Azul é o novo preto: o que há por trás da cor que conquistou os políticos
O que a cor de um terno tem a dizer sobre quem o veste? Para muitos, nada. Apenas uma questão de gosto.
Porém, como já diria Miranda Priestly em uma das cenas inesquecíveis de "O Diabo Veste Prada", tentar dizer ao mundo que se leva muito a sério para se importar com o que vai vestir é uma tolice. Na verdade, o que está no seu corpo foi escolhido para você pela indústria da moda.
Dito isso, seguimos direto ao ponto: a Câmara dos Deputados.
Há poucas semanas, quem acompanhou a decisão sobre a prisão preventiva do deputado Chiquinho Brazão, pode ter notado certa prevalência do terno azul na votação entre os políticos.
O que explica essa inclinação? A resposta não é propriamente exata, mas tem suas direções prováveis.
Muitas vezes a gente se veste para parecer outra pessoa, opina Mário Queiroz, designer de moda e doutor em comunicação e semiótica.
A roupa que renova
O terno azul na política brasileira, principalmente em tempos recentes, propõe uma nova leitura da população sobre quem o veste. Desde a posse de Itamar Franco, em 1992, o traje preto predominou nas cerimônias de posse da presidência do Brasil até 2023, com a vitória de Lula. Na ocasião, o então presidente vestiu um terno azul, o que, até então, foi feito apenas por Fernando Collor, em 1990.
Duas décadas depois, a escolha pelo tom primário, pela segunda vez na história, parece estratégica.
"Quando houve uma mudança nos caminhos políticos do país, outras mudanças, mesmo que sutis, também ocorrem", complementa Queiroz.
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A imagem pública é um signo absorvido pela sociedade. Como apontado no artigo "O Azul na História da Moda" (2021), no final do século 12, Luís 6º instituiu o azul como cor componente dos uniformes de seu exército, representando uma forma de homenagem à Virgem Maria, padroeira do Estado.
Desse modo, com a crescente notoriedade na monarquia francesa, o pigmento passou a ser reconhecido como um símbolo da realeza e da magnificência e começou a ser adotado pela aristocracia como um todo. Já Luís 14 adotou a cor para um de seus retratos mais famosos, onde usa manto azul. Logo, nobreza, embora tenha sido adotada como parte do uniforme camponês, na Idade Média na Inglaterra.
O uso dessa cor, fosse em tons escuros ou pastel, no traje masculino passou a ser deixado de lado após a Revolução Industrial. Com a ascensão da classe média, o uso do terno tornou-se um símbolo de status - econômico, social e político. Os tons mais sóbrios então predominavam, resquício da ausência de cores a era republicana e a ascensão de Napoleão ao poder, em 1799.
A uniformização é natural. Todo mundo na mesma cor, como se não houvesse individualidade, contribui Mário.
Preto x azul
O especialista complementa dizendo ainda que o preto foi "estabelecido como uma cor masculina", uma vez que os estudiosos apontavam que a cor é o "luto do homem, o momento em que ele entrega a vaidade para a mulher", em pensamentos ditados à época.
O preto estabelece-se como algo ligado ao poder. O que é mentira. Não há uma unidade a partir dessa pressuposição.
A predominância azul, por sua vez, pode ser interpretada de diversas formas. Em fóruns, há quem diga que a escolha dessa seja a fim de beneficiar-se da iluminação da Câmara. Há ainda a hipótese sobre uma imagem mais branda, ainda que de liderança, para destoar de um período rival.
A escolha, ou favoritismo, do azul é de absorção e entendimento amplos. Em novembro de 2023, na passarela do São Paulo Fashion Week, Luiz Cláudio, da Apartamento 03, apresentou a coleção predominantemente azul anil. Mais especificamente o azul waji, pigmento que dá origem ao índigo.
Com a "Nobre Azul", com Erika Hilton no casting, o estilista brasileiro abre um diálogo sobre a importância de reconhecimento da cor, em referência à história brasileira. Muito anterior à ascensão de Yves Klein.
Por que o azul vem sendo adotado pelos políticos brasileiros? Visibilidade, nobreza e alteridade. Cada um desses em suas devidas proporções e utilidades.
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