Famoso hotel mal-assombrado nos EUA que inspirou série é colocado à venda
O famoso Cecil Hotel, onde ao menos 16 pessoas morreram em condições brutais que inspiraram a série "American Horror Story: Hotel" e um documentário da Netflix, foi colocado à venda. O valor não será divulgado para a imprensa, informou o site imobiliário The Real Deal.
Considerado "mal-assombrado", o prédio de 15 andares no número 640 da South Main Street, no centro de Los Angeles, havia reaberto suas portas ao público em dezembro de 2021 após quatro anos fechado.
Nesta última empreitada, o edifício se tornou moradia popular para habitantes de baixa renda, após um subsídio de US$ 45 milhões da câmara municipal. No entanto, apenas 60% dos seus 601 apartamentos conseguiram ser alugados.
Ninguém quer o hotel 'amaldiçoado'?
De acordo com o jornal The New York Post, a firma nova-iorquina Simon Baron Development é quem tenta vender os direitos sobre o terreno que pertence atualmente ao grupo hoteleiro 248 Haynes Hotel Associates, do magnata Richard Born.
Born comprou o Cecil Hotel em 2014. Dois anos depois, estabeleceu um contrato de "ground lease", isto é, concordou em "alugá-lo" para a Simon Baron Develpment, cedendo por altas cifras a chance de construir ou investir no local histórico por um período de 91 anos. E é justamente esta possibilidade que pode ser adquirida agora por uma nova empreiteira ou grupo imobiliário.
Segundo o The Real Deal, a Simon Baron vinha sendo criticada pela organização sem fins lucrativos Housing is a Human Right, que defende o direito à moradia para todos. Isto porque, mesmo com altos números de moradores de ruas em Los Angeles, o Cecil Hotel permanecia expressivamente desocupado.
Até então, a empresa não esclareceu as razões pelas quais o endereço segue parcialmente vazio, apenas disse que a projeção é de que ele atinja 80% a 90% de ocupação até a metade de 2024.
Por que o Cecil Hotel é tão temido?
Inaugurado em 1924, o Cecil era inicialmente um lugar planejado como destino cheio de glamour para empresários internacionais e turistas: localizado na principal avenida de Los Angeles, tinha espalhado pelos seus 14 andares uma estrutura imponente.
No entanto, com a Grande Depressão, em 1929, ele se viu em dificuldades financeiras. No centro da cidade, tornou-se um reduto fácil de prostitutas, criminosos e dependentes químicos.
A "má sorte" começou dois anos antes, no entanto. Um hóspede suicidou-se no local em 1927. Entre 1931 e 1938, outros três homens tiraram sua própria vida ali. Entre 1938 e 2015, mais oito hóspedes sofreram quedas suspeitas, que não foram confirmadas como acidentais ou intencionais.
Em 1944, uma jovem de 19 anos deu à luz um menino no banheiro. Ela não sabia que estava grávida até então e acreditou que o bebê fosse natimorto, segundo jornais da época. A mãe acabou jogando o bebê vivo pela janela do hotel, que então faleceu. Ela foi internada em um hospital psiquiátrico em seguida.
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Quero receberO famoso caso da Dahlia Negra, o assassinato não resolvido até hoje da atriz Elizabeth Short em 1947, não aconteceu dentro do Cecil Hotel, mas há relatos na mídia e às autoridades americanas de que ela estivesse hospedada ou ainda tivesse frequentado o bar dali quando o crime aconteceu.
Short foi encontrada em um terreno baldio próximo do hotel. Esta versão, relatada pela primeira vez ao jornal Los Angeles Times em 1995, nunca foi totalmente confirmada pela polícia.
Nos anos 1960, outros dois crimes marcaram o Cecil. O primeiro foi o suicídio que se tornou também homicídio: um homem de 27 anos se jogou do prédio e caiu sobre um pedestre de 65 anos, que também morreu.
O segundo foi o brutal homicídio de "Pigeon Goldie" Osgood, uma mulher de 59 anos, querida pela comunidade local por alimentar pombos na praça próxima ao hotel. Ela foi encontrada morta em um dos quartos depois de ter sido estuprada e seu assassino nunca foi encontrado, segundo reportagem do Buzzfeed.
Dois assassinos em série e um desaparecimento
Apesar de todas estas tragédias, o Cecil Hotel é mais conhecido por ter abrigado dois serial killers: Richard Ramirez, o "Night Stalker" que pagava 14 dólares, cerca de R$ 70 hoje, para pernoitar no 14º andar durante o período em que ele aterrorizou Los Angeles, entre 1984 e 1985.
O youtuber Peet Montzingo, que morou por uma temporada nas vizinhanças do Cecil, conta que chegou a visitar o quarto do assassino: número 1419.
Eu definitivamente senti como se estivesse sendo observado, o que foi esquisito. Assim que saí de lá, ouvi este uivo esquisito, do vento. Foi bem assustador. Acho que [no hotel] tem uma mistura de energia ruim, sendo mal-assombrado, e dos eventos infelizes que aconteceram ali."
Peet ainda narrou outras experiências sobrenaturais no hotel, que você pode ler em detalhes aqui.
Já em 1990, o ex-presidiário austríaco e escritor Jack Unterweger se hospedou no Cecil enquanto escrevia uma matéria sobre prostituição para uma revista. Ele matou três garotas de programa durante sua estadia na cidade — e no hotel, segundo o Los Angeles Times. Ele tiraria a própria vida na prisão, na Áustria, em 1994.
Mas foi o caso de Elisa Lam que voltou a catapultar o hotel à (má) fama. Em 2013, a jovem canadense de 21 anos desapareceu dentro do próprio prédio. Ao checar câmeras de segurança, a polícia não encontrava mais do que algumas imagens em que ela aparecia transtornada dentro do elevador, aparentemente tentando se esconder de algo ou alguém.
No entanto, era impossível reconstituir seus passos —o andar em que ela estava hospedada, segundo o documentário "Cena do Crime: Mistério e Morte no Hotel Cecil", não possuía vigilância. Quase um mês e muitas teorias da conspiração depois, seu corpo foi encontrado na caixa d'água na cobertura.
Através de relatos da irmã de Elisa e de posts que ela havia publicado em um blog, a polícia descobriu que ela sofria de uma forma severa de transtorno bipolar, que poderia tê-la levado a um estado alterado de consciência. Nos exames, não foram encontrados sinais de violência ou drogas em seu corpo e sua morte foi considerada acidental.
O interesse do público no caso reacendeu a popularidade do Cecil Hotel como mal-assombrado e amaldiçoado, o que rendeu o apelido de "hotel da morte". Apesar disso, a propriedade se viu mais uma vez em dificuldades que nem mesmo uma breve troca de nome — para Stay on Main — pode conter quando um hóspede caiu novamente do edifício em 2015.
Em 2017, ele foi considerado um marco cultural para a cidade de Los Angeles e, quase ao mesmo tempo, fechou suas portas. Resta saber se, mesmo impassível, ele conseguirá se reerguer.
Procure ajuda
Caso você tenha pensamentos suicidas, procure ajuda especializada como o CVV (www.cvv.org.br) e os Caps (Centros de Atenção Psicossocial) da sua cidade. O CVV funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados) pelo telefone 188, e também atende por e-mail, chat e pessoalmente. São mais de 120 postos de atendimento em todo o Brasil.
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