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Qual a cidade mais antiga dos Estados Unidos? Faça esta 'volta no tempo'

Entrada do Lightner Museum, que ocupa o prédio de um antigo hotel construído em 1889 Imagem: Visit Florida/500PX

Por Natália Manczyk

Colaboração para Nossa, dos Estados Unidos

07/02/2024 04h05

O forte de pedras Castillo de San Marcos se esparrama em um pequeno morro de frente para o mar protegendo a cidade desde 1695. A uma quadra dali, colunas de pedra dos antigos portões da cidade ainda enfeitam a rua junto de coloridas casas coloniais espanholas com suas sacadinhas românticas e de ruelas tão estreitas a ponto de mal caber um carro que seja.

Poderia facilmente ser qualquer colônia espanhola caribenha — Cartagena, San Juan, Santo Domingo e por aí vai — mas o mais incrível é que esse clima de cidade histórica está na Flórida, à beira-mar, e é tudo real: nada de cidade cenográfica.

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Castillo de San Marcos, em St. Augustine Imagem: Visit Florida/Daron Dean

Saint Augustine, a cerca de duas horas de Orlando, é conhecida como a cidade mais antiga dos Estados Unidos. Na verdade, é a mais antiga dos Estados Unidos continental, já que San Juan, a capital de Porto Rico, foi fundada pouco antes, em 1521, enquanto Saint Augustine viu chegarem os espanhóis em 1565. Independentemente de quem ganha o superlativo, Saint Augustine é daquelas cidades graciosas e diferente de qualquer outro pedaço no país.

O centro histórico é mantido com capricho: por lá você não vai ver as avenidas largas norte-americanas. As vias com seis faixas, os semáforos e os prediões ofuscantes parecem coisa de lugar bem longe dali: o que é a cara dessa cidade da Flórida são as ruazinhas que até hoje seguem o traçado original do século 16.

Estamos numa cidade caribenha? Que nada! Assim são as ruazinhas em St. Augustine Imagem: Natalia Manczyk/UOL

Na rua principal, a St. George Street, não espere esbarrar em Walgreens, CVS, McDonald's e mais todas aquelas lojas americanas de sempre. Ela é rua só para pedestres, com lojas, galerias, cafés, padarias, bares e restaurantes, tudo local.

Para manter o clima e o charme, inclusive foi instituído um padrão de cores, tipografias e símbolos, e, convenhamos, um McDonald's destoaria do ambiente ou teria que mudar toda a sua identidade visual para se adequar ao charme.

Algumas regras mantém o clima charmoso da cidade Imagem: Natalia Manczyk/UOL

A praça principal, a Plaza de La Constitución, também segue essa toada. Não é praça pontuada por prédios monumentais nem coroada por uma loja da Apple envidraçada. O mais antigo espaço público do país merece ser especial: está mantido quase como o original, formado em 1573.

Ou seja, é uma autêntica praça espanhola, com uma casa do governo (inclusive usada ininterruptamente desde 1598) e uma igreja — afinal, a ideia era converter a população local ao cristianismo. A igreja original, do século 16, foi destruída, mas está lá a basílica catedral que enfeita a praça desde 1797.

Plaza de la Constitución, em St. Augustine Imagem: Natalia Manczyk/UOL

Além de cidade histórica, Saint Augustine ainda tem sorte com a paisagem. Está entre o Oceano Atlântico e o Rio Matanzas, o que significa que os dias também envolvem aproveitar 68 km de praias praticamente selvagens, um fim de tarde com vinho branco e frutos do mar na beira do rio, trilhas pela mata tropical e passeio de caiaque.

O forte Matanzas, um monumento histórico nacional dos Estados Unidos Imagem: Visit Florida/Scott Barnett

Hotéis especiais

Não existe um prêmio oficial para isso, mas se houvesse, a esquina onde estão o Flagler College e o Lightner Museum ganharia como o ponto mais bonito de Saint Augustine.

O motivo é justamente a arquitetura dessas duas construções. As duas são imponentes e parecem mais palacetes. Foram construídas como hotéis no século 19 por um dos grandes magnatas da época, Henry Flagler, que tinha um projeto ambicioso: transformar a costa de Saint Augustine em uma Riviera Francesa.

O magnata Henry Flagler, figura chave no desenvolvimento da costa atlântica da Flórida Imagem: Bettmann Archive

Ele é considerado um dos idealizadores da Flórida atual e quem desenvolveu muito da infraestrutura de transporte, turismo e agricultura vista hoje em dia. Ainda que as medidas fossem controversas: ele, por exemplo, destruiu as antigas muralhas de Saint Augustine (as duas colunas de pedras que marcavam a entrada foram salvas) e chegou a planejar construir um campo de golfe no lugar do antigo forte.

Os dois edifícios bonitos feitos por Flagler estão um na frente do outro. O Flagler College, hoje uma faculdade, foi o antigo hotel Ponce de León, que, erguido em 1888, mais parece um palacete mouro do sul da Espanha ou do Oriente Médio.

O Flagler College foi erguido em 1888 Imagem: Natalia Manczyk/UOL

E não é só pela arquitetura que veio essa importância toda: Flagler era tão influente que o hotel Ponce de León foi um dos primeiros edifícios dos Estados Unidos a ser abastecido com energia elétrica — gerada pela Edison Illuminating Company, empresa do amigo famoso, Thomas Edison, o inventor da lâmpada elétrica. Pode parecer algo comum hoje em dia, mas o hotel Ponce de León foi ainda o primeiro hotel do mundo a ter energia elétrica em cada quarto.

Decidido a desenvolver a região, Flagler, na época o mais rico do país, construiu em 1889 mais um hotel: o Alcázar, como uma alternativa para o Ponce de León, em frente. No Alcázar, o destaque é a estrutura.

Interior do Lightner Museum Imagem: Natalia Manczyk/UOL

Como nos Estados Unidos tem-se um superlativo em cada esquina, o Alcázar chegou a ter a maior piscina interna do mundo no século 19, além de quadras de tênis e banhos turcos e russos. Hoje em dia, virou o Lightner Museum, dedicado a antiguidades e eletricidade.

Mesmo que você não saiba do passado como hotel, não é difícil adivinhar: os objetos estão espalhados pela mesma estrutura, o que significa que você vai passando por exposições entre as portas numeradas das suítes e pelos antigos corredores.

Antigo hotel, hoje o Lightner Museum é dedica à história da eletricidade Imagem: Natalia Manczyk/UOL

Uma bela proteção

Já deve ter ficado clara a diferença de Saint Augustine para as cidades mais típicas dos Estados Unidos. Mas, para jogar na cara de vez o quão encantadora é Saint Augustine dá para acrescentar algo nessa lista: o centro histórico totalmente andável com suas casas do século 17 — pois é, embora a cidade seja dos anos de 1500, boa parte das casas originais foi queimada em uma invasão dos piratas.

Para andar por St. Augustine, melhor deixar o carro no hotel: o centrinho é um bom passeio a pé Imagem: Natalia Manczyk/UOL

Ao contrário da maioria das cidades do país, é mais fácil e prático deixar o carro na garagem do hotel. Seguindo (a pé, claro) da praça principal pela rua do agito, a St. George, você chegará no símbolo de Saint Augustine: o Castillo de San Marcos, forte com tudo o que se tem direito: ponte, fosso, canhões e a vista para o mar.

O forte não é uma estrutura com um passado e ponto, sem vida. No topo, foram colocados até bancos como os de praças porque não tem quem não queira mesmo passar um bom tempo sobre o forte de pedras só vendo o mar.

Castillo de San Marcos: passeio obrigatório em St. Augustine Imagem: Visit Florida/Scott Barnett

A posição escolhida foi estratégica para permitir que os soldados avistassem todo o horizonte e possíveis invasões dos britânicos. Hoje em dia, os turistas têm a mesma visão panorâmica dos soldados de séculos atrás, com a diferença que agora é sem preocupação.

Exposições no forte contribuem para todo mundo imaginar as cenas de outros séculos por lá: mostram a rotina dos soldados, como o alojamento original, objetos e os muros rabiscados por eles com mensagens e desenhos.

Aproveite o tour pelo Castillo de San Marcos para curtir a vista do mar que banha a cidade Imagem: Visit Florida/The Rodriguez Group

Saint Augustine do alto

Embora o Castillo de San Marcos marque Saint Augustine, há mais um forte não tão conhecido, mas com uma visita tão interessante quanto: o Fort Matanzas National Monument. Foi construído em 1740 pelos espanhóis na margem do Rio Matanzas como forma de bloquear mais uma possível entrada dos invasores — ou viriam por mar ou por rio.

Só é acessível de barco e, por isso, a ida até lá acaba sendo também um gostoso passeio, que fica ainda melhor por ser tudo gratuito: tanto o barco quanto a entrada no monumento, sempre guiada.

O Fort Matanzas National Monument tem acesso apenas por barco, e vale o tour Imagem: Natalia Manczyk/UOL

Como tantas outras construções de Saint Augustine, as paredes são feitas de coquina, uma rocha compactada feita de conchas e fósseis que acaba sendo a cara da cidade. O forte é mais um com um visual lindo para o rio, mas nada se compara à vista do topo do Farol de Saint Augustine, esse mais perto da praia do que do centro histórico.

Farol de St Augustine: 219 degraus levam ao topo, para uma vista panorâmica Imagem: Visit Florida/The Rodriguez Group

Você deve ir preparado para subir 219 degraus até o topo do farol de 1874, construído no lugar do original de 1565. Como os americanos sabem fazer turismo, nem dá para sentir a subida: a cada andar eles incluíram placas divertidas com curiosidades sobre o farol.

Do alto, ao ar livre, enfim você vai entender (e, principalmente admirar) toda a geografia de Saint Augustine: a cidade mais antiga dos Estados Unidos continental, construída entre o rio e o mar, entre florestas protegidas e dunas, que se tornou um pedaço tão especial dos Estados Unidos.

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