Pinot Noir da Argentina é mais barato que da França, mas vale a economia?
De Nossa, em São Paulo
18/05/2024 04h00
A Argentina é sinônimo de malbec, o que é uma bênção e uma maldição para o país. Por um lado, colocou nossos vizinhos no mapa mundial do vinho, levando seus produtos para as prateleiras dos maiores mercados globais. O lado negativo é que as demais uvas plantadas por lá às vezes passam despercebidas.
É sobre essa diversidade de cepas que os jornalistas Vinícius Mesquita e Rodrigo Barradas conversam no "Vamos de Vinho" desta semana.
Uma das uvas com as quais os argentinos têm experimentado é a pinot noir. Símbolo da Borgonha, essa cepa produz por lá alguns dos vinhos mais desejados (e caros) do mundo, como o Romanée-Conti. Os bons exemplares de pinot noir são extremamente complexos, com aromas de frutas silvestres e nuances de cogumelos, chão de floresta e especiarias.
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É uma variedade frágil, de casca fina, suscetível a problemas durante o amadurecimento. Prefere climas mais frios. Como requer muito cuidado, não rende grandes quantidades e não se adapta a qualquer lugar, seus vinhos não costumam ser baratos.
No programa, Rodrigo Barradas se queixa de que o caráter mítico dos vinhos da Borgonha cobra um padrão injusto dos pinots do resto do mundo. "As pessoas estão sempre querendo comparar (os pinots de outras partes do mundo) com a Borgonha. Eu acho que eles têm de ser apreciados nos seus próprios termos", diz.
Vinícius Mesquita acha que os produtores da Argentina nem querem imitar os da França: "O argentino é muito orgulhoso. Ele não espera emular um pinot da Borgonha", diz.
Malbec é o melhor vinho argentino para churrasco?
Uma das variedades que vêm conseguindo se estabelecer entre enófilos além da malbec é a cabernet franc. Uva típica de Bordeaux (onde entra na composição do corte bordalês junto com outras, como a merlot e a cabernet sauvignon) e do Loire (onde normalmente é vinificada sozinha), ela vem tendo ótimos resultados na Argentina, especialmente em áreas mais altas nas proximidades de Mendoza, como o Vale do Uco.
De um bom cabernet franc, esperam-se aromas de frutas vermelhas frescas, como framboesa e morango, temperados com algo de pimentão vermelho, ervas e, às vezes, uma sensação mineral, com bom nível de acidez. Os argentinos costumam ser mais exuberantes que os clássicos do Loire, com maior carga de frutas maduras e taninos um pouco mais elevados.
"Eu gosto mais do que dos malbecs", diz Vinícius Mesquita. "O malbec ganha na intensidade, mas o cabernet franc ganha na complexidade".
Combinar frutas frescas com uma acidez agradável faz da cabernet franc uma parceira versátil para a comida. Rodrigo Barradas conta que gosta de combiná-la com churrasco, em parte porque ela se adapta a todas as carnes que passam pela brasa.
"Se tu tiveres o hábito de fazer, junto com o churrasco, um pimentãozinho na brasa (morrón, como dizem os argentinos e uruguaios), na grelha, isso fica fantástico com um cabernet franc", diz.
Vamos de Vinho:
Apresentado pelos jornalistas Vinícius Mesquita e Rodrigo Barradas, o videocast combina conhecimento especializado e uma abordagem descontraída sobre o vinho. Os episódios são disponibilizados toda quinta, a partir das 19h, no Canal UOL e no Youtube de Nossa. Assista ao episódio "Argentina além da malbec" na íntegra: