Brasileiros apostam em intercâmbio após os 50 anos: 'A gente rejuvenesce'
Aos 61 anos e avó de 4 netos, Claudia Sabbag resolveu sacudir a vida e descobrir como é estudar, trabalhar e morar fora do país em 2023.
Claudia e o marido, Luiz Carlos Bulhões Lima, de 59 anos, ambos aposentados — e casados há 35 anos —, matricularam-se em um intercâmbio de quase um ano em Vancouver, no Canadá.
O casal faz parte de um grupo de brasileiros que, com a vida estável, muitas vezes os com filhos já criados, agora quer realizar o sonho de aprender um novo idioma, morar e até trabalhar em outros países.
Muita gente não acreditava quando dissemos os planos. Abrimos mão de uma vida mais confortável para arriscar, Não acumulamos bens, mas experiências
Claudia Sabbag
E ela resolveu não só estudar inglês como também matriculou-se em um curso profissionalizante de business, em Vancouver, que prevê, em sua grade de estudos, trabalho remunerado de quase 5 meses, dos 9 de aulas.
Os cursos escolhidos pelo casal são da Selc Language e College, grupos escolares de idiomas e cursos profissionalizantes para estrangeiros em Vancouver, no Canadá.
"É a primeira vez que viajamos para estudar e morar fora. Nossos quatro filhos já tinham saído do país, e, apesar de termos feito outras viagens, sentíamos falta do inglês fluente", completa Luiz.
Nas escolas, além da unidade que ensina idiomas a estrangeiros, no College são mais de 15 cursos, desde enfermaria, que valida a profissão para trabalhar no Canadá, ao de marketing digital, business, entre outros, que podem durar de 6 meses a dois anos.
Como parte do programa de estudos, Claudia vai trabalhar por 4 meses em atendimento ao público e aspira entrar para uma rede de supermercado, algo completamente diferente da profissão que exercia no Brasil, como professora de ioga.
"Não existe ser velho demais. Pelo contrário, ao aprender um idioma novo e viver coisas diferentes, você também rejuvenesce", ressalta Luiz, que já planeja mais viagens e cursos para o futuro.
O brasileiro Vicente Moreira também conseguiu realizar o sonho do intercâmbio só aos 54 anos. Ele chegou ao Canadá sem nenhum conhecimento no inglês e também enfrentou a barreira de críticos.
Muitos me perguntavam o porquê de eu querer aprender agora, com essa idade. Quero falar inglês bem, para conseguir me comunicar em viagens
Vicente Moreira
Após três meses, Vicente terminou o estudo com boa comunicação no idioma. "Teve ainda quem afirmou que eu gasto demais com isso, mas prefiro gastar com viagem e idiomas do que investir em carro ou imóvel", finaliza.
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Quero receberDe acordo com Neila Chammas, diretora financeira da Belta, associação sem fins lucrativos de agências de intercâmbio, a procura por pessoas de mais de 50 anos aumentou muito de 10 anos para cá.
"Além de passear e conhecer outra cultura, o intercâmbio ajuda a desenvolver o estudo, que só faz bem à cabeça. Conheci uma senhora de quase 90 anos que foi estudar inglês em Malta", conta.
Canadá, o queridinho
O Canadá está em primeiro lugar na procura por brasileiros que querem estudar fora, seguido pelos Estados Unidos e Reino Unido, como aponta a pesquisa da Belta em 2022.
Mas por que o Canadá? Além de ser um destino cheio de paisagens diferentes para explorar, o país é sinônimo de excelência nas escolas, de segurança, permite que estudantes trabalhem de forma legal e tem voo direto do Brasil. Para quem passou dos 50, é interessante saber que, nas escolas canadenses, não se separa alunos por idade.
Na sala, pessoas de 18 anos estudam ao lado de quem tem mais de 60, contanto que estejam no mesmo nível do idioma, descoberto em um teste feito no primeiro dia de aula.
Para chegar a qualquer cidade do país, como Vancouver, o brasileiro conta com voos diretos diários pela Air Canada, na rota de São Paulo a Toronto, além de voos de São Paulo a Montreal. Desses destinos, é possível se conectar a qualquer outro no país, sem ter que retirar a mala no meio do caminho.
De olho no público 40+, a companhia aérea analisa ainda a possibilidade de conseguir melhores condições para esse público estudar no país. "Notamos o aumento do interesse de pessoas com mais de 40 anos em estudar fora e avaliarmos a possibilidade de oferecer uma tarifa de especial de estudante a esse público", acrescenta Giancarlo Takegawa, diretor geral da Air Canada no Brasil.
E, por fim, outro atrativo bastante forte para o estudante é a possibilidade do trabalho legal. O Canadá permite que estudantes trabalhem, mas para isso, é preciso estar com o visto correto.
"Para o visto de estudante que vai trabalhar devemos apresentar uma carta oficial de aceitação da escola que receberá o aluno", conta Carolina Gonzales, consultora de imigração da Northwest Imigration.
Ela acrescenta ainda que, se o estudante ficar até 6 meses no Canadá sem trabalhar, o visto de turista basta. Quem tem visto americano, pode ainda tirar somente o ETA (electronic travel authorization) bem mais barato e feito pela internet.
Como escolher
Na hora de escolher o intercâmbio, a primeira coisa é procurar uma agência séria, que desenhe o programa de acordo com os interesses do aluno. No site da Belta há uma lista de agências que levam o selo Belta de qualidade, e o estudante pode começar por aí.
"O papel da agência é entender a necessidade do cliente, achar a melhor opção de acordo com o perfil e ter o cuidado de personalizar. Dentro do selo Belta estão agências que prezam pela qualidade e que acompanham o aluno até voltar para casa", reforça Neila Chammas.
Ela lembra ainda que uma boa agência, que vendeu a viagem completa, é responsável pela viagem como um todo e pode ajudar a resolver qualquer problema que o aluno tiver fora do país.
A escolha do destino deve considerar a receptividade de brasileiros naquele local, o custo de vida e até a estação do ano, com clima ideal para sua viagem.
"Há quem busque ainda turmas específicas para pessoas acima de 50 anos, onde as idades não se misturam, o que temos na França, Itália, Malta e outros países. Nesse tipo de turma, os assuntos levantados em sala, bem como as atividades fora dela, são todos desenhados para adultos nessa faixa etária", completa.
O estudante também pode fazer outros cursos, que não só idiomas. "Muitos ficam surpresos com a variedade, especialmente para quem já domina o idioma, como gastronomia, fotografia, ioga, entre outros", finaliza.
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