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Brasileira e seu cão Juliano viajam de bike até o extremo sul da Argentina

Marcel Vincenti

Colaboração para Nossa

27/02/2024 04h05

A viajante Gabrielle Silva Santos tem um amor longevo em sua vida: sua bicicleta. Ela diz que acredita que aprendeu a pedalar antes mesmo de andar e quase sempre se locomoveu pedalando, a trabalho ou a passeio.

Quando tinha 13 anos, ela viu passar por Borda da Mata (MG), a cidade natal de sua mãe, um homem que estava realizando uma extensa viagem sobre uma magrela. "Foi o primeiro cicloviajante que vi na vida. E aquilo foi uma inspiração para mim. Me fez querer ter aquele mesmo estilo de vida um dia", conta ela.

Quase 15 anos depois, Gabrielle conseguiu realizar esse sonho e se tornou uma grande cicloviajante. Em março de 2023, montou em uma bicicleta e partiu, desde São Paulo, rumo ao extremo sul da Argentina, em um roteiro de milhares de quilômetros que ainda está percorrendo.

Duas rodas e quatro patas

Imagem: Arquivo pessoal

Gabrielle não pegou o asfalto sozinha, levou na garupa seu cachorro Juliano, um parceiro que está compartilhando com ela todos os incríveis momentos dessa jornada.

Imagem: Arquivo pessoal

"A bicicleta é a nossa casa. Enquanto pedalo pelas estradas, o Juliano fica em uma cesta que coloquei na bike. E também levo uma barraca de camping e equipamentos de cozinha, como panela e talheres."

A brasileira dorme em qualquer lugar que considera seguro. Ela e seu cão já passaram a noite em áreas de camping no meio de muita natureza, estacionamentos de postos de combustíveis e acampados em praças de pequenas e pacatas cidades.

Eles também têm feito muitos novos amigos durante o trajeto e algumas vezes essas pessoas os convidam para dormir em suas casas.

A gente recebe muito apoio. Há gente que nos convida para comer, nos oferece estrutura para tomar banho e nos chama para dormir em segurança dentro de suas próprias casas. São pessoas aleatórias que, de repente, se transformam em nossa família. E sempre é melhor quando dá para dormir em locais mais confortáveis do que a barraca.

Brasil e Argentina

Imagem: Arquivo pessoal

Em seu roteiro, Gabrielle e Juliano estão indo rumo a Ushuaia, cidade situada no extremo sul da Argentina e que, por sua localização remota, é chamada de 'o fim do mundo'.

"Ushuaia é só uma direção para nós, não é a meta final da jornada. Nossos planos e rota podem mudar a qualquer momento. Esse é um dos benefícios de morar na estrada", diz ela.

Desde o começo da viagem, no ano passado, ela pedalou pelos estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Em seguida entrou na Argentina —nesse momento, a dupla se encontra na província de Río Negro, em plena Patagônia.

Com tantos quilômetros rodados, Gabrielle e Juliano já estiveram em muitos lugares fascinantes. "Amei a beleza de Florianópolis e foi marcante sentir que eu estava entrando em um novo país quando ingressamos na Argentina. Estava ansiosa para atingir esse momento da jornada."

Imagem: Arquivo pessoal

Uma das experiências mais marcantes da aventura, porém, aconteceu ainda no Brasil.

Ao cruzar o Sul do Brasil, passamos um bom tempo sem ver praia. Quando chegamos ao litoral de Santa Catarina, o Juliano ficou maluco quando viu o mar e a areia. Ele ficou 20 minutos correndo na praia atrás dos pássaros, em estado de pura felicidade. Fiquei muito contente em ver que ele está curtindo a viagem tanto quanto eu.

Mais de 100 km por dia

Gabrielle não estabelece metas para distâncias que devem ser percorridas diariamente. Ela conta que já chegou a pedalar mais de 100 quilômetros por dia. "Mas também houve uma ocasião em que fiz apenas quatro quilômetros, porque estava muito cansada. Para mim, o importante é sempre estar pedalando, mas sem pressa ou pressão. É assim que as coisas dão certo."

É um desafio, logicamente, encarar uma viagem tão longa sobre uma bicicleta. Mas Gabrielle conta que, até o momento, não passou por grandes apuros.

Imagem: Arquivo pessoal

"Muita gente acha que uma viagem assim será cheia de perrengues. Mas, para mim, perrengue só tem a ver com problemas de saúde ou segurança. E, até o momento, nunca vivi nenhum desses dois problemas", diz.

No começo da viagem ela conta que o Juliano ficou um pouco doente, mas se curou rápido. "Nós dois somos muito saudáveis. Às vezes, algo da bicicleta quebra e me dá um pouco de dor de cabeça. Mas esse tipo de percalço não é algo que tira minha paz."

A brasileira, no entanto, admite que ficou abalada com o caso da venezuelana Julieta Hernández, assassinada enquanto viajava sozinha de bicicleta pelo Brasil no final de 2023.

Não foi uma situação que vitimou apenas uma ciclista. Foi, acima de tudo, uma situação que vitimou uma mulher e isso mexeu comigo porque tínhamos muito em comum. Mas não pensei em desistir da minha viagem. Nós, mulheres, temos que continuar na luta para poder viver com felicidade e liberdade. Não podemos nos esconder. E não podemos parar.

Gabriella afirma, que após a Argentina, quer conhecer o mundo inteiro. "Tenho vontade de ir para Índia e fazer o Caminho de Santiago. Tudo pode acontecer no futuro."

Você pode acompanhar a viagem de Gabrielle e Juliano pelo perfil dela no Instagram.

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