco estará no brilhante em alusão a astros e outros elementos cósmicos.

A cor que funcionará como base de fundo para essa representação será o azul, ora mais claro, ora mais escuro Rafael Caetano

Tons pastéis

Contrariando a corrente dos últimos anos no mercado da moda, onde as cores vibrantes foram as dominantes, o produtor Gabriel Miranda acredita que a cartela de 2024 será muito mais suave.

Um indício disso é a cor oficial definida para o ano pela Pantone: a "Peach Fuzz", que é um tom de pêssego, quente e aconchegante.

"A cor lembra um laranja desbotado e os demais tons tendem a seguir essa mesma configuração. Vejo um ano onde a suavidade das cores nos convida a olhar mais para nós mesmos, nosso interior e desenvolvimento pessoal", projeta Gabriel.

Assimetria

Para trazer bossa, conferir graça e arrematar com um charme diferente as produções, peças com proporções assimétricas, design irregular, pontas soltas ou recortes dissonantes também prometem marcar presença.

"É algo que nós fazemos na Misci e vejo que outras marcas têm apostado também, nacional e internacionalmente. Inclusive em acessórios como bolsas, que hoje representam 40% do nosso faturamento", afirma Airon Martin.

Consideradas propulsoras de tendências, várias celebridades fazem coro a essa novidade. Pelo menos é o que indicam as aparições recentes de Taylor Swift, Selena Gomez e Olívia Rodrigo com bolsas assimétricas da marca Aupen, do designer e fotógrafo Skye Tan, natural de Singapura mas baseado em Nova York.

Tweed revisitado

Explorado largamente pela Chanel há gerações, o tecido de lã encorpado, trama mais fechada e textura macia que virou ícone da maison francesa deve chamar atenção este ano em releituras descoladas, segundo Naná Freitas e Rafael Caetano.

O tweed pode vir em blazer, casacos, jaquetas esportivas, conjuntos de coletes com minissaias, hotpants e bermudões utilitários. A brasileira Bold Strap, que se apresenta como uma marca queer, por exemplo, abraçou a proposta em sua coleção "Bold Lesson", exibida na última São Paulo Fashion Week.